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“Eis que eu envio o meu mensageiro adiante de ti, o qual te preparará o caminho diante de ti”.


Explicação do Evangelho do 2º Domingo do Advento.
Por Padre Élcio Murucci – FratresInUnum.com
S. Mat. XI, 2-10
2. Como João, estando no cárcere, tivesse ouvido falar das obras de Cristo, enviou dois de seus discípulos, 3. a dizer-lhe: És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?4. Respondendo Jesus, disse-lhes: ide e contai a João o que ouvistes e vistes: 5. Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, os pobres são evangelizados; 6. e bem-aventurado aquele que não encontrar em mim motivo de escândalo. 7. Tendo eles partido, começou Jesus a falar de João às turbas: Que fostes vós ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? 8. Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Mas os que vestem roupas delicadas vivem nos palácios dos reis. 9. Mas que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e ainda mais do que profeta; 10. Porque este é aquele de quem está escrito: “Eis que eu envio o meu mensageiro adiante de ti, o qual te preparará o caminho diante de ti”.
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
João Batista era o precursor do Messias como fora escrito pelo profeta Isaías: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor” (Is. 40, 3).
john baptist
São João Batista
Malaquias igualmente diz: “Eis que mando o meu mensageiro, o qual preparará o caminho diante da minha face”. E o próprio Jesus confirma no vers. 10 do Evangelho de hoje, que João Batista é este mensageiro predito pelo profeta.
Mas, João Batista fora preso pelo rei Herodes porque censurava em face o adultério e o encesto deste cruel e debochado soberano. Lá do fundo da prisão, o Precursor quer dar um último testemunho de Jesus Cristo. João Batista já havia mostrado Jesus às margens do rio Jordão: “Eis o Cordeiro de Deus”. Dissera também quando Jesus vinha ter com ele: “Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira  o pecado do mundo. Este é aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um homem que me foi preferido, porque era antes de mim, Eu não o conhecia, mas vim batizar em água, para ele ser reconhecido em Israel… Vi o Espírito (Santo) vir do céu em forma de pomba e repousou sobre ele. Eu não o conhecia, mas o que me mandou batizar em água, disse-me: Aquele, sobre quem vires descer e repousar o Espírito , esse é o que batiza no Espírito Santo. Eu o vi e dei testemunho de que ele é o Filho de Deus” (S. João I, 29-34).
Na verdade, os discípulos de João Batista não admitiam que pudesse haver outro Mestre acima dele. Mas o Precursor fazia questão de frisar que ele não era o Messias; foi mandado por Deus apenas para preparar os corações para receberem o Messias. Afirmava que o Salvador já estava no meio deles, e ele não era digno nem de desatar as correias de suas sandálias. Dizia outrossim, que era mister que Jesus crescesse e que ele diminuísse. Em outras palavras: o Batista deixava claro que a sua missão era levar o povo a seguir a Jesus e não a ele.
E assim compreendemos o significado desta atitude de João Batista em relação aos seus discípulos: queria que eles fossem até Jesus e vissem com os próprios olhos os milagres que Jesus fazia e que eram exatamente os que os profetas predisseram que o Messias faria quando viesse ao mundo. Embora um santo extraordinário, a Providência divina não quis que João Batista fizesse milagres.
Os enviados do Batista perguntaram a Jesus: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro? Respondeu-lhes Jesus: “Ide e contai a João  o que ouvistes e vistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, os pobres são evangelizados”.
Lemos em Isaías XXXV, 3-6: “Deus mesmo virá e vos salvará. Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então saltará o coxo como um cervo e desatar-se-á a língua dos mudos”. Em outro lugar diz: “E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas as verão os olhos dos cegos” (Is. XXIX, 18).  Sobre os pobres eis o que diz ainda Isaías: “Não julgará pelo que se manifesta exteriormente à vista, nem condenará somente pelo que ouve dizer; mas julgará os pobres com justiça, tomará com equidade a defesa dos humildes da terra” (Is. XI, 3 e 4). E Davi no Salmo 71, 13: “Usará de clemência com o pobre e o desvalido, e salvará as almas dos pobres”.
Jesus não afirma: Eu sou o Messias. Faz muito mais: isto é, mostra que n’Ele se realizam as profecias sobre o Messias. Na presença dos discípulos de João Batista realiza as obras com que os profetas mostraram antecipadamente o perfil do futuro Messias. Os falsos profetas, os fundadores de religiões novas, Maomé, Lutero, Alan Kardec e muitos outros  afirmaram que eram os enviados de Deus, mas não o provaram com obras.
No versículo 6º Jesus diz: “E bem-aventurado aquele que não se escandalizar de mim!”. O velho Simeão havia predito que Jesus devia ser objeto de contradição por muitos, e esta predição se cumpria já. Jesus era alvo de escândalo por parte dos doutores que invejavam sua influência, pela vulgaridade que emanava de sua pobreza; era objeto de escândalo até por parte dos discípulos mesmos de João Batista que colocavam Jesus bem abaixo de seu mestre. Feliz portanto, exclama Jesus, aquele que não se escandalizar de mim, isto é, bem-aventurado aquele que reconhecer quem Eu sou, feliz quem vir em mim o Messias Redentor, o enviado do Altíssimo, o Filho de Deus!
Caríssimos, aceitemos tudo o que saiu dos lábios divinos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é, pois, o nosso Salvador, é o Filho de Deus vivo! Nos versículos 7-9 Jesus Cristo faz o elogio de João Batista: “Que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Assim, o primeiro elogio que Jesus faz de João Batista é este de sua CONSTÂNCIA. João dera testemunho de Jesus às margens do Rio Jordão; dá-Lhe testemunho do fundo de sua prisão. Ele anuncia a verdade ao povo, aos sacerdotes, aos próprios reis, e com uma força que os faz tremer e empalidecer em seu trono. Portanto, João não é um caniço fraco e movediço à mercê do vento. Não é um destes homens pusilânimes que o temor o abate, que o respeito humano desconcerta e faz vacilar. Não, a prisão, a espada, a morte mesma não  levarão o Batista a trair seu dever. Na crise sem precedente que afeta a Igreja, ai dos Sacerdotes e Bispos que, às expensas da verdade, se preocupam prioritariamente quando não exclusivamente com seus interesses ambicionais ou monetários.
No vers. 8º  Jesus faz um segundo elogio ao Seu Precursor: “Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Mas os que vestem roupas delicadas vivem nos palácios dos reis”. Caríssimos, a PENITÊNCIA é uma das grades virtudes do cristianismo, uma virtude essencial, indispensável. Sem ela, a salvação eterna torna-se impossível. Portanto, quem quiser seguir a Jesus Cristo deve renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz. João Batista que fora enviado por Deus para mostrar aos homens Jesus penitente, devia evidentemente apresentar em si mesmo antes de tudo os caracteres da penitência: habita os desertos, não tem por vestimenta senão peles de camelo presa por uma correia de couro; por alimento senão gafanhotos e mel silvestre. Nosso Senhor Jesus Cristo que quer inculcar no povo o amor da penitência, quis enfatizar cuidadosamente a prática da penitência em Seu santo Precursor.
Caríssimos, nestes tempos de moleza, de luxo e sensualidade, quão necessária se nos torna esta lembrança de Jesus e de Seu Precursor! Não somente nos palácios dos reis encontramos hoje aqueles que se vestem molemente, suntuosamente, sensualmente e imodestamente! Estes estão em total oposição à doutrina e aos exemplos do divino Mestre. No entanto, encontramos tais pessoas em toda parte, em todas as condições sociais, e, dizemos com tristeza, muitas vezes até nas casas paroquiais e episcopais. Talvez muitos sejam aqueles mesmos que, escandalizados criticam a suntuosidade na Casa de Deus.
No vers. 9º e 10º lemos o terceiro elogio: “Mas que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e ainda mais do que um profeta. Porque este é aquele de quem está escrito: “Eis que eu envio o meu mensageiro adiante de ti, o qual te preparará o caminho diante de ti”.  Na
verdade, os profetas não haviam feito senão anunciar o Salvador; João O mostra: “Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo”. Não é, portanto, somente profeta, ele é também apóstolo. Não somente prediz o Messias, ele O prega, O mostra à multidão, ganha para Ele numerosos discípulos. É outrossim, além de profeta e apóstolo, testemunha de Jesus também pelo sangue, ou seja, é mártir. Por ter dado testemunho da verdade, e por conseguinte, de Deus, que é a Verdade por essência, é que ele incorreu na cólera de Herodes, que é metido na prisão e que teve a cabeça cortada. E é por isso que Jesus disse que João era o maior dos filhos dos homens. Que santo da Antiga Lei, pois, reuniu tantos títulos, e mostrou em sua pessoa tão altas virtudes?
Caríssimos, que glória para João Batista receber dos lábios do Juiz Supremo e já aqui na terra, isto é, antes mesmo do Juízo Final, elogios tão altos! É que Jesus não se deixa vencer em generosidade. Estes elogios são, na verdade, a recompensa pelo desvelo, pelo zelo e pelo desinteresse perfeito com os quais João Lhe havia, por primeiro, dado testemunho.
Se quisermos, irmãos caríssimos, obter um dia esta mesma recompensa, isto é, que Jesus nos confesse, em seu dia supremo, diante do Pai, dos Anjos e dos homens, então, confessemo-Lo agora à exemplo de João Batista, confessemo-Lo por palavras, confessemo-Lo por obras, confessemo-Lo sem temor, sem respeito humano, com perigo de nossa vida, se necessário for. Não temos outra missão sobre a terra senão esta de servir de testemunha de Jesus Cristo e da verdade. É para isto que Deus nos colocou na terra. De cada um de nós é verdade dizer: “Este veio como testemunha, para dar testemunho da Luz”. A cada um de nós Jesus Cristo diz, como dizia aos seus apóstolos: “Sereis minhas testemunhas”. Devemos dar testemunho firme e impávido da doutrina e da pureza da moral de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só assim, mereceremos no Juízo Universal, ouvir dos lábios divinos do Juiz Supremo aquelas palavras que nos farão felizes para todo sempre: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino de Deus, que vos foi preparado desde o início do mundo”. Amém!
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