Publicado em 18/02/2018
Iesus ductus est in desertum a spiritu, ut
tentaretur a diabolo — “Jesus foi levado pelo espírito
ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Matth. 4, 1).
Sumário. Meu irmão, se o Senhor permite que sejas tentado,
não desanimes, porquanto vê nisso um sinal de que Ele te ama e te quer fazer
mais semelhante a Jesus Cristo, que, como refere o Evangelho de hoje, foi
também tentado. Esforça-te, porém, a exemplo do próprio Redentor, por empregar
todos os meios para seres vencedor. Especialmente refreia as tuas pequenas
paixões desordenadas, mortificando-as pela penitência e recorre sempre a Deus
pela oração contínua.
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I.
Os trabalhos que mais afligem nesta vida às almas amantes de Deus, não são
tanto a pobreza, a enfermidade e as perseguições, como as tentações e as
securas espirituais. Quando a alma goza da amorosa presença de Deus, todas as
tribulações, em vez de a afligirem, mais a consolam, fornecendo-lhe a ocasião
para oferecer a Deus algum penhor de seu amor. Mas ver-se pela tentação em
perigo de perder a graça divina e temer na secura que já a perdeu, é isso uma
pena demasiado amarga para quem ama deveras a Deus. — Observemos, porém que é esta
a sorte comum das almas santas: Quia acceptus eras Deo, necesse fuit,
ut tentatio probaret te (1) — “Porque eras aceito de Deus, por isso
foi necessário que a tentação te provasse”.
Quem
foi mais santo do que Jesus Cristo? Todavia ele foi levado pelo espírito
ao deserto para ser tentado pelo diabo. Em primeiro lugar, foi tentado de
gula, porque “tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome. E
chegando-se a Ele o tentador, disse: Se és Filho de Deus, dize que estas pedras
se convertam em pães.”
Depois
foi tentado de presunção, porque “o diabo o transportou à cidade santa e O pôs
sobre o pináculo do templo e Lhe disse: Se és Filho de Deus, lança-te daqui
abaixo, porque está escrito: Recomendou-te aos seus anjos, e eles te levarão
nas palmas das mãos, a fim de que nem sequer tropeces numa pedra.” Finalmente
foi tentado de idolatria; porque o diabo, vendo-se vencido uma outra vez, “o
transportou ainda a um monte muito alto, e mostrou-Lhe todos os reinos do mundo
e a glória deles e Lhe disse: Todas estas coisas te darei, se prostrado me
adorares.”
Uma
alma, pois, por se ver tentada, não deve ainda temer como se já tivesse caído
no desagrado de Deus, que a quer tornar mais semelhante a seu Filho unigênito e
dar-lhe ocasião para adquirir grandes méritos para o céu. Quoties
vincimus, toties coronamur — “Cada vitória é uma nova coroa”,
diz São Bernardo.
II.
Os meios de que nos devemos servir para vencer as tentações são os mesmos que
nosso divino Redentor nos ensina com o seu exemplo no Evangelho de hoje.
— Cum ieiunasset quadraginta diebus – Jesus jejuou quarenta
dias. Para vencermos todas as tentações, e em particular a dos sentidos, é
mister que nós também, especialmente neste tempo de Quaresma, mortifiquemos a
carne pelo jejum, pela penitência, e pelo recolhimento, e que ao mesmo tempo
avigoremos o espírito com meditações e orações, porque não só de pão
vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
Non
tentabis Dominum Deum tuum — “Não tentarás ao Senhor teu
Deus”. Para vencermos as tentações, devemos em segundo lugar evitar as
ocasiões de pecado. Aqueles que se expõem voluntariamente aos perigos e não
pretendem cair, tentam Deus para fazer milagres. A custódia dos anjos, diz São
Bernardo, é prometida a quem caminha nos caminhos de Deus,viis suis, e
não àquele que se expõe voluntariamente ao perigo de cair num abismo. — Vade,
Satana – “Vai-te, Satanás”.
Finalmente
o terceiro meio para sairmos vencedores, consiste em expulsarmos o demônio
inteiramente de nossa alma e em estarmos resolvidos a adorar a Deus
nosso Senhor, e servi-Lo a Ele só. Ó! Quantos há que não cuidam em refrear
as suas paixões nascentes e que imaginam poder servir a dois senhores. Mas
depois, ao primeiro assalto mais forte de qualquer tentação, acabam por cair e
perder-se eternamente!
Ó
meu amabilíssimo Jesus, vejo que no passado caí e recaí tão miseravelmente,
porque me descuidei de imitar os vossos divinos exemplos. Arrependo-me de todo
o coração; peço-Vos perdão e prometo que para o futuro serei mais cuidadoso.
Mas fortalecei a minha fraqueza. Eu Vo-lo peço pela mortificação que
praticastes, abstendo-Vos por quarenta dias de toda a alimentação, e pela
humildade que mostrastes, permitindo ao demônio que Vos tentasse como a
qualquer outro filho de Adão. “Ó Deus, que purificais a vossa Igreja com a
anual abstinência quaresmal: concedei à vossa família, que com boas obras
execute o que de Vós deseja obter com a sua abstinência.” (2) † Doce
Coração de Maria, sêde minha salvação. (*I 837.)
1.
Tob. 12, 13.
2. Or. Dom. curr.
2. Or. Dom. curr.
Meditações:
Para todos os Dias e Festas do Ano:
Tomo I – Santo Afonso
http://catolicosribeiraopreto.com/primeiro-domingo-da-quaresma-jesus-no-deserto-e-as-tentacoes-das-almas-escolhidas/#more-12220
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