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1. Princípio fundamental da vida franciscana

 




§ 1. Princípio fundamental da vida franciscana

Vesperas de Profissão Religiosa!

O sol poente, coando pelos vitrais do

Capítulo, ilumina as feições dos noviços. A

luz do sol, afogueiam-se as fisionomias num


arroubo juvenil; amanhã, pelos v0tos sagra-

dos, passarão a filhos ditosos de São Fran-

cisco. E, ajoelhados deante da comunidade,


com o coração nos l.ibios, pedem admissão

aos votos religiosos:

• Veneráveis Padres, e diletos 1 qnãos

em Cristo, rogo-vos por amor de Deus. da

Bem-aventurada Virgem !\faria, do Nosso

Seráfico Pai Francisco e todos os Santos,


vos digneis admitir-me ,i profü,são na Or-

dem Seráfica, para fazer penitência ...


FAZER PENITÊNCIA, eis .1 que neste


magno dever vai o objetivo de su.:is aspi-

rações futuras. F.1zer peniténcia ! eis a defi-

nição do caráter d,1 \·ida franciscana.


Em abono de tal com·icç,io podem in-

vocar o testemunho do Ser,ifico Pai São


Francisco, o qual. recordando os desígnios

de sua vida. perpetuou no seu Testamento

a grata recordação: «Concedeu-me o Senhor

a graça de uma vida penitente .. »


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6 Princípio fundamental da vida franciscana


Com efeito, a penitência e a abnega-

ção são a nota dominante na Regra obser-

vada por São Francisco e os seus Filhos.


Lapidares são as palavras que abrem

a nossa Regra: «A norma de vida para os

Frades Menores é a observância do santo


Evangelho de Jesus Cristo». E a Regra ter-

mina exortando: «Cumpramos à risca o san-

to Evangelho, conforme prometemos, de to-

do o cor,1ç,'to.»


Dep,ua-se-nos algum contrasenso entre


o corpo e a epigrafe da Regr.1 ? S. Fran-

cisco. para quem o Espírito Santo esclarecia


o sentido das Escrituras. descobriria na pe-

niténcia o ám,1go das prescriçóes e\'angé-

lic,1s?


O Pobrezinho de Assiz tinha. sem dú-

YiJa. o dom de compenetr,u-se das verda-

des di,·inas. N,1 interpretaç,10 das Escrituras


não h.í meios de aproximà-lo daqueles que

no E\',rngelho procur,1at1 a boa nova de uma


redcnç.io sem sacrifícios. S,i.o Francisco, re-

verente aos mistérios da Escritura. afasta-se


dos que fazem Jo E\'angclho um receituário

yago de .1:nor ,1 Deus e ao pri'iximo.

Não resta dúvida que o Evangelho é

a grata mensagem da· Redenção. Tomado


em conjunto, porém, pressupõe nossa co-

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br


Princípio fundar_nental da vida franciscana 7

operação, para nos remir da petulância dos

sentidos, do pecado que assoberba nossa

fragilidade. «Completo em meu corpo o

que me falta à p.1ixão de Cristo», diz São

Paulo Apóstolo, o mais ardente pregador do

Evangelho.

Nossa cooperação participa do caráter

da Redenção. Esta, porém, foi um portento

de abnegação e sacrifício. Para assumir a

forma de servo na Incanuçfo, o Filho de

Deus obnubilou qu,111to possível a sua di,

vindade. M,lis tarde, teve de abandonar a

forma de servo, quando sacrificou a sua hu,

manidade pela salvação do mundo. Não es,

tranha, pois, que a nossa cooperaçã,, seja

de car,iter penitente, 11.1 estrada real da San,

ta Cruz.

Tóda a doutrin,!, todos os preceitos e

conselhos do Evangelho culminam na ex,

ortação à penitência: «Quem n,10 renunciar

a si mesmo. não pode ser meu discípulo».

Este princípio é o fundamento da moral

evangélica.

Francisco te\'e a ventura de penetrar

o sentido do santo Ev.rngelho, qu,rndo foz

uma ordalia. p,1r,1 s,1bcr qual a nnrma de

vida que de\'i,1 seguir com seus irnüos Com

simplicidade pediu ao sacerdote ,1brisse. com

sua m.:io ungid,1. o s.rnto Evangelho. e 1�or

três vezes atinou com o ..:onselho de renunciar

a tudo. Na tcrceir,1 \'CZ deu com os olhos


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S ___ Princípio fundamental da vida franciscana


na passagem : •Quem quiser seguir-me, re-

negue a si mesmo e abrace sua cruz•. O


Santo compreendeu, então, ter achado a fon-

te da sabedoria evangélica. Desvaneceram-

se as dúvidas. ,,Eia, pois, quem quiser aban-

donar tudo, venha ,1 nossa companhia».


Quando quis, mais tarde, ultimar a re-

dação da Regra, começou ..:om as palavras:


,,A vida dos Frades 1Vlenores é observar o


santo E\'angelho de Jesús Cristo». E as di-

versas prescrições da Regra, formulou-as tão


conformes à penitcnci.1, como não o fizera

nenhum fundador antes dele. No fim da


Regra declara não exceder-se em suas exi-

gências impondo a ohservância pura e for-

mal do santo Evangelho. «Para observarmos


o Evangelho, conforme prometemos, de to-

do o coração». A interpretação ascética do


Evangelho, muito apreciada na Igreja de

Deus, colhe seu maior triunfo na Regra de

S.io Fr,mcisco.

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