(Retiradas do livro: O primeiro amor do mundo, editora educação nacional – Porto, tradução de Cruz Malpique, Professor do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto, 2ª Edição, 1955, Páginas 314 a 345)
AS SETE FERIDAS DE MARIA "Oh Santa Mãe, fixai as chagas do Crucificado fortemente em meu coração; de Vosso Filho ferido que por mim quis sofrer, partilhai comigo as dores."
A PRIMEIRA FERIDA PROFECIA DE SIMEÃO
A ferida inicial foi a profecia de Simeão. O Divino Menino, com a idade de quarenta dias, foi levado ao Templo; mal
Simeão teve em seus braços a Luz do Mundo, logo de seus lábios saiu o canto do cisne: está pronto a morrer, porque
viu o Salvador. Depois de ter anunciado que esse menino será objeto de contradição, disse a Maria: "A Tua alma será
trespassada por uma espada de dor."
Notai que Simeão não disse que uma espada lhe trespassaria o corpo. A lança do centurião poderia trespassar o
Corpo de Cristo; o Seu Corpo poderia ter sido ferido ao ponto de "os seus ossos se poderem contar", mas o Corpo de
Maria será poupado.
Assim como, na Anunciação, quando Ela concebeu, o êxtase - ao contrário do amor humano - foi, primeiro, na sua
alma, e, depois, no seu corpo, assim, na sua compaixão, as dores do martírio penetram primeiro a sua alma, para
depois terem ressonância no seu corpo, como eco de todos os golpes com que a carne de Seu Filho foi flagelada, com
que as Suas mãos e os Seus pés foram trespassados.
A Espada só tem quarenta dias e, todavia já sabe como ferir. Desde aí, quando Maria tocar nas mãos dum menino,
nelas verá a sombra de um prego. Se o seu coração houvesse de formar um só com o de Jesus, então, como Ele,
devia ela ver todos os pores-do-sol tintos do sangue da Paixão. As Suas pequeninas pulsações seriam, para o Seu
coração, a trágica advertência dos terríveis martelos.
A Sua dor não será o que Ela sofre, mas saber o que Ele sofrerá... O gume da espada destinado ao Salvador
significava, para Sua Mãe, pela boca de Simeão, que Ele devia ser vítima para o pecado. A parte que a Ela dizia
respeito consistia em saber que, até à hora do supremo sacrifício, Ela era responsável pela vida de Jesus.
Com uma só palavra, Simeão previu a Crucifixão e a Sua dor.
Mal essa nova barca foi lançada às águas da vida, logo um ancião Lhe anunciou o naufrágio. A Mãe teve quarenta dias
para beijar o Seu Filho com alegria. Só; mais nada. A sombra da contradição alastra para sempre sobre o Seu futuro.
Maria não beberá, de certo, o cálice do pecado, nem a borra amarga que Seu Filho beberá no Jardim das Oliveiras;
todavia, Ele Lhe aproximará dos lábios o cálice.
A hostilidade do Mundo é o prêmio que cabe a todos aqueles que pertencem a Jesus. Quantos convertidos não têm
sentido o fanatismo ou o desprezo daqueles que lhes censuram o terem deixado a mediocridade do Mundo pelas
alturas do sobrenatural!
Nosso Senhor, falando dessa oposição, disse:
"Vim para trazer a espada com que separe o pai do filho, a mãe de sua filha."
Se o crente sente a contradição, quanto mais a não sentirá Maria, Mãe d'Aquele que iria conduzir a Cruz, símbolo da
contradição. Mas uma vez que Cristo trazia a espada ao Mundo, devia ser sua Mãe a primeira a experimentá-la, não
como vítima involuntária, mas pronunciando livremente o seu FIAT, para a Ele se unir no ato da Redenção.
Se vós fôsseis o único de olhos abertos num mundo de cegos, não quereríeis ser o seu amparo?
Se a bondade se comove perante as feridas, não tentará a virtude, perante o pecado, cooperar na obra d'Aquele que
limpa os pecados?
Se Maria, sem pecado, aceita com alegria a espada que lhe vem da Divindade sem mancha, qual de nós, pecadores,
se lamentaria, quando o próprio Jesus nos permite sofrer pela remissão das nossas faltas?
"Ó Maria, trespassada de dores;
Salvai-nos! Tocai e salvai
a alma daquele que amanhã comparecerá perante o Todo-Poderoso;
Uma vez que todo o homem nasceu de uma mulher
por cada um que disso precise,
amigo leal ou inimigo corajoso,
Intercede, Vós, ó Senhora!"
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