O Catecismo da Igreja Católica apresenta a Liturgia como Celebração do
mistério cristão, celebração do mistério pascal. Coloca, portanto, a Liturgia na
dimensão da celebração. Assim, para compreendermos bem o que é a Liturgia
cristã e vivê-la sempre mais intensamente, convém refletir sobre o que
é celebração e os elementos que constituem uma celebração.
Em consequência
dessa compreensão, segue uma palavra sobre a celebração cristã, a Sagrada
Liturgia.
1. O que é celebração
Celebrar é tornar célebre. Tornar célebre é tornar famoso, conhecido, é tornar
presente. O que torna uma pessoa célebre, famosa, são as suas obras, os seus
feitos. Para reconhecer a celebridade de uma pessoa, procura-se lembrar o que
ela foi e o que ele fez; lembram-se, narram-se suas obras. Esta narração das
obras torna a pessoa novamente presente.
2. Os elementos de uma celebração
Tomemos como exemplo a celebração do primeiro aninho de uma criança numa
festa em família. Analisemos os vários elementos da celebração.
O fato valorizado: - O primeiro elemento para a celebração ou comemoração é o
fato de a criança ter nascido. Este fato deve ser um fato valorizado, caso
contrário, não se celebra, mas procura-se esquecer. Este fato pode ser chamado
também de páscoa, uma passagem.
A expressão significativa do fato ou o rito: – Para lembrar o fato valorizado, a
comunidade reunida o expressa através de uma linguagem simbólica. É o rito. No
caso do primeiro aniversário da criança, temos antes de tudo, as pessoas
presentes que valorizam o fato, a vida da criança; depois, a sala, a mesa, o bolo, a
velinha acesa, o canto de parabéns.
Mas fazer memória, celebrar é uma ação. Tudo preparado, a criança à mesa
diante do bolo, os presentes cantam os parabéns, a criança apaga a velinha, pois
ela é a luz que ilumina a todos, corta-se o bolo, partilha-se o bolo, símbolo de
vida, de felicidade, de partilha, de solidariedade. É a festa da vida que veio à luz e
perdura já um ano.
A intercomunhão solidária ou o mistério vivido: - O que realmente importa em
toda a celebração é o invisível, o sentido que aparece por detrás da ação simbólica
ou do ritual: a intercomunhão solidária, a comunhão de todos em solidariedade
com a criança. Esta realidade contida e revelada através do rito simbólico da vida
da criança podemos chamá-la de mistério.
Em toda celebração temos, portanto, o fato valorizado ou a páscoa-fato, e
expressão significativa do fato valorizado, o rito, e a vivência do mistério ou a
intercomunhão solidária.
3. A celebração cristã
Na celebração cristã ou na Liturgia, o fato valorizado ou a páscoa-fato é o
mistério pascal de Cristo, centrado na sua Paixão, Morte e Ressurreição. Em
outras palavras é a Obra da Salvação em Cristo Jesus, desde o mistério da
Encarnação até o seu retorno glorioso.
A expressão significativa ou o rito são as diversas celebrações da Igreja que
comemoram a Páscoa de Cristo e dos cristãos, o mistério pascal, como os
sacramentos, no centro a Eucaristia, o Ano Litúrgico, a Liturgia das Horas, o
Domingo, a festa pascal semanal.
A intercomunhão solidária ou o mistério é aquela comunhão de amor e de vida
entre Deus e o homem, que acontece na ação comemorativa da Obra da Salvação
de Cristo, que assim se torna atual e presente na vida da Igreja e da humanidade.
É Cristo que continua a encarnar-se, a morrer e ressuscitar-nos que nele creem e
o acolhem como Senhor e Salvador da humanidade. Eis a celebração cristã, eis a
liturgia, à luz do conceito de celebração.
Frei Alberto Beckhäuser, OFM
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