“Ora
et labora – Reza e trabalha!” Era esta a divisa usada por uma
antiga Ordem. Quanto mais fielmente os membros daquela Ordem se
apegavam a esta divisa, tanto melhor se tornava para a sua virtude e
perfeição, para a sua alegria e felicidade, para o bom êxito e
prosperidade de seu trabalho. Mas, isto que com proveito se aplica
aos habitantes do claustro, tem também a sua repercussão para as
pessoas do mundo, e para estas, talvez, com mais vantagens do que
para as primeiras. Como já incuti em teu coração o amor à oração,
quero agora recomendar-te o trabalho.
1º-
Trabalha com fidelidade e diligência; pois o trabalho é um dever.
Já
no paraíso o homem devia trabalhar, segundo a vontade de Deus. Está
escrito no Gênesis (2,15): Deus, o Senhor, tomou o homem e o colocou
no paraíso, para que ele o cultivasse. Aliás, o trabalho, era para
o homem uma distração doce e suave. Depois da queda, Deus renovou a
ordem, o preceito do trabalho. Dirigindo-se a Adão, que representava
toda a humanidade, disse: Comerás o pão no suor da tua face, até
que tornes a terra, donde foste tirado. (Gênesis 3, 19). Homem algum
está isento da lei do trabalho, nem o rico, nem pobre, nem o rei,
nem a mocidade (esta principalmente) que é a primavera da vida, o
tempo da semeadura.
Na
mocidade é que se deve preparar a terra, para que há seu tempo, se
logre colher, com abundância: a mocidade é a quadra em que se deve
cuidar da árvore, para que mais tarde não produza frutos amargos,
insípidos e envenenados. Na mocidade é que se hão de aprender os
meios de ganhar a vida e sustentar-se na idade futura. Se a mocidade
transcorre-se na vadiagem, então está perdida, e esta perda é, na
maioria dos casos irreparável, irremediável. De modo que,
justamente para ti, na tua mocidade, a obrigação de trabalhar é
muito séria e importante, e deverás cumpri-la conscienciosamente.
Trabalha
com fidelidade e diligência, pois o trabalho é uma honra. Não é
de fato uma honra o tornar-se semelhante ao divino Salvador,
trabalhar, como Ele o fez? Como Jesus trabalhava com diligência e
boa vontade! Na oficina de Nazaré, no decorrer de muitos anos, dia a
dia, o suor Lhe gotejou de face, quando com a enxó na mão,
desbastava a madeira.
Aquelas
gotas de suor do Divino Salvador restituíram honra e dignidade ao
trabalho corporal, que no tempo do paganismo era tão desprezado e,
por isso confiado somente aos escravos. Mais tarde, na vida pública,
como não trabalhou o Senhor, fielmente! Com que zelo entregou-Se à
pregação do Seu santo Evangelho! Com que amor afadigou-Se pelos
pecadores! Os raios dardejantes do sol, Ele esperava, junto ao poço
de Jacó, a Samaritana pecadora, para a converter. Nas horas mais
avançadas, exausto do trabalho pesado, ainda instruía o povo. Ao
Salvador te assemelharás, se trabalhares física ou
intelectualmente, com ardor e esforço, o que será para ti uma
honra.
Não
será ainda uma honra para ti, se por meio dos favores que fazes a
outrem, te tornares útil e serviçal? O levar a efeito alguma
iniciativa, o proporcionar aos demais os meios e o caminho para a sua
felicidade, sobretudo ser útil e obsequiosa para com os outros,
equivale mais ou menos a tomar parte na atividade criadora,
conservadora e providente de Deus infinito. Isto é grande e belo e
sumamente honroso, mil vezes mais do que viver, indolentemente, à
custa do que os outros acumularam e realizaram.
Eis
porque um operário de face tostada pelo sol e mãos calejadas,
merece muito mais estima e veneração do que o preguiçoso e vadio,
que não quer trabalhar e que tão só ao gozo aplica seus
sentimentos e esforços. Das retalhadas mãos do trabalhador brotam
bênçãos, enquanto que a vida do ocioso folgazão vem a ser,
apenas, desdita para a humanidade. Razão tem, portanto, o poeta
W.Weber, quando diz: “Der beste Orden, den ich weiss, ist eine Hand
voll Schwellen – o melhor ornato que eu conheço, é a mão cheia
de calos.”
Trabalha
com fidelidade e afinco, pois o trabalho é finalmente uma bênção.
O
trabalho assíduo far-te-á progredir na vida. Quem é que progride?
Não é o que é capaz e habilitado? o que aprendeu alguma coisa? o
que, extremamente ativo, de manhã até a noite, se dá com prazer ao
trabalho? o que se entrega, de corpo e alma e com grande escrúpulo,
aos deveres do próprio estado? O vadio, o preguiçoso, nunca chegará
a um ramo verde, como costumam dizer os alemães, e que se aplica
principalmente aos nossos dias, quando, em todos os setores da vida,
reina uma enorme concorrência, e os indolentes são postos à
margem.
2º-
O trabalho diligente enobrece e aperfeiçoa o teu caráter.
Queres
trabalhar constantemente de acordo com a tua consciência e atender
sempre de modo fiel às exigências muitas vezes sérias e graves, de
tuas obrigações? Deverás, então, renunciar a ti mesma e combater,
resolutamente, a tendência inata para a indolência e comodismo.
Esta abnegação, de ti própria, comunicará ao teu caráter, força
e energia, tornando-o equilibrado.
O
trabalho diligente dar-te-á íntima alegria e felicidade. De fato.
Quando é que estás mais contente contigo mesma? Não é naquela
tarde que podes dizer a ti mesma que nada negligenciaste ao teu
dever? Com razão exclama o provérbio alemão: Arbeitmacht das Leben
suss – O trabalho faz doce a vida. É o que também a sagrada
Escritura confirma: “A vida do homem laborioso, que se contenta com
o que tem, será doce e suave, e tu nela encontrarás um tesouro.”
(Ecli., 40,18)
O
trabalho diligente é de grande utilidade para a conquista da
virtude. Diz o Espírito Santo: “A ociosidade ensina muita coisa
má”. A esta máxima combina perfeitamente o provérbio alemão:
“Mussigang ist aller aster Anfang” – A indolência é o começo
de todos os males. Quantos pensamentos desatinados e pecaminosos não
se mantêm longe de nós, enquanto nos ocupamos séria e utilmente
nalguma coisa! Quantas ocasiões más e quantos perigos de pecado não
removemos, quando, com grande alegria, cumprimos as obrigações do
nosso estado! Assim, será mais fácil permanecermos bons e
virtuosos, se formos amigos do trabalho sério e esforçado. A água
que corre apressada e ativa sobre os rochedos duros e ásperos,
permanece límpida e clara, fresca e pura; aquela, porém, que
repousa preguiçosa, corrompe-se e oculta, em si, toda sorte de
animais feios e imundos.
O
trabalho diligente torna-te útil à sociedade. Já o bom exemplo da
tua diligência e amor ao trabalho será útil aos demais,
principalmente aos de classe obscura. Vendo estes que também os
ricos e distintos trabalham, que empregam o seu tempo a seu trabalho
no serviço dos pobres, sentem-se mais aliviados, mais dispostos a
uma reconciliação. O trabalho, pois, concorrido, eficazmente, para
a solução do problema social, que está hoje causando tantos
cuidados e inquietações.
Quão
útil e benéfica poderás tornar-te se distribuíres, entre as
famílias pobres, em tempo de infortúnio, peças de roupa que tu
mesma confeccionastes; se ornares a mesa de Natal dos desamparados,
com os produtos da tua diligência e solicitude; ou se, com o
proveito do teu trabalho, tornares possível às crianças pobres, a
freqüência à escola e à igreja. Quantas alegrias não poderás,
assim, proporcionar aos teus semelhantes e que grande benefício lhes
farás! Se cumprires, alegre e diligentemente, os deveres domésticos,
só isto já bastará para encher-te a vida de graças abundantes!
Quanto há, numa família, uma senhora que tem o senso doméstico e,
portanto que de tudo se preocupa conscienciosamente; quando as filhas
adultas animadas do mesmo espírito, se mantêm ao seu lado, não se
é aí mais feliz, mil vezes mais feliz do que numa família onde
falta, de todo, esse espírito?
Sim,
precisamente a execução conscienciosa do trabalho doméstico
feminino contribui, sobremodo, para a felicidade da família, e ao
mesmo tempo para a felicidade social. É por isso que tece o Espírito
Santo um alto elogio à mulher trabalhadora, quando diz: “Muitas
filhas ajuntaram riquezas; tu superastes a todas”. (Prov., 31,29).
Visto
ser o trabalho causa de tantas bênçãos, ama-o e aproveita as
graças que Deus te concedeu. Reflete freqüentemente na grave
sentença do Senhor: “Toda a árvore que não produzir bons frutos,
será arrancada e lançada ao fogo”. Não te coloques no número
das moças em que a ociosidade já se tornou como que uma segunda
natureza e que dedicam todo o seu tempo aos prazeres, divertimentos,
ao luxo, aos galanteios. À noite, lá se acham elas no cinema; de
manhã levantam-se tarde. Passam toda a manhã diante do espelho, à
tarde consagram-na no piano, ou aos passeios, ou às visitas ou aos
clubes, ou à leitura de romances, ou ao jogo de tênis. Nenhum
pensamento para o trabalho sério. Ah! pobres criaturas!
Pode-se,
porventura, esperar que, mais tarde na família ou em seus deveres,
trabalhem com êxito? que venham exercer um nobre e feliz influxo
sobre todas as que se relacionam de modo mais íntimo com elas?
Certamente que não. Não pertenças ao número destas! Aplica-te
desde cedo, aperfeiçoa-te e aprende alguma coisa útil! Preza
também
a ocupação proveitosa. Executa, porém, os teus trabalhos com
intenção reta, por amor de Deus e para a Sua honra. As boas
intenções, freqüentemente renovadas, tornarão suaves as
dificuldades do trabalho e da vida, aumentarão o amor de Deus em teu
coração e granjear-te-ão muitos merecimentos para a eternidade.
Se
escreveres sobre uma lousa uma porção de zeros, não apresentará
estes nenhum valor numérico, embora sejam algarismos bem traçados.
Antepõe-lhes, porém, uma unidade, e imediatamente, adquirem grande
valor. O mesmo sucede mais ou menos com os teus trabalhos e ocupações
diárias. Ainda que sejam muito importantes e os executes com a
máxima perfeição, e mereças, por isso, muitos louvores e
reconhecimentos dos outros, se os realizares sem nenhuma reverência
a Deus, sem uma boa intenção, mas apenas com intuitos mundanos, não
passarão de zeros para a eternidade.
Se,
porém, os executares “para a glória de Deus e por Seu amor”, se
lhes acrescentares aquela misteriosa unidade da boa intenção,
adquire grande valor aos olhos de Deus, ainda mesmo que sejam
trabalhos insignificantes e diários. Segue, pois em teus trabalhos
quotidianos a admoestação do Apóstolo dos gentios: “Tudo o que
fizeres, em palavras ou em obras, faze-o em nome do Senhor Jesus
Cristo”. (Col. 3,17)
Donzela
Cristã – Pe.
Matias De Bremscheid
http://catolicosribeiraopreto.com/o-trabalho/#more-9512
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