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Fonte: Hojitas de Fe, 17. | Seminário Nossa Senhora Corredentora FSSPX / – Tradução: Dominus Est
Como é sabido, o tempo do Advento prepara nossas almas para as três vindas ou adventos de Cristo entre nós: • a primeira é sua vinda em carne mortal, pela Encarnação, para padecer e morrer por nós; • a segunda é sua vinda espiritual a nossas almas, pela graça, para nos fazer viver de seus mistérios; • a terceira é sua vinda no final dos tempos, pela Parusia, pra julgar os vivos e os mortos.
Pois bem, essas três vindas reclamam uma preparação semelhante, maravilhosamente prefigurada e expressa por São João Batista. Poderíamos até mesmo dizer que São João Batista é um advento em ação: toda sua pessoa e missão estão inteiramente ordenadas a preparar os corações para receber a Cristo. Assim, pois, considerando o que São João Batista foi na primeira vinda de Cristo, veremos quais são as disposições que são agora necessárias em nós para nos prepararmos dignamente para a festa de Natal.
1ª Penitência: Preparai os caminhos do Senhor.
Quando São João Batista apareceu, o mundo inteiro se comoveu, ao menos na Judeia. Por mais de quatro séculos já não havia profetas em Judá, e a voz do Senhor houvera se calado durante tanto tempo justamente para que o povo eleito estivesse em expectativa, em relação ao futuro Messias. Por isso, quando João fez sua aparição, todos vieram até ele.
Para devidamente cumprir sua missão, João teve que conhecer, à luz do Espírito Santo, três coisas: • o advento iminente do Messias; • as disposições morais com que Israel deveria recebê-lo; • a ação que ele, como Precursor, deveria realizar, tanto em ordem ao Messias, a quem havia de apontar com o dedo, como em ordem a Israel, a quem havia de dispor. Pois bem, entre essas disposições, a primeira que João pregou foi a penitência:
“O Senhor falou a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele foi por toda a terra do Jordão, pregando o batismo de penitência para remissão dos pecados, como está escrito no livro das palavras de Isaías profeta: ‘Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas; todo o vale será terraplanado, e todo o monte e colina será arrasado, e os caminhos tortuosos tornar-se-ão direitos, e os escabrosos planos; e todo o homem verá a salvação de Deus’”.
A penitência que João pregava era uma total renovação moral, que partindo do arrependimento e da confissão dos próprios pecados, exigia uma radical transformação de pensamentos e de sentimentos, e era o princípio de uma vida nova. E o Precursor incorporava graficamente essa mudança sob a figura de um caminho que se prepara.
“Há depressões de abatimento e desconfiança? Devem ser remediadas com um são otimismo e com a confiança em Deus.
A altivez se interpõe como montanhas e colinas? É necessário aplainá-las com a mais profunda humildade.
Há desvios e torções? Urge a necessidade de endireita-los com a retidão de intenção.
Existem arestas e obstáculos, que ferem os pés do caminhante? Devem ser limpos e suavizados com a mansidão e a brandura.
Para alcançar essa penitência, João Batista levava em conta as disposições de cada um. E assim, a uns ameaçava com os justos juízos e castigos de Deus, se não se arrependessem devidamente:
“Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos ameaça? Fazei portanto frutos dignos de penitência, e não comeceis a dizer: Temos Abraão por pai. Porque eu vos digo que Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos de Abraão. Porque o machado já está posto à raiz das árvores. E toda a árvore que não dá bom fruto, será cortada e lançada no fogo… Tomará na sua mão a pá, e limpará a sua eira, e recolherá o trigo no seu celeiro, e queimará as palhas num fogo inextinguível”.
Aos justos que vinham a ele com disposições mais perfeitas, outra era a linguagem que lhes dirigia:
“Eu na verdade batizo-vos em água, mas virá um mais forte do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia dos seus sapatos; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo (da caridade)”
2º Ardentes desejos do Senhor.
A penitência deve ser acompanhada de ardentes desejos do Salvador: pois João estimulava a mudança de vida justamente para preparar a sua chegada. E aqui João nos dá exemplo da mais leal das condutas: toda a sua vida, sem inveja ou ciúme, é consagrada a Cristo.
“E levantou-se uma questão entre os discípulos de João e os Judeus acerca da purificação. E foram ter com João, e disseram-lhe: Mestre, o que estava contigo da banda de além do Jordão, de quem tu deste testemunho ei-lo que está batizando, e todos vão a ele. Respondeu João, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do céu. Vós mesmo me sois testemunhas de que vos disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado adiante dele. O que tem a esposa é o esposo, mas o amigo do esposo, que está de pé e o ouve, enche-se de gozo com a voz do esposo. Pois este meu gozo está cumprido. Convém que ele cresça e eu diminua.”
É preciso que Ele cresça e que eu diminua. Nesta expressão, todo o Antigo Testamento é resumido diante do Novo. Todos os justos que se regozijaram com a vinda do Salvador foram uma figura do Antigo Testamento, que alcançou sua perfeição e seu fim com a chegada do Salvador. Assim, por exemplo, o velho Simeão, assegurado pelo Espírito Santo de que não morreria sem ver o Cristo do Senhor, foi figura do Antigo Testamento, a quem o Espírito Santo assegurou que não desapareceria até conduzir de fato a Cristo. Mas assim que Cristo se apresentou, o que exclamou Simeão?
“Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra; porque os meus olhos viram a tua salvação, a qual preparaste ante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações, e glória de Israel, teu povo.”
3º Apostolado: conduzir os outros a Cristo.
Mas a principal missão de São João Batista não era a pregação da penitência — que era apenas um meio — mas a manifestação de Cristo em todo o Israel.
“No dia seguinte João viu Jesus, que vinha ter com ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira o pecado do mundo. Este é aquele, de quem eu disse: Depois de mim vem um homem que me foi preferido, porque era antes de mim, e eu não o conhecia (pessoalmente), mas vim batizar em água, para ele ser reconhecido em Israel. E João deu testemunho, dizendo: Vi o Espírito descer do céu em forma de pomba, e repousou sobre ele. E não o conhecia (pessoalmente), mas o que me mandou batizar em água, disse-me: Aquele, sobre quem vires descer e repousar o Espírito, esse é o que batiza no Espírito Santo. Eu o vi; e dei testemunho de que ele é o Filho de Deus.”
Seguindo docilmente este testemunho de João Batista, dois de seus discípulos, João e André, foram no dia seguinte depois de Jesus, e Jesus os fez seus discípulos. Daquele momento em diante um entusiasmo começou a ser gerado entre esses jovens escolhidos que levaram a Cristo nada menos do que seis de seus doze Apóstolos. Assim, São João Batista teve a glória de ter dado a Cristo seus apóstolos, os que mais tarde seriam as colunas da Igreja. Mais tarde, enviaria também, para que n’Ele crescem, dois de seus discípulos recalcitrantes:
“E João chamou dois dos seus discípulos, e enviou-os a Jesus a dizer-lhe: És tu o que há-de vir (salvar o mundo), ou devemos esperar outro? Tendo ido ter com ele, disseram-lhe: João Batista enviou-nos a ti, para te perguntar: És tu o que há-de vir, ou devemos esperar outro? Naquela mesma hora, (Jesus) curou muitos de enfermidades, e de chagas, e de espíritos malignos, e deu vista a muitos cegos. (Depois) respondendo, disse-lhes: Ide referir a João o que ouvistes e vistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho; e bem-aventurado aquele que se não escandalizar a meu respeito”.
Conclusão
Não nos esqueçamos, porém, de nos preparar para a vinda do Salvador através de Nossa Senhora. Muito íntimo é o laço que existe entre São João Batista e a Santíssima Virgem. Basta lembrar que São João Batista é o primeiro milagre da graça realizado pela Santíssima Virgem, sua primeira intervenção como Medianeira de todas as graças; já que o Evangelho nos diz que, à saudação que Maria dirigiu a sua prima Santa Isabel, foi santificada a criança que Isabel trazia em seu ventre.
Pois bem, assim como coube à Santíssima Virgem preparar João Batista para a missão de Precursor que ele deveria cumprir diante de seu Filho, também a Ela corresponde produzir em nossas almas estas disposições do tempo do Advento, a fim de que nos preparemos dignamente para o Nascimento de seu Filho. É por isso que a Santa Igreja, em sua Liturgia, aponta luminosamente a figura de Maria, na festa de sua Imaculada Conceição, e na festa (para a América hispânica) de Nossa Senhora de Guadalupe. Peçamos-lhe que nos conceda todas essas disposições interiores.
Estas também serão as disposições da última vinda: • penitência (como claramente enfatizado pela mensagem de Fátima); • grande desejo de Cristo, da chegada de seu Reino e de sua segunda vinda (“no fim, o meu Imaculado Coração triunfará”); • apostolado, conduzir a Ele muitas almas; • e tudo isso, com a intervenção pessoal de um novo João Batista (Elias, que tem uma missão reservada no final dos tempos) e a ação pessoal de Nossa Senhora.
Publicado em 24/06/2018
Para a Festa de hoje, de São João Batista.
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