Pular para o conteúdo principal

O ideal apostólico de Santa Teresa d’Ávila.


Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com: Santa Teresa nascera em 1515 e tinha dois anos quando Lutero começou sua revolta contra a Santa Igreja. Morreu ela no ano de 1582, portanto, com 67 anos. Assim sendo teve a grande tristeza de tomar conhecimento dos estragos que Lutero e seus sequazes iam perpetrando em vários países. Eis o que ela diz no primeiro capítulo do seu livro “CAMINHO DE PERFEIÇÃO”: “Nesta ocasião, tive notícias dos prejuízos e estragos que faziam os luteranos na França, e o quanto ia crescendo esta desventurada seita. Deu-me grande aflição, e, como se pudesse ou valesse alguma coisa, chorava com o Senhor, suplicando-lhe para remediar tanto mal. Parecia-me que mil vidas daria eu para salvação de uma só alma das muitas que ali se perdiam. Sendo mulher e ruim, senti-me incapaz de trabalhar como desejava para a glória de Deus. Tendo o Senhor tantos inimigos e tão poucos amigos, toda a minha ânsia era, e ainda é, que ao menos estes fossem bons. Determinei-me então a fazer este pouquinho a meu alcance, que é seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição possível e procurar que estas poucas irmãs aqui enclausuradas fizessem o mesmo”.
Santa Teresa de Avila
Santa Teresa de Avila
A crise da Igreja na época era realmente muito grande e penetrara até nos Carmelos. Santa Teresa, vendo ser impossível reformar o Carmelo da Encarnação, onde era Carmelita, construiu um outro Carmelo em Ávila, o Carmelo de São José. Seu intento era seguir a Regra Primitiva de Santo Alberto de Jerusalém. Fundou 17 Carmelos. Reformou, com ajuda de São João da Cruz, não só os Carmelos femininos, mas também os masculinos. São chamados Carmelitas descalços(as). Pois bem, continuemos a ler Santa Teresa:
“Confiava na grande bondade de Deus, que nunca falta a quem por Ele se decide a tudo deixar. Sendo elas(as irmãs do novo Carmelo de São José) tais como eu as pintava em meus desejos, entre suas virtudes, desapareceriam minhas faltas, e assim poderia de algum modo contentar ao Senhor. E, ocupadas todas em orações pelos defensores da Igreja, pregadores e letrados que a sustentam, ajudaríamos, no que estivesse ao nosso alcance, a este meu Senhor, tão atribulado por aqueles a quem fizera tanto bem. Até parece que esses traidores pretendem crucificá-Lo de novo, deixando-O sem ter onde reclinar a cabeça. Ó meu Redentor, impossível meu coração não se afligir muito! O que se passa agora com os cristãos? Serão sempre aqueles que mais Vos devem, os que mais Vos fazem sofrer? Aqueles a quem maiores benefícios fazeis, que escolheis para amigos, aqueles entre os quais andais e com os quais Vos comunicais pelos sacramentos? Não lhes bastaram os tormentos que por eles padecestes? Certamente, Senhor meu, nada faz quem agora se aparta do mundo! Se nele Vos tratam com tão pouca lealdade, que podemos nós esperar? Merecemos, porventura, que nos correspondam melhor? Acaso lhes fizemos maiores benefícios para que nos tenham amizade? Que é isto? Que esperamos ainda, nós que pela bondade do Senhor não estamos contaminados por esta sarna contagiosa? Quanto a eles(os luteranos), pertencem ao demônio. Bom castigo já ganharam por suas próprias mãos. Mereceram com seus deleites o fogo eterno. Lá se avenham! (Ao digitar estas palavras de Santa Teresa, me veio a mente o seguinte: Que teria sentido Santa Teresa, se naquela época o Papa elogiasse Lutero? Penso que, com certeza, ela morreria de dor). “Não deixa de partir-me o coração ao ver como se perdem tantas almas. Quisera eu não ver mais perdas cada dia e, ao menos, impedir em parte o mal. Ó minhas irmãs em Cristo! ajudai-me a suplicar isto ao Senhor, já que para este fim vos reuniu aqui.(no Carmelo de São José). Esta é a vossa vocação. Estes hão de ser vossos negócios. Estes, vossos desejos. Aqui se empreguem vossas lágrimas. Sejam estes os vossos pedidos e não, irmãs, súplicas por negócios do mundo. Rio-me e até me aflijo de ver certas coisas que nos encarregam de pedir a Deus. Querem que alcancemos de Sua Majestade rendas e dinheiro – e não raro são pessoas que, a meu ver, deveriam antes implorar a Deus graça para calcar tudo aos pés. São bem intencionadas, e condescendemos por ver sua confiança. Mas estou convencida de que nestas matérias nunca me ouve o Senhor.”
“O mundo está pegando fogo. Querem, por assim dizer, de novo sentenciar a Cristo, levantam-Lhe mil testemunhos falsos. Pretendem lançar por terra a Sua Igreja.(Aí está a verdade sobre Lutero). E havemos de gastar o tempo em pedidos que, se fossem ouvidos por Deus, teríamos talvez uma alma de menos no céu? Não, irmãs, não é tempo de tratar com Deus assuntos de pouca importância! Por certo, se não fora em atenção à fraqueza humana, tão amiga de ser ajudada em tudo – e justo é fazê-lo, quando está em nossas mãos – gostaria que se entendesse: não são essas as coisas que se hão de pedir a Deus com tanto empenho”.
Quero acrescentar aqui as belíssimas palavras do grande D. Chautard no seu extraordinário Livro “A ALMA DE TODO APOSTOLADO”:
“Ordinariamente uma oração curta, mas fervorosa, contribui muito mais para apressar uma conversão do que longas discussões e excelentes discursos. Aquele que ora, trata com a CAUSA PRIMEIRA. Opera diretamente sobre ela. Tem, desta sorte, em mãos todas as causas segundas, visto como estas somente desse princípio superior recebem sua eficácia. Por isso o efeito desejado é então obtido com maior segurança e rapidez. Dez mil hereges, no dizer de uma revelação respeitável, foram convertidos por uma só oração inflamada da seráfica Santa Teresa, cuja alma ardendo em amor de Cristo não podia compreender uma vida contemplativa, uma vida interior que se desinteressasse das solicitudes apaixonadas do Salvador pela redenção das almas. “Aceitaria o purgatório, diz ela, até ao juízo final, para livrar uma só dessas almas. E que me importaria a duração dos meus sofrimentos, se assim pudesse livrar uma só alma e sobretudo muitas para maior glória de Deus”. E, dirigindo-se às suas religiosas: “Dirigi para este fim inteiramente apostólico, minhas filhas, vossas orações, vossas disciplinas, vossos jejuns, vossos desejos”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A mitra dos bispos e papas e o simbolismo pagão RECEBEMOS DO LEITOR que se identifica com o nome "Emerson" a pergunta que reproduzimos abaixo, seguida de nossa resposta: “ (...) uma coisa me deixou muito em dúvida. Vi um desses vídeos onde acusam a igreja católica de adorar o Deus Mitra e até distorceram uma explicação de um padre sobre o natal para comprovar o culto ao Deus mitra. Até ai tudo bem estava me divertindo com as heresias ai então o autor falou que presta serviço a várias instituições catolicas e que a razão social da maioria começa com mitra e o nome da instituição comprovando o culto ao tal deus sol. Fiz uma rápida busca e realmente percebi que varias dioceses tem o mitra antes do nome e também percebi o termo mitra diocesana. Sei que mitra é o chapel cônico que os bispos e o papa usa. Gostaria de saber qual o verdadeiro significado do termo mitra para igreja e se tem alguma ligação com o deus pagão e porque o nome aparece na frente do nome das diocese

A ignorância invencível e a salvação

Sem Roma, totalmente frustada por ver a FSSPX caminhando em direção à Barca de Pedro, não mais pode apoiar-se na mesma para justificar seu "apostolado". Aliás, agora são Sem Roma & FSSPX. Em uma tentativa vã que só convenceu os organizadores da idéia, quiseram mostrar uma suposta contradição em uma frase do Pe Paulo Ricardo com o ensino católico no folder acima. Iremos mostrar, nesse artigo, que as palavras do Reverendíssimo padre, que tanto bem faz a Igreja no Brasil na formação sólida tradicional entre leigos e seminaristas, estão em perfeita harmonia com o que o Magistério sempre ensinou. Obviamente que o Padre Paulo fala dos que estão em ignorância invencível. Ora, se diz que eles têm em mente um simulacro, um boneco, ao invés da Igreja Católica, é claro que faz referência aos que não pecam mortalmente por isso. O que ele falou sempre foi consenso entre os teólogos. O grande teólogo Penido diz o seguinte sobre isso:  “Melhor seria cognominá-los cristãos di

Quaresma: Catecismo Maior de São Pio X

A Igreja, no início da Quaresma, costumava fazer a imposição das sagradas cinzas, para recordar-nos de que somos feitos de pó, e com a morte, reduzimo-nos novamente ao pó, e assim nos humilhemos e façamos penitência por nossos pecados, enquanto temos tempo 37.   Que é a Quaresma? A Quaresma é um tempo de jejum e penitência instituída pela Igreja por tradição apostólica. 38.   A que fim foi instituída a Quaresma? A Quaresma foi instituída: 1º para dar-nos a entender que temos a obrigação de fazer penitência durante todo o tempo da nossa vida, da qual, de acordo com os santos Padres, a Quaresma é figura; 2º para imitar de alguma maneira o rigoroso jejum de quarenta dias que Jesus Cristo praticou no deserto; 3º para prepararmo-nos, por meio da penitência, em celebrar santamente a Páscoa. 39.   Por que o primeiro dia da Quaresma é chamado de quarta-feira de cinzas? O primeiro dia da Quaresma é chamado de quarta-feira de cinzas porque nesse dia a Igreja impõe sobre