Sacerdote ensina como viver a Quaresma, como fazer penitência na prática e quais os seus frutos para a alma
COMO SUBSÍDIO PARA que nossos leitores vivam bem este tempo propício que vivemos agora, – o tempo quaresmal, – publicamos uma entrevista exclusiva com o Revmo. Padre Francisco Reginaldo Henriques de Miranda, atualmente pároco de Nossa Senhora das Graças do Jardim Elba, São Paulo (SP), dada a Felipe Marques, membro da Associação São Próspero, especialmente para O Fiel Católico. Agradecemos a este digno sacerdote pela disposição em nos auxiliar, e rogamos a Deus que seus esclarecimentos e exortações venham a ser úteis para muitos. Abaixo, uma breve apresentação do entrevistado, e, a seguir, a entrevista propriamente dita.
“Deus sempre me pegou pela mão, e assim me trouxe até aqui.”
Padre Reginaldo, como é mais conhecido, é natural de Bom Sucesso, PR. Quando criança, morava na roça, e um padre alemão celebrava as Missas naquela região, às quais o pequeno Reginaldo assistia com atenção. Ia depois para sua casa e simulava a Celebração Eucarística para seus irmãos, como se fosse ele o padre. A vocação veio cedo, como se vê...
Chegando a São Paulo, ainda muito jovem, estudou em colégio jesuíta. Em princípio, evitava os padres, mas depois passou a admirá-los. Logo surgiu a vocação para ser missionário na África. Lendo uma publicação católica, descobriu uma congregação religiosa que trabalhava justamente no continente africano. Assim, perseguiu o seu sonho, até que o realizou. Tornou-se religioso da Congregação dos Missionários de África, que na Europa se chama “dos Padres Brancos”, devido ao hábito. Reginaldo, entretanto, já sentia o desejo de ser pároco, como diretor de uma comunidade entregue aos seus cuidados.
Padre Reginaldo diz que a África foi o seu “caminho de Damasco”, porque considera que era ainda "muito orgulhoso" na época, e este foi o início dos seus aprendizados mais profundos. Depois de quase 8 anos fora do Brasil, ao retornar precisou de um tempo para pensar sobre sua vocação. Por um ano e meio, rezando, refletindo e buscando interiormente, sempre com a ajuda de um bom diretor espiritual, – algo que considera de fundamental importância, – dirimiu suas dúvidas e percebeu que sua vocação era autêntica.
Por fim, ingressou em um seminário da Arquidiocese de São Paulo, no mesmo ano em que o papa Bento XVI veio ao Brasil, 2007, e considera uma graça especial o fato de ter sido ordenado ainda durante o seu pontificado.
Do tempo do seminário, padre Reginaldo recorda a situação difícil que a Igreja vivia, como ainda hoje vive, em nosso país: “Haviam muitos professores hereges”, testemunha com coragem, mas ressalta que essas dificuldades acabam por fortalecer a formação do futuro sacerdote, se ele tiver fé e vocação verdadeiras.
Ordenou-se no dia da Festa de Maria Imaculada, e diz que se fez sacerdote não para cumprir sua própria vontade, mas a “vontade da Igreja”, o Corpo Místico de Cristo, “a qual, infelizmente, nem todo o povo hoje conhece”. Mas salienta que não culpa tanto o povo pelo desconhecimento, “porque a formação de hoje é falha”; procura, então, fazer a sua parte para formar e instruir bem os seus paroquianos. “A partir do momento em que estão bem formados e conscientes, se persistem no erro, aí sim a culpa será deles”.
Padre Reginaldo permaneceu por três anos como diácono na Arquidiocese de São Paulo, tendo o seu ardente desejo de ser padre repetidamente dificultado e adiado, por motivos que prefere não esmiuçar. Diz que esse período foi como que a sua “noite escura”, porque grande era sua angústia vendo diversos de seus pares se ordenando enquanto as portas se fechavam para ele. Guardava, porém, “no mais profundo do seu íntimo” a certeza de que seria sacerdote, porque, como diz: “De olhos fixos no Senhor, sabia bem que Ele me chamava”.
Nesse período, como em toda sua vida, testemunha que foi de profunda importância a ajuda da Santíssima Virgem: “Fiz como Maria, que me ajudou muito nesse sentido, assim como ela está sempre presente na minha vida: nasci no dia de Nossa Senhora do Bom Conselho, 26 de abril, fui batizado no dia de Nossa Senhora da Assunção, 15 de agosto, fui crismado no dia 8 de setembro, Festa do Nascimento de Maria, e fui ordenado no dia 8 de dezembro, Festa da Imaculada Conceição de Maria. Seu lema sacerdotal é “Por causa de Cristo e do Evangelho”.
Nesse período, como em toda sua vida, testemunha que foi de profunda importância a ajuda da Santíssima Virgem: “Fiz como Maria, que me ajudou muito nesse sentido, assim como ela está sempre presente na minha vida: nasci no dia de Nossa Senhora do Bom Conselho, 26 de abril, fui batizado no dia de Nossa Senhora da Assunção, 15 de agosto, fui crismado no dia 8 de setembro, Festa do Nascimento de Maria, e fui ordenado no dia 8 de dezembro, Festa da Imaculada Conceição de Maria. Seu lema sacerdotal é “Por causa de Cristo e do Evangelho”.
Entrevista
Felipe Marques/OFC: Entramos no período quaresmal. Infelizmente, nem todo católico compreende bem como viver este tempo santo e propício à santidade. Que orientações gerais o Sr. poderia nos transmitir a este respeito? Como viver bem a Quaresma?
Pe. Reginaldo: É Interessante notar que o tempo da Quaresma começa com a Quarta-feira de Cinzas. Por que as cinzas? O significado das cinzas remete ao tempo do Antigo Testamento, no gesto simbólico das pessoas que pecavam contra Deus, como vemos no exemplo do rei Davi, que se vestia de saco e se cobria de cinzas. As cinzas significam que nós, por nós mesmos, não somos nada, e se somos alguma coisa é pela Graça de Deus. São para lembrar a nossa origem, que é o pó; que somos pó e ao pó voltaremos.
O rei Davi, quando se arrependeu de seus pecados, usou as cinzas, do mesmo modo como vemos na passagem do Livro do profeta Jonas (cap. 3), que depois de pregar em Nínive durante um dia inteiro, converteu toda aquela população, e as Escrituras dizem que todos, homens, mulheres, crianças e até animais foram cobertos de cinzas em sinal de arrependimento. Isso é para que possamos perceber o que somos, a nossa origem. Somos pó e precisamos estar sempre com os olhos fixos em Deus.
Justamente por isso, a Quaresma começa com a Quarta-feira de cinzas, lembrando-nos que por nossas forças nada podemos. Este é o grande pecado do homem deste século: achar que pode construir sua vida longe de Deus, longe de Jesus Cristo; tentar isso é loucura.
Começamos então com as cinzas na fronte, para dizer: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15); a fonte de tudo é o Evangelho, que é a própria Palavra, isto é, o Cristo, Palavra de Deus. É o desejo manifesto de reconhecer que, sim, somos pó e voltaremos ao pó, mas nos é reservada a eternidade.
Também, neste tempo de Quaresma, voltamos aos quarenta anos que o povo de Israel caminhou no deserto, onde foi aprendendo a ser fiel a Deus, a converter-se. Lá, eles tinham em vista a Terra prometida, “terra onde corre leite e mel” (Ex 3,16-17; Nm 13,27, etc); para nós, hoje, é esse desejo de eternidade, é o Céu. Fazemos essa caminhada de quarenta dias numa perspectiva de eternidade, porque o Cristo nos deu a Vida.
Para entrar, então, nessa Quaresma, a Igreja nos propõe um “tripé” formado pela oração, pelo jejum e pela esmola:
• A oração deve ser o nosso alimento quotidiano, porque sem ela não tem como haver diálogo com Deus. E somente estando em sintonia com Deus é que se podem vencer as tentações;
• Se dermos uma olhada assim, superficialmente, pode até parecer que no nosso tempo a Igreja aboliu o jejum da vida dos fiéis. Não aboliu. O jejum é para a mortificação, algo que facilita a nossa sintonia com Deus;
• A oração deve ser o nosso alimento quotidiano, porque sem ela não tem como haver diálogo com Deus. E somente estando em sintonia com Deus é que se podem vencer as tentações;
• Se dermos uma olhada assim, superficialmente, pode até parecer que no nosso tempo a Igreja aboliu o jejum da vida dos fiéis. Não aboliu. O jejum é para a mortificação, algo que facilita a nossa sintonia com Deus;
• A Igreja pede para que tenhamos um olhar atento àqueles que precisam, por diversas circunstâncias da vida, da nossa ajuda, também por meio da esmola.
Eu acrescentaria a estas propostas, sobretudo para quem vive numa comunidade de fé, numa paróquia, a correção fraterna.
Outra coisa muito importante, de que os últimos Papas têm falado muito, é que é preciso redescobrir cada vez mais a importância do Sacramento da Confissão. Não podemos viver uma boa Quaresma se não buscarmos este Sacramento fundamental, que nos deixa em Paz com Deus. Quando, por meio do sacerdote, recebemos o perdão dos pecados, tornamo-nos renovados, transformados.
É um tempo, enfim, de conversão, de se tentar ser melhor; de perceber onde precisamos de mudanças. Antes da Páscoa, que é o tempo da alegria, há a Quaresma, – que por sua vez não deve ser vivida com tristeza, e por isso o próprio Senhor Jesus nos advertiu de que quando fizéssemos jejum e penitência não ficássemos com “cara de morto”, mas, ao contrário, que o façamos nessa perspectiva de vida, de eternidade.
A Quaresma é um tempo propício para tomarmos consciência de que não somos nossos próprios deuses. Se vivermos bem a Quaresma, se chegarmos à Páscoa depois de termos percorrido um bom itinerário quaresmal, teremos então a convicção de que a Pátria Celeste nos está reservada.
Felipe Marques/OFC: Então a Quaresma não deve ser vivida apenas em atitudes externas, mas com o coração, e buscando realmente um coração penitente, que ama. Gostaria de pedir para os nossos leitores alguns conselhos bem objetivos e práticos sobre como viver esse tempo com bons frutos.
Pe. Reginaldo: Além de buscar o Sacramento da Confissão, buscar os frutos da misericórdia, praticando o que o Senhor nos exorta no capítulo 25 do Evangelho segundo São Mateus: visitar e assistir os doentes, os presos (às vezes, olhando humanamente achamos que ali está uma pessoa perdida, mas quando levamos a misericórdia de Deus, a vida dessa pessoa pode ser transformada); dar de comer aos famintos; doar roupas aos que não tem com que se vestir; acolher os peregrinos.
Além disso, vida de oração profunda e sincera, não para mostrar aos outros, e sim porque precisamos. Buscar a santidade de vida, como foi tão pedido por S. João Paulo II aos leigos e, agora, temos um exemplo belíssimo com a canonização dos pais de Sta. Teresinha, Luís Martin e Zélia Guérin, que buscaram a santidade e a deram, pelo exemplo, às suas filhas. Além disso, é viver a fé profundamente, no perdão ao próximo, na compaixão, banhando-nos na misericórdia de Deus e sendo misericordiosos, porque, muitas vezes, pelos nossos atos, pelo nosso mal exemplo, afastamos as pessoas da Igreja.
Felipe Marques/OFC: Qual a origem da penitência que a Igreja propõe para estes dias, e qual o seu significado na vida do cristão?
Pe. Reginaldo: os Padres da Igreja já viviam esta dimensão da penitência, que tem origem nas Sagradas Escrituras, desde os tempos do Antigo Testamento até o próprio Evangelho, e foi ainda mais desenvolvida na Idade Média. Vemos que no pensamento antigo tinha muita importância a prática da penitência na perspectiva de busca da mudança de vida.
Não buscamos a penitência pela penitência, mas sim com esse objetivo de mudança de vida, como eu disse, na perspectiva da eternidade, pelo desejo que temos de nos encontrar com o Senhor, que quer nos salvar. Vivemos, ao mesmo tempo, o “já” e o “ainda não”. O já, que estamos experimentando agora, e o que ainda não chegou, mas é uma certeza. Quando entramos na penitência com esse correto desejo, vêm os frutos.
Às vezes temos certos vícios, e este é um bom momento para confrontá-los, para buscar vencê-los. Mas é preciso um esforço, como eu dizia hoje, na Santa Missa. Não adianta dizer: "Durante esse tempo não vou comer carne, mas vou começar a comprar salmão de primeira". Se eu substituo um prazer por outro, não há sentido. Devemos então oferecer aquele esforço a Deus, e até de modo concreto podemos fazê-lo. Por exemplo, com o dinheiro que eu usaria para comprar tal alimento, se por mês eu gasto tanto, vou usá-lo para ajudar alguma instituição de caridade da Igreja, para que possa ajudar outras pessoas que sofrem. Tudo deve ser feito nesta perspectiva.
Não devemos fazer a penitência por fazer, – ou então ela se torna masoquismo, – mas fazer em vista da eternidade e da nossa salvação eterna, por amor daquEle que veio ao nosso encontro e se doou totalmente por amor.
Hoje as pessoas têm muito medo de fazer penitência, jejum ou qualquer coisa que as prive do seu conforto, dos seus prazeres. Querem viver uma religião "light", na qual tudo pode e tudo se justifica. Querem reinventar a Igreja, reinventar o Credo, reinventar os costumes, porque estamos em outros tempos. Mas a Igreja, como eu disse antes, nunca ab-rogou a mortificação, a penitência e o jejum.
A penitência verdadeira é essa, que me acusa das minhas dificuldades. Por isso, o exame de consciência, todas as noites, sobretudo nesse tempo da Quaresma, deve me ajudar a ser um católico melhor, que coopera com a Graça. Somos cooperadores da Graça e nossa missão é buscar uma semelhança cada vez maior com Jesus, para que também na Páscoa esplandeçamos na sua Ressurreição.
Agora, no Ano da Misericórdia, teremos a indulgência, que pode ser usada para si mesmo ou para outra pessoa. É preciso que os católicos se informem bem a esse respeito.
Felipe Marques/OFC: No Antigo Testamento vemos o mau exemplo de alguns que só observavam a letra da Lei; vem o Cristo, vem a Igreja e nos ensina a elevar essa penitência muito além. O significado da penitência, então, é o de configurar-se ao Cristo no deserto?
Pe. Reginaldo: Justamente. O deserto é um lugar de pesadelos, mas no sentido que Cristo lhe confere é lugar de encontro com Deus. É possível, por meio das tentações com que somos atormentados, alcançar o Encontro com Deus. É possível! Nós somos tentados, por exemplo, com as facilidades da vida. O diabo disse ao Senhor: "Se és Deus, vai, transforma estas pedras em pães!". No nosso dia a dia, temos esta mesma tentação, das facilidades e dos confortos, de querermos as coisas sempre fáceis, sem nenhum esforço.
Há também a tentação, aí embutida, de poder. O demônio é tão "tinhoso" que vemos no Evangelho como Jesus foi ao deserto cheio do Espírito Santo. Depois de muito tempo começou a sentir fome, e foi então que o demônio agiu. Esperou um momento de fragilidade e então atacou. O diabo espera o momento exato para atacar.
Precisamos então estar sempre atentos, porque temos o desejo das coisas fáceis, além do desejo das glórias do mundo e do poder.
Além disso, temos a tentação de tentarmos nós a Deus diante de uma situação de doença, ou diante da perspectiva da morte. Queremos sempre questionar: "Por quê? Por que isso? Por que Deus me deixou só?"... São assim as coisas, mas Jesus nos ensina como vencer. São Jerônimo dizia que não há como se conhecer a Cristo a não ser pelos Evangelhos, e o próprio Cristo nos ensina que não há como vencer as tentações se não for por uma vida de oração.
"Orai sem cessar!" (1Ts 5,17). Hoje mesmo eu dizia, na Missa: quantas vezes alguém diz que não tem tempo para rezar, e vai perdendo seu tempo com bobagens? Tem tempo para assistir o "Big Brother" mas não tem tempo para fazer um exame de consciência à noite.
Hoje, muitos fiéis vivem na ignorância porque não tiveram quem lhes ensinasse. Muitos padres, hoje, querem agradar, querem ser simpáticos, queridos, amigos de todo mundo. Eu costumo dizer que quem quer ser amigo de todo mundo não é amigo de ninguém. Muitas vezes o padre, além de viver esta igreja "light", também ensina esta falsa igreja "light", que se desnuda dos seus preceitos essenciais, que não exige a penitência, o jejum, a conversão, a busca de Deus, o cultivo dos valores morais cristãos. Muitos dizem: "Isso não precisa", ou: "Agora pode aquilo"... Assim, inventam uma "igreja" ao seu bel prazer.
Felipe Marques/OFC: Algumas pessoas de outros credos dizem que não há sentido na mortificação, porque nosso Deus é Deus da vida e nos deu a vitória em Cristo. Outros afirmam que penitência é um conceito medieval ultrapassado e que não é saudável valorizar a dor e o sofrimento. O que o Sr. tem a dizer a esse respeito?
Pe. Reginaldo: Em primeiro lugar, as pessoas são muito desinformadas. Querem ler a História fora do seu contexto. Quando estudamos a história medieval, vemos que não é uma "época de trevas", como dizem alguns. Ao contrário, foi o período que nos deu a Universidade, nos deu grandes pensadores, nos deu os grandes místicos... A Idade Média foi, justamente, o lugar propício para o surgimento de tudo isso. Mas é claro que aqueles que não querem se mortificar vão tentar negar a realidade. Tanto é assim que hoje, após o Vaticano II, quase não temos mais manuais de ascese. O povo católico em geral, hoje, mal sabe o que significa ascese.
Mas aí vemos a história das vidas dos santos, e vemos que todos eles justamente praticavam a mortificação dos sentidos, em vista de uma vida plena. Mortificar os meus desejos egoístas; mortificar aquilo que não está de acordo com uma vida no Evangelho; mortificar às vezes o desejo carnal exacerbado, que pode haver em cada um de nós. A Idade Média foi uma idade de luzes, de homens e mulheres loucos por Deus. Mas em nosso tempo querem resumir o homem, – especialmente a psicologia freudiana, – apenas à libido, ao desejo sexual. Alguns dos primeiros padres perceberam que o desejo de mortificação fazia renascer o homem novo, e por isso renunciaram a tudo e foram viver no deserto. Mortificação, neste sentido, é santificação de vida.
Não se trata aqui de buscar o sofrimento pelo sofrimento. Não somos masoquistas nem devemo sê-lo. Mas quando vier o sofrimento, devemos saber fazer a sua releitura à luz dos sofrimentos de Cristo. É o que nos dá sentido! Também na morte, quando a olhamos à perspectiva da Morte e Ressurreição de Cristo, há um sentido novo; já não há mais desespero.
É preciso chegar á capacidade de um S. Francisco de Assis, que chamava "irmã" à morte. Ter certeza de que esta morte nos gera a vida eterna. Mas o homem deste século não quer mais o sofrimento. O homem deste século não quer a cruz. Como dizia o papa Bento XVI, ele exclui Deus da sua vida. E quando eu excluo Deus da minha vida, eu quero ser o meu próprio parâmetro. O que eu faço, eu justifico. É a sociedade do prazer, e do prazer pelo prazer.
É preciso chegar á capacidade de um S. Francisco de Assis, que chamava "irmã" à morte. Ter certeza de que esta morte nos gera a vida eterna. Mas o homem deste século não quer mais o sofrimento. O homem deste século não quer a cruz. Como dizia o papa Bento XVI, ele exclui Deus da sua vida. E quando eu excluo Deus da minha vida, eu quero ser o meu próprio parâmetro. O que eu faço, eu justifico. É a sociedade do prazer, e do prazer pelo prazer.
Precisamos resgatar mística, a espiritualidade. Precisamos redescobrir a importância de termos um diretor espiritual. Vemos o exemplo de S. João Maria Vianney, que se alimentava quase que exclusivamente de batatas cozidas na água com um salzinho, e ele dizia que aquilo era para lhe dar forças para vencer as tentações do demônio. Todos os dias o demônio bate à nossa porta. Mas uma sociedade que quer viver o hedonismo, que só busca o prazer pelo prazer, é claro que vai deturpar o que foi a época medieval. Basta ler a História da Europa, o que realizaram os mosteiros, as grandes bibliotecas, os monges trabalhando incessantemente pela disseminação da cultura.
É preciso resgatar esses manuais de ascese, e saber que a ascese é feita em vista de uma união mais profunda com Deus.
Pe. Reginaldo: Sim. E existem meios que vamos usando para isso. Algo que eu sempre digo aos meus dirigidos é que, assim como quando vamos construir uma casa, é preciso planejar, também na vida espiritual é preciso planejar, ver bem, refletir: "como vou entrar na minha vida espiritual? Como vou vencer as tentações do maligno?".
Sto. Inácio usa muito um método de escrever, na elaboração de uma metodologia. Botar as nossas experiências e aprendizados no papel pode ser um bom auxílio. Esses manuais (de vida espiritual), que infelizmente quase não os temos traduzidos em português, tornam-se algo que vai nos ajudando, que vai colaborando conosco nesse percurso. Quando vemos exemplos como o de uma Sta. Tereza de Ávila, um S. João da Cruz, entendemos o quanto pode ser útil registrar os nossos avanços nessa experiência cada vez mais íntima com Cristo. Como nos diz o papa emérito Bento XVI, se não temos medo de nos doar para Ele, Cristo não nos tira nada.
Muitas vezes, na cabeça do povo, essas coisas de Mística, de mortificação para a união profunda com Deus, são reservadas apenas aos padres ou religiosos. Muitos pensam que podem "viver a vida adoidado" e, somente quando chegar perto o último dia, aí se converterão e pronto. Estão perigosamente enganados!
Na verdade, ensinar o povo é a missão da Igreja e do padre. A Igreja, justamente através de suas obras sociais, e talvez especialmente por meio dos leigos, pode e deve realizar a caridade. Mas enquanto sacerdote, enquanto Igreja ministerial, cabe lembrar aquela frase de S. João Maria Vianney, quando pergunta ao menino que encontra pelo caminho: "Você sabe onde fica Ar's?", e o menino lhe responde bem, ao que o Santo responde: "Muito bem. Você me ensinou o caminho da paróquia, então eu vou lhe ensinar o caminho do Céu".
Penso que as questões sociais podem ficar a cargo dos leigos; devemos preparar bem os leigos para que sejam bons agentes de caridade, mas, enquanto Instituição, a missão principal da Igreja é salvar as almas. Talvez estejamos muito empenhados ultimamente em preencher espaços que não são nossos, mas da política. Vemos, por exemplo, a "campanha da fraternidade" deste ano. O comentário inicial do folheto da Missa, de introdução à campanha, mais parecia a apresentação das bases de um programa de governo do que uma exortação da Igreja. O comentário inicial de uma Celebração Eucarística deveria nos ajudar a viver bem o tempo da Quaresma, e nos preparar para o Mistério que será celebrado. Mas ali não se falava de conversão, de procura de Deus no sentido mais profundo.
Penso que as questões sociais podem ficar a cargo dos leigos; devemos preparar bem os leigos para que sejam bons agentes de caridade, mas, enquanto Instituição, a missão principal da Igreja é salvar as almas. Talvez estejamos muito empenhados ultimamente em preencher espaços que não são nossos, mas da política. Vemos, por exemplo, a "campanha da fraternidade" deste ano. O comentário inicial do folheto da Missa, de introdução à campanha, mais parecia a apresentação das bases de um programa de governo do que uma exortação da Igreja. O comentário inicial de uma Celebração Eucarística deveria nos ajudar a viver bem o tempo da Quaresma, e nos preparar para o Mistério que será celebrado. Mas ali não se falava de conversão, de procura de Deus no sentido mais profundo.
Felipe Marques/OFC: Retornando à questão bem prática da penitência, deixar de comer algo de que se gosta muito, como o chocolate, parece ser a mais popular forma de penitência durante a Quaresma. Isto é válido? Que outras formas o Sr. sugeriria?
Pe. Reginaldo: Sim, é válido, desde que se dê a isso o sentido correto, como eu disse: o que farei com o dinheiro que economizarei deixando de comprar o chocolate? Um paroquiano, por exemplo, me contou que deixara de tomar refrigerante mas passara a beber, em seu lugar, cerveja. Isto não tem sentido! Se eu estou simplesmente trocando uma coisa por outra, não é penitência nenhuma.
Então, se o chocolate está tomando tanta importância na sua vida que já quase se torna o seu "deus", é importante tirá-lo desse lugar e trazer Deus de volta. Assim, deixar de comer chocolate é válido se tiver um sentido maior e de acordo com o que a Igreja pede.
Então, se o chocolate está tomando tanta importância na sua vida que já quase se torna o seu "deus", é importante tirá-lo desse lugar e trazer Deus de volta. Assim, deixar de comer chocolate é válido se tiver um sentido maior e de acordo com o que a Igreja pede.
Felipe Marques/OFC: Abstenho-me, então, de um prazer temporal, que me dá certa satisfação, para me lembrar que o meu maior e eterno prazer é o Cristo, que é minha própria vida?
Pe. Reginaldo: Nós, cristãos católicos, precisamos nos lembrar o tempo todo de que toda glória, adoração e louvor pertencem ao Cristo. Enquanto os primeiros cristãos não falaram abertamente de Cristo, foram aceitos nas sinagogas. Mas quando se apresentaram na comunidade judaica dizendo que o SENHOR é o Cristo, foram expulsos. O seu bem maior é o seu Deus.
Pe. Reginaldo: Já que penitência é buscar a mudança de vida, a forma mais perfeita de penitência e mortificação é esta: buscar com toda a seriedade o Sacramento da Penitência ou da Confissão, e na medida do possível ensinar também o outro a como se confessar, como fazer um bom exame de consciência, a acusar-se a si mesmo e não ao outro. Muita gente ainda não sabe como se confessar.
É preciso que tenhamos a certeza de que somos todos chamados à santidade. Muita gente se contenta, dizendo: "Eu sou pecador e não tem jeito"... Não! O pecado foi um acidente na vida do ser humano. Ele aceitou o pecado. Mas nós não somos chamados ao pecado, de modo algum. Somos chamados a sermos santos. É por isso que Cristo vai nos mostrar que podemos nos tornar o homem novo, renascido. E não são as práticas exteriores que nos tornam santos, mas a nossa verdadeira busca interior. Qual o seu bem maior? Qual a coisa mais importante da sua vida? Aí está o seu deus, ou o seu Deus.
S. Francisco de Sales estava prestes a fundar uma congregação religiosa, e Sta. Joana Francisca de Chantal, que era viúva e tinha quatro filhos, quis ser aceita. S. Francisco, que era o seu confessor, teve uma revelação de que havia sido ela a escolhida para ser a fundadora daquela congregação. Ao saber disso, ela imediatamente aceitou o chamado e partiu para cumprir a sua missão. Numa cena dramática, seus filhos (já crescidos e educados) se deitam à porta, para impedir que ela parta. Mas ela passa tranquilamente por sobre os filhos e diz: "Encontrei o meu Bem maior", que no caso dela era Deus. E vai em paz viver a sua vocação, deixando-os. Não se trata de falta de amor aos filhos, mas de ter encontrado o Tesouro que faz deixar todos os outros pertences, o Bem maior que faz desaparecer todos os nossos pequenos bens e afetos deste mundo.
Por sermos imperfeitos neste mundo, muitos perdem tempo com essa bobagem de querer saber se no Céu encontraremos fulano ou ciclano. Isso não interessa! Aqui precisamos dessas pequenas coisas sem importância, porque temos muitas carências; mas, lá no Céu, não teremos mais necessidade nem de pais, nem de filhos, nem de esposos ou parentes ou entes queridos de espécie alguma, porque estaremos contemplando a Deus face a Face, diante dEle, vivendo em plenitude, em absoluta e impenetrável felicidade. Seremos plenos nEle.
Por isso mesmo é preciso muito cuidado para não sairmos do nosso campo, – nós, Igreja. – Nossa missão é ensinar às pessoas a chegarem, antes de tudo, a esta Fonte. Como ressalta a Gaudium et Spes, a Igreja, consciente de sua identidade própria, tem uma palavra para ir ao mundo e dizer ao mundo, e assim vai purificar o mundo. Esta é a palavra de salvação e de santificação, e não um discurso ideológico ou uma mensagem meramente humanitária. Devemos nos aproveitar dos muitos novos "aerópagos" que existem hoje no mundo, sim, mas para falar de Cristo e do Evangelho.
Muitos querem mudar a essência do Evangelho para agradar o mundo. Mas se você mostra a verdadeira Igreja, está conscientizando o mundo. Por exemplo, esse pensamento de que o padre usar batina espanta o povo. Isso não é verdade; trata-se apenas de uma falsa justificativa inventada por quem não quer usar. Quando a coisa está boa, quando é só para louvar a Deus, cantar e celebrar com júbilo, todos querem, todos estão lá. Já quando vêm as dificuldades, muita gente foge, buscando paliativos onde não existem, querendo matar a sede com água que não é pura.
Felipe Marques/OFC: As obras de caridade e os exercícios de piedade têm valor igual ao da própria penitência?
Pe. Reginaldo: São coisas diferentes. Uma coisa não substitui a outra. Temos a Via-Sacra, por meio da qual contemplamos a Via Dolorosa de Cristo. Mais uma vez, vemos que ultimamente nossas Vias-Sacras têm falado mais de outras coisas do que dos Mistérios da Paixão de Nosso Senhor. Enfim, na Via-Sacra devemos meditar sobre as dores e todo o sofrimento de Cristo e ver como esse Deus loucamente apaixonado pela humanidade nos salvou, e no que podemos agora fazer por Ele.
Também na reza do santo Rosário meditamos esses Mistérios da Vida de Cristo. E há a Adoração Eucarística, ao Santíssimo Sacramento. Uma grande dor minha é ver que faltam adoradores para adorar o Senhor às quintas-feiras, em nossa paróquia. – Faltam fiéis para adorá-lo em silêncio. –As pessoas querem muito fazer barulho, se expressar, cantar, rezar em alta voz... As pessoas querem jogar, gritar seus louvores diante de Deus, mas Deus não precisa do nosso barulho, Ele não precisa nem mesmo dos nossos louvores. Na verdade, o nosso mundo quer fazer barulho, mas é preciso ensinar o povo a adorar a Deus. Se eu faço barulho o tempo todo, não me confronto, em meu íntimo, com aquilo que está errado dentro de mim e na minha vida.
Lembro-me que minha infância foi marcada por outras orações e devoções; tento resgatar esse tempo. Aqui em nossa paróquia, na Semana Santa, fazemos a "Procissão do Encontro", que representa o encontro de Nossa Senhora com seu Filho, – e não é um encontro desesperado, porque ela crê nas palavras do Senhor; – este ano teremos também o "Ofício de Trevas" para meditar o sofrimento de Cristo.
Assim, não são coisas excludentes. Não é dizer: "Não vou fazer a penitência porque fiz tal obra". Não. São coisas que se complementam; assim como o fato de termos agora Missa na TV não nos desobriga de ir à igreja todos os domingos.
Assim, não são coisas excludentes. Não é dizer: "Não vou fazer a penitência porque fiz tal obra". Não. São coisas que se complementam; assim como o fato de termos agora Missa na TV não nos desobriga de ir à igreja todos os domingos.
Felipe Marques/OFC: O que lucram as almas que vivem uma Quaresma santa, com piedade e pura devoção?
Pe. Reginaldo: Numa só palavra, o Céu. E o gozo de, como diz o Salmo, saber que nas dores o Senhor está comigo. Uma alma dessas sabe que vive em íntima união com Deus e com seu Filho Jesus Cristo. Está no Céu já aqui na Terra. Não se pode querer mais do que isso. Estas são realidades que também precisam ser ditas: existe o Céu e existe o Inferno.
Felipe Marques/OFC: Finalizando, na Liturgia da Quarta-feira de Cinzas, – eu que admiro a beleza e a coerência da Liturgia da santa Igreja, – há a leitura do Livro de Joel (2,13), que diz: "Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, voltai ao SENHOR vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, longânime e indulgente, pronto a arrepender-se do castigo que inflige". Gostaria que o Sr. comentasse um pouco sobre esta passagem.
Pe. Reginaldo: "Rasgar o coração" é dizer que dependo em tudo de Deus. Tudo é Graça de Deus. "Rasgar o coração" é assumir esse desejo. Lembra a figura do pelicano, que para dar de comer aos filhotes rasga suas entranhas, e os filhotes famintos alimentam-se das suas próprias entranhas. Assim, rasgar o coração é dizer: sou todo de Deus, meu coração é todo de Deus.
Muitas vezes não vivemos no interior aquilo que afirmamos no exterior. E outras vezes vivemos uma religião muito exterior, de aparências, de gestos vazios. É preciso saber que dependemos dessa Graça de Deus e buscar esta conversão total. O tempo de Deus está próximo, e Ele é rico em misericórdia. Basta que o homem reconheça o seu perdão.
Um dos grandes de Israel foi Davi. E veja quanta loucura Davi fez! Não teve dúvidas de mandar Urias à frente, no campo de batalha, para a morte, e quantos outros pecados cometeu. Mas, sempre que se apercebeu de seus pecados, voltava seu coração para Deus, se arrependia e suplicava o Perdão divino.
Veremos agora nas leituras de Páscoa outro exemplo, o de Abraão pedindo a Deus: "Se tiver na cidade cinquenta justos, pouparás o lugar?", e Deus responde: "Se Eu em Sodoma achar cinquenta justos, pouparei a todo o lugar por amor deles". "Se porventura de cinquenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade?”, torna Abraão, e Deus respondeu que, se houvesse quarenta e cinco justos em Sodoma, Ele não destruiria a cidade. O diálogo continua e Abraão vai diminuindo o número de justos em Sodoma, de quarenta e cinco para quarenta, depois para trinta, depois para vinte, até chegar a dez justos, e Abraão tem a garantia do SENHOR de que dez justos em Sodoma poupariam toda a cidade.
Nosso Deus é Rico em misericórdia. Não adianta, entretanto, tentar enganá-Lo. É preciso "rasgar o coração", porque Deus nos conhece melhor do que nós mesmos. Podemos nos enganar, mas não a Deus. Então, quando rasgamos o coração, rasgamos nossas entranhas e mostramos, sem medo, aquilo que somos diante de Deus. Deus quer isso; Ele já conhece os nossos pecados e quer nos perdoar. Mas a arrogância do homem é tão grande que às vezes usamos isto contra nós mesmos, dizendo: "Deus já sabe, então não preciso dizer nem me confessar". Mas Deus espera esse desejo, essa tomada de consciência e essa resolução de voltar à Casa do Pai.
No contexto bíblico, o coração é a sede da vida. Assim, rasgar o coração é derramar toda a vida diante de Deus, para que Ele entre e tome posse e assim possamos ter a vida verdadeira.
Pe. Reginaldo: Numa só palavra, o Céu. E o gozo de, como diz o Salmo, saber que nas dores o Senhor está comigo. Uma alma dessas sabe que vive em íntima união com Deus e com seu Filho Jesus Cristo. Está no Céu já aqui na Terra. Não se pode querer mais do que isso. Estas são realidades que também precisam ser ditas: existe o Céu e existe o Inferno.
Felipe Marques/OFC: Finalizando, na Liturgia da Quarta-feira de Cinzas, – eu que admiro a beleza e a coerência da Liturgia da santa Igreja, – há a leitura do Livro de Joel (2,13), que diz: "Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, voltai ao SENHOR vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, longânime e indulgente, pronto a arrepender-se do castigo que inflige". Gostaria que o Sr. comentasse um pouco sobre esta passagem.
Pe. Reginaldo: "Rasgar o coração" é dizer que dependo em tudo de Deus. Tudo é Graça de Deus. "Rasgar o coração" é assumir esse desejo. Lembra a figura do pelicano, que para dar de comer aos filhotes rasga suas entranhas, e os filhotes famintos alimentam-se das suas próprias entranhas. Assim, rasgar o coração é dizer: sou todo de Deus, meu coração é todo de Deus.
Muitas vezes não vivemos no interior aquilo que afirmamos no exterior. E outras vezes vivemos uma religião muito exterior, de aparências, de gestos vazios. É preciso saber que dependemos dessa Graça de Deus e buscar esta conversão total. O tempo de Deus está próximo, e Ele é rico em misericórdia. Basta que o homem reconheça o seu perdão.
Um dos grandes de Israel foi Davi. E veja quanta loucura Davi fez! Não teve dúvidas de mandar Urias à frente, no campo de batalha, para a morte, e quantos outros pecados cometeu. Mas, sempre que se apercebeu de seus pecados, voltava seu coração para Deus, se arrependia e suplicava o Perdão divino.
Veremos agora nas leituras de Páscoa outro exemplo, o de Abraão pedindo a Deus: "Se tiver na cidade cinquenta justos, pouparás o lugar?", e Deus responde: "Se Eu em Sodoma achar cinquenta justos, pouparei a todo o lugar por amor deles". "Se porventura de cinquenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade?”, torna Abraão, e Deus respondeu que, se houvesse quarenta e cinco justos em Sodoma, Ele não destruiria a cidade. O diálogo continua e Abraão vai diminuindo o número de justos em Sodoma, de quarenta e cinco para quarenta, depois para trinta, depois para vinte, até chegar a dez justos, e Abraão tem a garantia do SENHOR de que dez justos em Sodoma poupariam toda a cidade.
Nosso Deus é Rico em misericórdia. Não adianta, entretanto, tentar enganá-Lo. É preciso "rasgar o coração", porque Deus nos conhece melhor do que nós mesmos. Podemos nos enganar, mas não a Deus. Então, quando rasgamos o coração, rasgamos nossas entranhas e mostramos, sem medo, aquilo que somos diante de Deus. Deus quer isso; Ele já conhece os nossos pecados e quer nos perdoar. Mas a arrogância do homem é tão grande que às vezes usamos isto contra nós mesmos, dizendo: "Deus já sabe, então não preciso dizer nem me confessar". Mas Deus espera esse desejo, essa tomada de consciência e essa resolução de voltar à Casa do Pai.
No contexto bíblico, o coração é a sede da vida. Assim, rasgar o coração é derramar toda a vida diante de Deus, para que Ele entre e tome posse e assim possamos ter a vida verdadeira.
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