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Da fraternidade, do fraternismo

Frei Almir Guimaraes 1.  O tema da fraternidade, do fraternismo, simplesmente da vida fraterna parece gasto. Por vezes, a leitura de páginas sobre o tema chegam a nos irritar. São moralizantes, tacanhas e estreitas. Não se trata de estarmos como que roçando uns nos outros, o tempo todo, mecanicamente, infantilmente. A fraternidade não se resume a encontros mais ou menos formais e quentes numa sala de convivência ou mesmo em momentos da oração. Não se trata de minimizar e desvalorizar tais encontros. Eles são instrumentos de afervoramento da vida fraterna, sacramentos de alguma coisa maior do que aquela que existe até o momento. Sim, a fraternidade, efetivamente é bem mais do que esses encontros previstos e prescritos, controlados e cobrados. Eles são “muletas” que podem nos levar a fazer a experiência teologal do fraternismo. Exprimem o que existe e clamam pelo que ainda pode vir.       2.  “Como todos os sonhos de Deus, a fraternidade é dom e ao mesmo tempo tarefa que int

Santa Ângela de Foligno

A Igreja atribui-lhe o título de beata e sua memória é celebrada hoje pela Ordem Franciscana. O povo, porém, invoca-a com o nome de santa há muito séculos. A data mais aceita para o nascimento de Ângela, em Foligno, perto de Assis e de Roma, é o ano 1248. É uma das primeiras místicas italianas. Quando jovem, como sua contemporânea Margarida de Cortona, entregou-se às vaidades femininas, tendo teor de vida tranquila e folgada numa casa não de muito luxo, mas decorosa, juntamente com seu marido e filhos. Ela pertencia à uma família relativamente rica e bem situada socialmente. Assim viveu até os trinta e sete anos, quando uma tragédia avassaladora mudou sua vida. Num curto espaço de tempo perdeu os pais, o marido e todos os numerosos filhos, um a um. Mas, ao invés de esmorecer, uma mulher forte e confiante nasceu daquela sequência de mortes e sofrimento, cheia de fé em Deus e no seu conforto espiritual. Como consequência, em 1291 fez os votos religiosos, doando todos os seus be

Textos pontifícios: Ensinamentos dos Papas sobre o socialismo

PIO IX : “E, apoiando-se nos funestíssimos erros do comunismo e do socialismo, asseguram que a “sociedade doméstica tem sua razão de ser somente no direito civil” (Quanta Cura, 5). LEÃO XIII : “… a Igreja do Deus vivo, que é ‘a coluna e o sustentáculo da verdade’ (1 Tim. 3,15), ensina as doutrinas e princípios cuja verdade consiste em assegurar inteiramente a salvação e tranqüilidade da sociedade e desarraigar completamente o germe funesto do socialismo” ( Quod Apostolici Muneris, pág. 7) “Não ajudar o socialismo – 34. Tomai ademais sumo cuidado para que os filhos da Igreja Católica não dêem seu nome nem façam favor nenhum a essa detestável seita” (Quod Apostolici Muneris, no. 34). “Porque enquanto os socialistas, apresentando o direito de propriedade como invenção humana contrária a igualdade natural entre os homens; enquanto, proclamando a comunidade de bens, declaram que não pode tratar-se com paciência a pobreza e que impunemente se pode violar a propriedade e os d

Crônicas de final de ano em Roma.

Por Padre Romano |  FratresInUnum.com Poucos dias antes do Natal, entrando na Livraria Vaticana “Bento XVI”, deparei-me com o Cardeal Walter Kasper comprando alguns livros. Chamou-me a atenção um que tinha na capa a foto do Cardeal Tagle, Arcebispo de Manila, nas Filipinas — famoso teórico da “hermenêutica da ruptura” feito cardeal, incrivelmente, por Bento XVI. Fui ver o título: “Guardare con l’ascolto” (Olhar com a escuta) – Biografia do Cardeal Tagle, Arcebispo de Manila e Presidente da Cáritas Internacional – Editrice Vaticana – Preço: 12,00 euros, com desconto de 10%. O autor é o próprio Cardeal Luis Antonio Tagle, o que torna esse livro uma auto-biografia. Francisco acabara de completar 80 anos e me veio a pergunta, como um raio: – Será que já estão fazendo a campanha para o sucessor de Bergoglio? Nestes dias, foi publicada uma carta de jesuítas chilenos pedindo que o Papa nomeie cardeais e bispos alinhados com o seu pensamento, para neutralizar a ação dos conservadores, e

Festa do Santissimo Nome de Jesus

A  Igreja revela-nos as grandezas do Verbo incarnado, cantando as glórias do seu Santo Nome.  Era por ocasião do rito da circuncisão que os Judeus impunham o nome aos filhos; por isso a Igreja vai buscar hoje o Evangelho da festa da Circuncisão fazendo realçar as últimas palavras: "E foi-lhe dado o nome de Jesus, nome que já o anjo lhe havia dado antes de ser concebido no seio da Virgem". O nome Jesus significa Salvador, e diz São Pedro, que não foi dado aos homens outro nome, pelo qual nos possamos salvar.  É ao nome de Jesus, diz São Bernardo, que os coxos andam, que os cegos vêem e que os surdos ouvem. A pregação do nome de Jesus é a luz do mundo, o unguento que unge, reconforta e sustenta. O nome de Jesus é mel para os lábios, melodia para os ouvidos e alegria para o coração". Que durante a nossa vida ele nunca nos saia dos lábios para termos um dia a alegria de vermos o nosso junto do Dele inscrito no Céu.  As primeiras origens desta festa remontam o Século XVI em

Fraternidade

Nesta rubrica que leva o título de Franciscanamente , em novembro passado começamos uma série de reflexões sobre os grandes valores da espiritualidade evangélico-franciscana. Abordamos então o tema do irmão. Neste mês de dezembro continuamos as reflexões sobre a mesmo valor fundamental da vida franciscana que é a fraternidade, tema inesgotável, porque Deus se fez nosso irmão e Francisco resolver seu o Irmão Franciscano, simplesmente Frei Francisco. Advertimos que este texto está praticamente pautado nas reflexões pertinentes de Michel Hubaut, franciscano francês, em seu Chemins d’intériorité avec saint François (Éditions Franciscaines, Paris, 2012, p. 66-80 1. A fraternidade é um dom do Espírito Santo  – Quando o Poverello começou sua aventura espiritual não pensou em fundar nem uma fraternidade, nem uma ordem. Tudo começou com um desejo de se converter ao Evangelho. Esse período de transformação realizou-se, de modo particular, entre 1202 e 1208. Nessa ocasião alguns homens de

AS ORIGENS DO LIBERALISMO: NASCIMENTO DO NATURALISMO POLÍTICO

O protestantismo constituiu um ataque muito duro contra a Igreja e ocasionou um desagregamento profundo na cristandade do século XVI, porém sem conseguir impregnar as nações católicas com o veneno de seu naturalismo político e social. Isso só aconteceu quando este espírito secularizante chegou às universidades e em seguida àqueles que chamamos “filósofos das luzes”. Filosoficamente o protestantismo e o positivismo jurídico têm origem no nominalismo surgido com a decadência da Idade Média (séc. XIV) que conduz tanto à Lutero com sua concepção puramente extrínseca e nominal da Redenção, como a Descartes, com sua idéia de uma lei divina indecifrável submetida somente ao arbítrio da vontade de Deus. Com São Tomás de Aquino, toda a filosofia cristã afirmativa, ao contrário, a unidade da lei divina eterna e da lei humana natural: “A lei natural é tão somente uma participação da lei eterna nas criaturas racionais”. (Suma Teológica I II, 91, 2). Mas com Descartes já se põe uma ruptura en