Pular para o conteúdo principal

REMORSO DO CONDENADO: EU ME CONDENEI POR UM NADA


Gustans gustavi paululum mellis, et ecce morior — “Tomei um pouco de mel, e por isso morro” (I Reg. 14, 43).

Sumário. A consciência roerá o coração dos réprobos por muitos remorsos; mas um dos que mais o atormentarão, será a lembrança de que se perdeu por um nada. Oh! que rugidos soltará o condenado, pensando que por algumas satisfações momentâneas e envenenadas renunciou a um reino de eterna felicidade e está condenado a arder para sempre naqueles abismos!… Meu irmão, reflete bem que também hás de sentir um dia o mesmo desespero, se não te aproveitares agora da divina misericórdia, e lembra-te mais uma vez de que para te assegurar a eternidade nenhuma providência é demasiada.
**************************
A consciência roerá o coração dos réprobos por grande número de remorsos; mas um dos que mais os atormentarão será o pensar no nada das coisas porque se condenaram. Quando Esaú tinha comido o prato das lentilhas, pelas quais vendeu o direito de primogenitura, diz a Escritura que pela dor e mágoa da perda se pôs a rugir.Irrugiit clamore magno (1). Mas, oh! Que uivos e rugidos mais horrorosos não soltará o réprobo, pensando que por umas satisfações fugitivas e envenenadas perdeu um reino de eterno gozo, e que está reduzido a ver-se eternamente condenado a uma morte contínua! Chorará mais amarguradamente do que Jonathas, quando se viu condenado à morte por Saul, seu pai, por ter tomado um pouco de mel:Tomei um pouco de mel, e por isso morro.
Ó céus! que pena sofrerá o condenado, considerando então a causa da sua condenação! Presentemente, o que é a nossos olhos a vida já passada, senão um sonho, um instante? Que hão de parecer pois a quem está no inferno, esses cinqüenta ou sessenta anos de vida passados na terra, quando se vir no oceano da eternidade, na qual passará cem e mil milhões de anos e de séculos e sempre verá que a eternidade está ainda no seu começo?
Mas, que digo! Cinqüenta anos de vida! Serão porventura cinqüenta anos de gozo? Gozará porventura o pecador, vivendo longe de Deus, doçuras contínuas em sua vida pecaminosa? Quanto tempo duram esses prazeres do pecado? Uns instantes apenas, e todo o resto de tempo é, para o que vive na desgraça de Deus, um tempo de mágoas e pesares. Que serão, portanto, esses curtos momentos de prazer, aos olhos do infeliz réprobo? E especialmente, como se lhe afigurará então aquele último pecado pelo qual se perdeu?
Portanto — assim dirá de si para si, — por uma miserável satisfação, que durou apenas um instante, e apenas gozada se dissipou como o vento, estou condenado a arder neste fogo, sem esperança e abandonado de todos, enquanto Deus for Deus, durante toda a eternidade!
Que favor não seria para o réprobo, se Deus lhe concedesse mais um ano ou mês de vida, para reparar o mal praticado e aplacar os remorsos que de contínuo o atormentam? Ora, meu irmão, esse tempo é a ti que Deus o concede, e então em que o quererás empregar? Pensa que se trata da eternidade, e que, na palavra de São Bernardo, nenhuma providência é demasiada para a pores ao abrigo dos perigos: Nulla nimia securitas, ubi periclitatur aeternitas.
Iluminai-me, Senhor, e fazei-me conhecer a injustiça que cometi ofendendo-Vos e o castigo que mereci. Meu Deus, sinto grande mágoa por Vos haver ofendido; mas esta mágoa me consola. Se me tivésseis enviado ao inferno, como merecia, o inferno do meu inferno seria o remorso de pensar que me perdi por tão pouca coisa. Mas, agora este remorso me consola, porque me anima a esperar o perdão que prometestes ao que se arrepende. Sim, meu Senhor, arrependo-me de Vos haver ultrajado; abraço a mágoa que sinto e peço-Vos que m’a aumenteis e conserveis até à morte, afim de que eu chore sempre amargamente os desgostos que Vos dei.
Perdoai-me, meu Jesus! Ó meu Redentor, que, para ter piedade de mim, não tivestes piedade de Vós mesmo, condenando-Vos a morrer de dor: suplico-Vos que me livreis do inferno onde não mais Vos poderia amar. Fazei que a mágoa de Vos ter ofendido sustente em mim uma dor contínua e ao mesmo tempo me abrase todo em amor por Vós, que me haveis amado tanto, me haveis suportado com tão grande paciência, e, em vez de me castigar, me enriqueceis de luzes e graças. Graças Vos dou, ó meu Jesus e amo-Vos mais que a mim mesmo, amo-Vos de todo o coração. — Não sabeis desprezar o que Vos ama. Amo-Vos; não me repilais de vossa presença. Recebei-me em vossa amizade e não permitais que Vos torne a perder. — Maria, minha Mãe, aceitai-me por vosso servo e prendei-me a Jesus, vosso Filho. Suplicai-lhe que me perdoe, que me dê o seu amor e a graça da perseverança até à morte. (II 128.)
  1. Gen. 27, 34.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II – Santo Afonso

http://catolicosribeiraopreto.com/remorso-do-condenado-eu-me-condenei-por-um-nada/#more-10251

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A mitra dos bispos e papas e o simbolismo pagão RECEBEMOS DO LEITOR que se identifica com o nome "Emerson" a pergunta que reproduzimos abaixo, seguida de nossa resposta: “ (...) uma coisa me deixou muito em dúvida. Vi um desses vídeos onde acusam a igreja católica de adorar o Deus Mitra e até distorceram uma explicação de um padre sobre o natal para comprovar o culto ao Deus mitra. Até ai tudo bem estava me divertindo com as heresias ai então o autor falou que presta serviço a várias instituições catolicas e que a razão social da maioria começa com mitra e o nome da instituição comprovando o culto ao tal deus sol. Fiz uma rápida busca e realmente percebi que varias dioceses tem o mitra antes do nome e também percebi o termo mitra diocesana. Sei que mitra é o chapel cônico que os bispos e o papa usa. Gostaria de saber qual o verdadeiro significado do termo mitra para igreja e se tem alguma ligação com o deus pagão e porque o nome aparece na frente do nome das diocese

A ignorância invencível e a salvação

Sem Roma, totalmente frustada por ver a FSSPX caminhando em direção à Barca de Pedro, não mais pode apoiar-se na mesma para justificar seu "apostolado". Aliás, agora são Sem Roma & FSSPX. Em uma tentativa vã que só convenceu os organizadores da idéia, quiseram mostrar uma suposta contradição em uma frase do Pe Paulo Ricardo com o ensino católico no folder acima. Iremos mostrar, nesse artigo, que as palavras do Reverendíssimo padre, que tanto bem faz a Igreja no Brasil na formação sólida tradicional entre leigos e seminaristas, estão em perfeita harmonia com o que o Magistério sempre ensinou. Obviamente que o Padre Paulo fala dos que estão em ignorância invencível. Ora, se diz que eles têm em mente um simulacro, um boneco, ao invés da Igreja Católica, é claro que faz referência aos que não pecam mortalmente por isso. O que ele falou sempre foi consenso entre os teólogos. O grande teólogo Penido diz o seguinte sobre isso:  “Melhor seria cognominá-los cristãos di

Quaresma: Catecismo Maior de São Pio X

A Igreja, no início da Quaresma, costumava fazer a imposição das sagradas cinzas, para recordar-nos de que somos feitos de pó, e com a morte, reduzimo-nos novamente ao pó, e assim nos humilhemos e façamos penitência por nossos pecados, enquanto temos tempo 37.   Que é a Quaresma? A Quaresma é um tempo de jejum e penitência instituída pela Igreja por tradição apostólica. 38.   A que fim foi instituída a Quaresma? A Quaresma foi instituída: 1º para dar-nos a entender que temos a obrigação de fazer penitência durante todo o tempo da nossa vida, da qual, de acordo com os santos Padres, a Quaresma é figura; 2º para imitar de alguma maneira o rigoroso jejum de quarenta dias que Jesus Cristo praticou no deserto; 3º para prepararmo-nos, por meio da penitência, em celebrar santamente a Páscoa. 39.   Por que o primeiro dia da Quaresma é chamado de quarta-feira de cinzas? O primeiro dia da Quaresma é chamado de quarta-feira de cinzas porque nesse dia a Igreja impõe sobre