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Crônicas de final de ano em Roma.


Por Padre Romano | FratresInUnum.com
Poucos dias antes do Natal, entrando na Livraria Vaticana “Bento XVI”, deparei-me com o Cardeal Walter Kasper comprando alguns livros. Chamou-me a atenção um que tinha na capa a foto do Cardeal Tagle, Arcebispo de Manila, nas Filipinas — famoso teórico da “hermenêutica da ruptura” feito cardeal, incrivelmente, por Bento XVI. Fui ver o título: “Guardare con l’ascolto” (Olhar com a escuta) – Biografia do Cardeal Tagle, Arcebispo de Manila e Presidente da Cáritas Internacional – Editrice Vaticana – Preço: 12,00 euros, com desconto de 10%. O autor é o próprio Cardeal Luis Antonio Tagle, o que torna esse livro uma auto-biografia. Francisco acabara de completar 80 anos e me veio a pergunta, como um raio: – Será que já estão fazendo a campanha para o sucessor de Bergoglio? Nestes dias, foi publicada uma carta de jesuítas chilenos pedindo que o Papa nomeie cardeais e bispos alinhados com o seu pensamento, para neutralizar a ação dos conservadores, e tornar suas reformas irrevogáveis.
Basílica de São Pedro, 31 de dezembro de 2016: Cardeais Müller e Burke observam o Papa Francisco em celebração do Te Deum.
Basílica de São Pedro, 31 de dezembro de 2016: Cardeais Müller e Burke observam o Papa Francisco em celebração do Te Deum.
Nas Vésperas da solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus, e do Te Deum de ação de graças pelo ano, o Cardeal Raymond Leo Burke se fez presente – para surpresa e desconforto de alguns purpurados, que procuravam evitá-lo. Com a retirada das cadeiras reservadas aos cardeais, que estavam sobrando, terminou que Burke ficou ao lado de Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e após algum tempo de silêncio entre ambos, via-se os dois cardeais que conversavam por um longo tempo. A homilia de Francisco foi forte e, diria, agressiva e ameaçadora, também no tom da voz, disparando contra a rigidez dos que se apegam às leis e não são audaciosos para acolher a novidade do Evangelho, e querem criar divisões na Igreja para aparecer – é o que lembro, mais ou menos, porque estava já me sentindo mal e querendo ir embora.
Nesse mesmo período, falando com alguém que trabalha no Vaticano, pude confirmar o que vem sendo dito: reina, de fato, nos Sagrados Palácios, um clima de medo e suspeita. Fui convidado a sair do escritório e dar 2 passos no corredor porque – dizia meu interlocutor, que mantinha sempre o tom de voz baixo – as paredes têm ouvidos.
Nas conversas com padres e leigos, percebe-se uma não disfarçada tensão. Muitos se calam, poucos levantam a voz para defender a atual conjuntura, vários começam a falar abertamente o que pensam — e são coisas sérias. Surpreende-me uma coisa: ao falar com católicos de “preceito” dominical ou com pessoas afastadas da Igreja, ainda se vê alguma simpatia pelo atual pontificado, mas não um retorno efetivo à prática cristã. Continua-se a criticar a Igreja como antes: a ignorância religiosa na Itália é surpreendente. O slogan “Jesus, sim, Igreja não” parece ter mudado para “Francisco, sim, Igreja não”. O relativismo avança assustadoramente. Todas as religiões se valem.
Neste clima, iniciamos 2017. O que nos aguarda? Sinceramente, espero que alguém dentre o povo grite – e já há quem está pronto a fazê-lo – : – “O Rei está nu!”, pondo fim a esse desfile surreal e patético.

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