Bi sp o Al ex and e r (M il e an t )
Conteúdo:
O mistério da redenção. O Cordeiro de Deus, Que tomou sobre Si os pecados do mundo. Cristo fala
dos próprios padecimentos na Cruz. O que os apóstolos ensinaram sobre o sacrifício redentor do
Salvador. O significado da Cruz de Cristo em nossa vida.
Suplemento
Akáfist a nosso Senhor Jesus Cristo.
O mistério da redenção.
A seguinte estória poderá esclarecer parcialmente o assunto que queremos discutir
aqui. Um homem rico era pai de dois filhos. O primogênito era calmo, trabalhador e
obediente. O mais novo, ao contrário, era preguiçoso, descuidado e teimoso e gostava de
fugir de casa para viver cercado de más companhias, magoando seu pai imensamente.
Certa vez, o pai ausentou-se por alguns dias acompanhado do filho mais velho e o
mais novo aproveitou-se da ocasião e decidiu dar uma festa para seus amigos em casa. A
música ressoou e o vinho jorrou. Os amigos excitados pelo vinho iniciaram uma
discussão, que se seguiu de uma grande luta resultando em vários feridos e um incêndio
na casa. O jovem fugiu e desapareceu para escapar do castigo. O pai ao retornar para casa
ficou muito aborrecido com seu filho. O filho mais velho sentindo pena de seu irmão foi
procurá-lo. Depois de buscá-lo por muitos anos, ele finalmente encontrou-o doente e em
estado lastimável, encarcerado em uma cidade vizinha. Ele pagou a fiança, cuidou de sua
saúde, vestiu-o com roupas novas e o levou para casa. Entretanto, o filho mais novo
reconhecendo-se culpado, temia aparecer diante de seu pai. O irmão mais velho para
ajudá-lo foi até o pai, lançou-se de joelhos diante dele e chorando, suplicou o perdão para
o irmão mais novo, garantindo que ele havia mudado e se prontificou a restituir todos os
prejuízos que seu irmão havia causado. O pai, comovido pela demonstração de amor do
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filho mais velho, perdoou tudo e aceitou o mais novo incondicionalmente de braços
abertos. O mais jovem tendo tornado-se experiente pelas desgraças sofridas e, sobretudo
pela generosidade de seu irmão, mudou completamente e permaneceu para o resto de sua
vida como consolo e apoio para seu velho pai.
A semelhança dessa estória com o ensinamento cristão em relação à salvação da
humanidade levada a efeito por nosso Senhor Jesus Cristo, consiste no fato de que todos
os homens assim como o irmão mais novo passaram a viver na iniqüidade, privando-se
do auxílio de Deus e se sujeitando a um grande número de sofrimentos. O Senhor Jesus
Cristo, assim como o irmão mais velho, veio ao nosso mundo pecador para nos salvar e
nos devolver à casa de nosso Pai ― ao Paraíso. Ele nos libertou de nossa escravidão às
paixões e curou os males de nossa alma. Através de Seu sacrifício devolveu-nos o auxílio
do Pai Celestial, mostrou-nos o caminho da Vida Eterna e com Seu amor infinito
inspirou-nos o desejo e força para a prática do bem.
As Sagradas Escrituras utilizam exemplos vivos da vida diária, que são as parábolas
referentes ao pastoreio e à agricultura da época, tornando assim mais compreensiva a
ação salvadora de nosso Senhor Jesus Cristo. Entre as mais relevantes para nosso assunto
estão a parábola da ovelha desgarrada, encontrada e salva pelo bom pastor (cf. Mt
18:12-14); a parábola da figueira estéril, cuidada pelo jardineiro precavido (cf. Lc 13:6-
9) e a parábola da vinha, que veio o filho do dono para a colheita (cf. Mt 21:33-44; Is
5:1-8). Essas narrativas bíblicas, por um lado, lembram-nos como a raça humana tornouse
perdida e espiritualmente estéril por causa do pecado; por outro lado, elas revelam que
a razão principal que levou o Filho de Deus vir a terra foi Seu amor e Sua grande
compaixão para conosco.
Quanto mais estudamos as Escrituras mais nos convencemos, de que os sofrimentos
de redenção na cruz do Homem-Deus constitui o ponto primordial da vida terrena do
Filho de Deus encarnado. Ele lavou nossos pecados com Seus sofrimentos e restituiu
nossa dívida com Deus, ou na linguagem bíblica, Ele nos “redimiu.” No Gólgota está o
mistério indecifrável da infinita veracidade do amor de Deus. Os pescadores da Galiléia
testemunham com a maior simplicidade, que o Filho Unigênito de Deus encarnado,
voluntariamente, tomou para Si a culpa da humanidade e sofreu por ela uma humilhante e
tormentada morte na cruz, ressuscitando ao terceiro dia, vencendo a morte e o inferno. Os
apóstolos não tentam explicar, porque para o perdão dos pecados foi necessário um
Sacrifício tão terrível ou se Deus tinha algum outro caminho para nos salvar. Sem dúvida,
a vida toda de nosso Senhor Jesus Cristo, cada palavra e atitude, incluindo Sua
encarnação estava dirigida para nós. Isso nos faz pensar que Ele veio a terra e Se fez
homem, colocando em nossa natureza corroída a torrente poderosa de Sua força Divina.
As Suas orações pelo mundo, os exemplos de Seu amor e compaixão para com os fracos
e oprimidos, o Seu amor ao próximo e Sua pureza, a Sua obediência absoluta ao Pai
Celestial e todas as Suas ações eram para a salvação dos homens. O objetivo de Seu
piedoso ensinamento com relação ao caminho que cada um deveria crer e viver e como
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cada um deveria esforçar-se para obter o Reino do Céu era para a salvação do homem.
Suas profecias e Seus incontáveis milagres confirmam a veracidade de Suas palavras e de
Sua procedência celestial. Entretanto, é importante perceber que todas essas obras do
Salvador não diminui o significado da Cruz. Nós fomos ensinados pelas Escrituras, que
Seus sofrimentos voluntários e morte foram absolutamente necessários para nossa
salvação, ou seja, que Sua morte na Cruz não ocorreu como conseqüência de
circunstâncias desfavoráveis, nem porque Ele aceitou isso somente para nos advertir,
conforme explicam alguns de modo simplificado, mas isso foi o principal e mais
importante acontecimento de Sua missão redentora. O Senhor veio ao mundo
especialmente para nos salvar através de Seus sofrimentos!
O ensinamento cristão sobre a crucificação do Deus-Homem tornou-se uma “pedra
no caminho” para certas pessoas com seus conceitos religiosos-filosóficos já formados.
Conforme sabemos pelas Escrituras, apresentava-se contraditória e até vergonhosa para
muitos hebreus, pagãos e pessoas da cultura grega dos tempos apostólicos, a afirmação de
que o Deus Onipotente e Eterno veio a terra na imagem de um homem mortal e que
suportou voluntariamente espancamentos, cuspidas no rosto e uma morte vergonhosa, e
que esta ação notável foi para o benefício espiritual da humanidade. “Tal coisa é
impossível”! ― exclamavam uns; “Isso é desnecessário”! ― afirmavam outros.
Esse aparente “disparate” da mensagem cristã é intencional para testar toda a
disposição do homem para a fé e para a confiança em seu Salvador. O apóstolo Paulo
compartilha com seus discípulos a experiência de suas pregações sobre a salvação em sua
epístola aos Coríntios:
“Porque Cristo não me enviou a batizar, mas a pregar o Evangelho, não com a
sabedoria das palavras, para que não se torne inútil a cruz de Cristo. Efetivamente, a
palavra da cruz é uma loucura para os que se perdem, mas, para os que se salvam,
isto é, para nós, é a virtude de Deus. Porque está escrito: “Destruirei a sabedoria dos
sábios e reprovarei a prudência dos prudentes.” Onde está o sábio? Onde o escriba?
Onde o indagador deste século? Porventura não convenceu Deus de loucura a
sabedoria deste mundo? De fato, como ante a sabedoria de Deus o mundo não
conheceu a Deus por meio da sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes por meio
da loucura da pregação. Enquanto os judeus exigem milagres e os gregos buscam a
sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e
loucura para os gentios, mas, para os que são chamados, quer dos judeus, quer dos
gregos, é Cristo virtude de Deus e Sabedoria de Deus” (1Cor 1:17-24).
Em outras palavras, o apóstolo esclarece, que alguns viam no cristianismo atos de
tentação e insensatez, mas no entanto, isso se constituía numa grandiosa manifestação da
sabedoria e onipotência Divina. A mensagem da morte redentora e da ressurreição do
Salvador serve como fundamento para muitas outras verdades cristãs, como por exemplo,
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os dons do Espírito Santo e a força dos sacramentos, o objetivo de nossa vida temporária,
de nossos sofrimentos, sacrifícios e lutas, a aquisição das virtudes, a necessidade do
julgamento final e a ressurreição da morte.
O modo como as pessoas compreendem os sofrimentos do Salvador na Cruz, revela
a sua disposição oculta para o bem ou para o mal. Simeão, o justo, profetizou esse fato à
Virgem Maria quando Ela trouxe o Menino Jesus ao templo: “Eis que este (Menino) está
posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de
contradição... a fim de se descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de
muitos” (Lc 2:34-35).
Juntamente com isso, a morte redentora de Cristo, um acontecimento que não pode
ser explicado pela lógica humana e que é até certo ponto “atrativa para o mortal,” possui
uma força revitalizante que é sentida por aquele que crê. Tanto o último dos escravos
quanto o mais poderoso dos reis, tanto o obscuro ignorante quanto o mais sábio entre os
sábios, renovados e aquecidos por essa força espiritual, trêmulos prostraram-se diante do
Gólgota.
O mistério da salvação da humanidade acha-se intimamente ligado com uma série de
fatores espirituais e psicológicos vitais. Para se entender esse mistério ao menos
parcialmente, tem que se entender primeiro os seus fatores relacionados:
a) compreender a essência dos males atribuídos ao ser humano, que foram causados
pelo pecado original, e ao mesmo tempo compreender o enfraquecimento de sua
vontade frente ao combate contra o mal;
b) compreender como a vontade do demônio, por causa de nossos pecados, ganhou a
habilidade de incutir e até mesmo de escravizar nossos desejos;
c) compreender como o amor de uma pessoa, é capaz de influenciar favoravelmente
uma outra pessoa e enobrecê-la. Compreender que se o amor verdadeiro é
predominantemente um sacrifício de amor ao próximo, ou seja, de renuncia à
própria vida por amor ao outro, esta é sem dúvida, a maior expressão de amor;
d) entender que se a força do amor humano é compreendida, é preciso elevar-se para
a compreensão da força do amor infinito de Deus e entender como essa força
penetra na alma daquele que crê, curando-o, elevando-o e transformando seu
mundo interior;
e) compreender que além disso, há o outro lado da redenção que transcende nosso
mundo físico. Na cruz ocorreu uma batalha entre o Incarnado Filho de Deus e o
orgulhoso Lucifer (satanás). Sob a imagem de um corpo indefeso, Jesus Cristo
ocultou Sua natureza divina e com isso dominou o satanás e seu reino da
escuridão.
Os detalhes da batalha espiritual e da vitória Divina permanecem para nós um mistério.
De acordo com o apóstolo Pedro, nem os anjos entendem completamente a verdade da
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Redenção (cf. 1Pedro 1:12). Isso pode ser comparado ao misterioso livro selado, que
somente o Cordeiro de Deus foi merecedor de abrir e ler (cf. Apoc 5:1-7).
O Cordeiro de Deus, Que
tomou sobre Si os pecados do mundo.
Os sofrimentos do Messias e Sua morte redentora foi o assunto de numerosas profecias e
acontecimentos espirituais significantes do Antigo Testamento. Entre eles estão o
sacrifício de Isaac (cf. Gên 22:1-18), a elevação da serpente de bronze no deserto (cf.
Núm 21:4-9), os sacrifícios realizados no templo de Jerusalém, o ritual do bode
expiatório (cf. Lev 16:1-34) e outros acontecimentos bíblicos. A profecia encontrada no
capítulo 53 do livro de Isaías, é a profecia mais clara entre as do Antigo Testamento com
relação ao sofrimento do Messias:
“Quem deu crédito ao que nós ouvimos? E a quem foi revelado o braço do Senhor?
Ele subirá como o arbusto diante Dele, e como raiz que sai de uma terra sequiosa; Ele
não tem beleza, nem formosura; vimo-Lo, não tinha parecença do que era, e por isso
não fizemos caso Dele. Ele era desprezado, o último dos homens, um homem de
dores, experimentado nos sofrimentos; o Seu rosto estava encoberto; era desprezado,
e por isso nenhum caso fizemos Dele. Verdadeiramente Ele foi o que tomou sobre si
as nossas fraquezas, Ele mesmo carregou com as nossas dores; nós O reputamos
como um leproso, como um homem ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por
causa das nossas iniqüidades, foi despedaçado por causa dos nossos crimes; o castigo
que nos devia trazer a paz, caiu sobre Ele, e nós fomos sarados com as Suas
pisaduras. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se extraviou por
seu caminho; e o Senhor carregou sobre Ele a iniqüidade de todos nós. Foi oferecido
(em sacrifício), porque Ele mesmo quis, e não abriu a Sua boca; como uma ovelha
que é levada ao matadouro, como um cordeiro diante do que o tosquia, guardou
silêncio e não abriu sequer a Sua boca. Ele foi tirado pela angústia e pelo juízo.
Quem contará a Sua geração? Porque Ele foi cortado da terra dos viventes; eu O feri
por causa da maldade do meu povo. E (o Senhor) Lhe dará os ímpios (convertidos)
em recompensa da Sua sepultura, e o rico em recompensa da Sua morte; porque Ele
não cometeu iniqüidade, nem nunca se achou dolo na Sua boca. O Senhor quis
consumi-Lo com sofrimentos, mas, quando tiver oferecido a Sua vida pelo pecado,
verá uma descedência perdurável, e a vontade do Senhor prosperará nas Suas mãos.
Verá o fruto do que a Sua alma trabalhou, e ficará satisfeito. Este mesmo justo, Meu
servo (diz o Senhor) justificará muitos com a Sua ciência, e tomará sobre Si as suas
iniqüidades. Por isso eu Lhe darei por sorte uma grande multidão e Ele distribuirá os
despojos dos fortes, porque entregou a Sua vida à morte, foi posto no número dos
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malfeitores, tomou sobre Si os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores” (Is
53).
Apesar dessa profecia ter sido escrita a mais de sete séculos antes de Cristo, sua
linguagem é tão clara como se ela tivesse sido narrada por uma testemunha ocular perante
ao pé da cruz.
João Batista, sem dúvida, referiu-se a essa mesma profecia, quando apontando para
Jesus, disse aos judeus:
“Contemplem, o Cordeiro de Deus, Que tira os pecados do mundo.”
A seguir, examinaremos o que nosso Salvador e Seus discípulos disseram sobre a
redenção.
Cristo fala dos próprios
padecimentos na Cruz.
O Senhor Jesus Cristo começou a falar sobre Seus sofrimentos futuros para Seus
apóstolos no primeiro ano de Seu ministério público. Assim, por exemplo, Ele dizia aos
apóstolos que:
“Devia ir a Jerusalém, padecer muitas coisas dos anciãos, dos príncipes dos
sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia” (Mt 16:21).
O apóstolo Pedro motivado por sentimentos generosos para com o Mestre, tentou
desaconselhá-Lo de semelhante sacrifício, mas o Senhor repreendeu-o de maneira
decisiva dizendo: “Retira-te de Mim, satanás; tu serves-Me de escândalo, porque não
tens a sabedoria das coisas de Deus, mas dos homens” (Mt 16:23).
Não muito tempo depois, o Senhor explicando aos apóstolos a finalidade de Sua
vinda a terra, disse-lhes: “Assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas
para servir e dar a Sua vida para redenção de muitos” (Mt 20:28).
Poucos dias antes de Sua crucificação, o Senhor Jesus Cristo falou novamente da
grande tarefa que O aguardava, e explicou a Seus apóstolos, que Ele veio a terra
precisamente para concluir essa tarefa: “Agora a Minha alma está turbada. E que direi
Eu? Pai, livra-Me desta hora. Mas é para isso que Eu cheguei a esta hora” (Jo 12:27).
Somente na Última Ceia durante a despedida, o Salvador falou mais claramente a
Seus discípulos sobre os benefícios espirituais de Seu sofrimento e sobre a morte que O
aguardava. O Senhor esclareceu em particular que Ele precisava sofrer para:
• a condenação do demônio,
• levar as pessoas à salvação,
• a remissão dos pecados,
• o envio do Espírito Santo a terra e
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• a preparação de moradias celestes.
O Senhor explicou que Sua morte seria benéfica para a humanidade: “Em verdade, em
verdade vos digo que se o grão de trigo, que cai na terra, não morrer, fica infecundo;
mas, se morrer, produz muito fruto” (Jo 12:24-25). “Agora é o juízo deste mundo; agora
será lançado fora o príncipe deste mundo. E Eu, quando for levantado da terra, atrairei
todos a Mim. (Dizia isto para designar de que morte havia de morrer” (Jo 12:31-33).
Durante a Última Ceia, Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Comunhão e
fundamentou a força de purificação desse Sacramento em Seu sofrimento futuro.
Primeiro, Jesus tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e o deu a Seus discípulos, dizendo:
“Tomai e comei; isto é o Meu corpo” (Mt 26:26; Lc 22:19). Depois, Ele tomou o
cálice com vinho, deu graças e o deu a Seus discípulos, dizendo: “Bebei dele todos.
Porque isto é o Meu Sangue, o sangue da Nova Aliança, que será derramado por muitos
para remissão dos pecados” (Mt 26:27-28; Lc 22:17).
Após a Comunhão, o Senhor esclareceu para os discípulos em palavras muito
convincentes, que Seu sofrimento na Cruz era necessário para os fiéis receberem os dons
do Espírito Santo: “Mas Eu digo-vos a verdade: A vós convém que Eu vá, porque, se Eu
não for, não virá a vós o Paráclito; mas, se for, Eu vo-lo enviarei” (João 16:7). Além
disso, Jesus explicou aos apóstolos, que Ele tinha tomado para Si de livre arbítrio o
sacrifício redentor devido a Seu grande amor para com os homens. O Salvador referindoSe
a parábola da ovelha desgarrada, disse-lhes, que Ele é o bom pastor: “O bom pastor
expõe a Sua vida pelas Suas ovelhas” (Jo 10:11).
“Por isso Meu Pai Me ama, porque dou a Minha vida para outra vez a assumir.
Ninguém Ma tira, mas Eu por Mim mesmo a dou e tenho o poder de a dar e poder de a
reassumir” (Jo 10:17-18). “Não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus
amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando” (Jo 15:13-14). Embora o
sofrimento de Cristo na cruz estivesse afligindo imensamente todos Seus discípulos, eles
estavam sendo consolados pelo próximo renascimento espiritual: “A mulher, quando dá à
luz, está em sofrimento, porque chegou a sua hora, mas, depois que deu à luz um menino,
já se não lembra da aflição pelo gozo que tem de ter nascido um homem no mundo”
(João 16:21).
Como conseqüência de Sua morte na cruz, moradas celestiais são preparadas para os
fiéis: “Depois que Eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomarvos-ei
Comigo para que, onde Eu estou, estejais vós também” (João 14:3), isto é, na Sua
Glória Eterna. Embora as palavras do Salvador fossem tão diretas e precisas, os apóstolos
tornaram-se pessoalmente seguros dos grandes benefícios de Sua morte redentora
somente após a descida do Espírito Santo. Posteriormente, eles empregaram toda a
oportunidade de compartilhar suas experiências com seus seguidores.
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O que os apóstolos ensinaram
sobre o sacrifício redentor do Salvador.
A mensagem da salvação da humanidade através da morte e da ressurreição do Filho de
Deus encarnado ocupa o centro dos ensinamentos apostólicos, conforme vemos no livro
dos Atos dos Apóstolos e em outros livros do Novo Testamento. Os apóstolos usavam
essa mensagem como base para todas suas instruções posteriores. Eles viam, em primeiro
lugar, na vinda do Filho de Deus a terra e em Sua morte redentora o Seu infinito amor
para com os homens. O seguinte trecho ilustra o que eles muitas vezes diziam sobre isso:
“Nisto conhecemos o amor de Deus: em ter dado a Sua vida por nós; igualmente nós
devemos também dar a vida pelos nossos irmãos” (1Jo 3:16).
“Por que motivo, pois, quando nós ainda estávamos enfermos morreu Cristo, no
tempo determinado, pelos ímpios? Ora é difícil haver quem morra por um justo, ainda
que alguém se resolva talvez a morrer por um homem de bem. Mas Deus manifesta a Sua
caridade para conosco, porque, quando ainda éramos pecadores, no tempo oportuno
morreu Cristo por nós. Pois muito mais agora, que estamos justificados pelo Seu sangue,
seremos salvos da ira por Ele mesmo. Porque se, sendo nós inimigos, fomos
reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, muito mais, estando já reconciliados,
seremos salvos por Sua vida” (Rom 5:6-10).
Os apóstolos falaram, primeiramente, das grandes bênçãos, que a morte redentora de
Cristo trouxe para o mundo e ensinaram especialmente que Cristo com Sua morte:
• corrigiu nossa desobediência,
• redimiu nossos pecados,
• livrou-nos do poder do demônio,
• libertou as almas do inferno,
• reconciliou-nos com Deus,
• estabeleceu a base para o Novo Testamento,
• santificou e fortaleceu-nos com o Espírito Santo e
• deu-nos a Vida Eterna.
A seguir, nós apresentaremos suas palavras sobre esses tópicos.
Quanto a obediência de Cristo, o apóstolo Paulo esclarece que: “O Qual, existindo
na forma (ou natureza) de Deus, não julgou que fosse uma rapina o Seu ser igual a Deus,
mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-Se semelhante aos
homens e sendo reconhecido por condição como homem. Humilhou-Se a Si mesmo, feito
obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso também Deus O exaltou e Lhe deu um
nome que está acima de todo o nome” (Flp 2:6-9).
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Um pouco mais adiante, o apóstolo retoma: “Porque, assim como pela desobediência
de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim pela obediência de um só, muitos
virão a ser justos” (Rom 5:19).
Quanto ao significado purificador da morte do Salvador na cruz, eles falam na mais
clara e viva linguagem:
“Foi Ele mesmo que levou os nossos pecados em Seu corpo sobre o madeiro, a fim
de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; “por Suas chagas fostes
sarados.” Porque vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora vos convertestes ao
pastor e bispo das vossas almas” (1Pdr 2:24-25). “Porém, se andamos na luz, como
Ele mesmo também está na luz, temos comunhão recíproca, e o sangue de Jesus
Cristo, Seu filho, nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1:7). “Ele é propiciador pelos
nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”
(1Jo 2:2).
Quanto a libertação das pessoas do vínculo do demônio, eles escrevem: “E a vós, que
estáveis mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida
juntamente com Ele, perdoando-vos todos os pecados; cancelando o quirógrafo do
decreto que nos era desfavorável, que era contra nós, e o aboliu inteiramente,
encravando-O na cruz, e, despojando os Principados e Potestades, levou-os (cativos)
gloriosamente, triunfando em público deles em Si mesmo” (Col 2:13-15).
Quanto a libertação das almas do inferno, nós citaremos a profecia de Zacarias,
mencionada por Paulo: “Ele anunciará a paz às nações e o Seu poder se estenderá de um
mar até ao outro mar e desde os rios até às extremidades da terra. Tu também, por causa
do sangue da Tua aliança, fizeste sair os teus cativos do lago, em que não há água” (Zac
9:10-11).
Quanto a reconciliação dos seres humanos com Deus, nós lemos: “Porque se, sendo
nós inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, muito mais,
estando já reconciliados, seremos salvos por Sua vida” (Rom 5:10).
Mais adiante, o apóstolo escreve aos antigos pagãos: “E, tendo sido vós noutro tempo
estranhos, inimigos (de Deus) de coração, pelas más obras, agora reconciliou-vos por
meio da Sua morte no Seu corpo de carne, para vos apresentar santos e imaculados e
irrepreensíveis diante Dele” (Col 1:21-22); (cf. Gál 3:13-14; cf. 2Cor 5:18-19).
Quanto ao estabelecimento do Novo Testamento (ou Novo Compromisso), Paulo
relembra a profecia de Jeremias na epístola aos hebreus: “Eis virão dias em que Eu
contrairei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma Nova Aliança, diferente da
aliança que fiz com os seus pais no dia em que lhes peguei pela mão para os tirar da terra
do Egito; porém, visto que eles não perseveraram na Minha aliança, também Eu Me
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desinteressei deles, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que estabelecerei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: porei as Minhas leis no seu espírito e as
escreverei sobre o seu coração, e serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo; cada um não
ensinará mais a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: conhece o Senhor,
porque todos eles me conhecerão, desde o mais pequeno até ao maior, pois perdoarei as
suas iniqüidades e não me lembrarei mais dos seus pecados” (Hebr 8:8-12; cf. Jer 31:31-
34).
Mais além, o apóstolo esclarece: “De fato, onde há um testamento, é necessário que
intervenha a morte do testador, porque o testamento só produz seu efeito em caso de
morte, não tendo força enquanto vive o testador” (Hebr 9:16-17).
Falando sobre a santificação dos fiéis, o apóstolo Paulo compara a provação de
Cristo aos sacrifícios realizados no templo do Antigo Testamento: “Mas Cristo, vindo
como pontífice dos bens futuros, (passando) pelo meio de um tabernáculo mais excelente
e perfeito, não feito por mão de homem, isto é, não desta criação, e não com o sangue dos
bodes ou dos bezerros, mas com o Seu próprio sangue, entrou uma só vez no Santo dos
Santos, depois de ter adquirido uma redenção eterna. Com efeito, se o sangue dos bodes e
dos touros, e a cinza de uma novilha aspergindo os impuros, os santifica quanto à pureza
da carne, quanto mais o sangue de Cristo, Que pelo Espírito Santo Se ofereceu a Si
mesmo sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência das obras da morte para servir
ao Deus vivo?” (Hebr 9:11-14).
“Ora, onde há remissão dos pecados, não é necessária a oblação pelo pecado”
(Hebr 10:18).
Por causa da morte redentora do Messias, o Pai Celestial envia aos fiéis a graça do
Espírito Santo. De agora em diante, a força divina ajudará o cristão a lutar contra o
pecado e a viver honradamente. O apóstolo chama essa ajuda divina de “A Lei do
Espírito” em contraste com a lei impotente e austera do Antigo Testamento: “Porque a
lei do Espírito de vida em Jesus Cristo me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto,
o que era impossível à lei, porque se achava sem força por causa da carne, enviando Deus
Seu Filho em carne semelhante à do pecado, por causa do pecado condenou o pecado na
carne, para que a justiça da lei fosse cumprida em nós, que não andamos segundo a carne,
mas segundo o espírito” (Rom 8:2-4; cf. Rom 7:23).
Finalmente, o apóstolo lembra aos cristãos o mais alegre resultado do sacrifício
redentor de Cristo, que foi a vitória sobre a morte e a ressurreição de todos. Paulo
consola-os dizendo: “Precisamente, por isto, é que Cristo morreu e ressuscitou: para ser
Senhor dos mortos e dos vivos” (Rom 14:9). “Mas Cristo ressuscitou dos mortos, sendo
Ele as primícias dos que dormem, porque, assim como a morte veio por um homem,
também por um Homem veio a ressurreição dos mortos. E, assim como todos morrem em
Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1Cor 15:20-22).
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Nota: As comparações ocasionalmente feitas pelos pais da Igreja, que mostram a íntima relação
entre o pecado de Adão e o sacrifício de Cristo na Cruz, são também de interesse para o cristão: a
árvore do conhecimento no Eden e a árvore feita cruz no Gólgota; a revolta de Adão e a grande
obediência de Cristo; a pretensão soberba de tornar-se rei e a coroa de espinhos; a doçura do fruto
proibido e o amargor do fel; as mãos insolentes estendendo-se para a árvore e as mãos indefesas
pregadas na cruz; a perda da vida e a expulsão do paraíso e a oferta da vida e o retorno ao paraíso.
O significado da Cruz
de Cristo em nossa vida.
Os apóstolos ensinam, conforme vimos, que todas as bênçãos dessa vida e da vida futura
é o resultado direto do sofrimento na cruz do Filho de Deus encarnado. Essas bênçãos
não se estendem somente sobre a humanidade, mas também sobre toda a natureza e até
mesmo sobre todo o universo e elas serão renovadas no dia da ressurreição geral (cf. Rom
8:18; 2Pdr 3:13).
A bênção mais importante resultante da morte redentora e da ressurreição de Cristo
para o ser humano é o dom de uma nova vida em Cristo e a capacidade de viver
aperfeiçoando-se espiritualmente, para tornar-se semelhante a Deus. Tudo isso é citado
nas Escrituras. As demais bênçãos espirituais acham-se intimamente relacionadas com a
possibilidade do homem transformar-se em um novo homem ou em uma nova criação.
Antes da vinda de Cristo, a humanidade era incapaz de levar uma verdadeira vida
espiritual, pois ela estava prisioneira de seus desejos carnais, que eram freqüentemente
desejos pecaminosos. As bênçãos da redenção de Cristo induz ao homem novos
pensamentos e nova perspectiva na vida. A redenção de Cristo desmascara o vazio e a
vaidade de nossa vida terrena e nos permite perceber o significado de nossa existência,
ajudando-nos aproximarmos a cada passo de nossa meta e nos revelando como é alegre e
maravilhosa a vida futura. A graça do Espírito Santo ajuda-nos constantemente ao
caminho de nosso objetivo final. Ela substitui o sentimento de opressão e amargura que
atinge o homem de maneira geral, pela sensação de leveza e de paz interior; ela substitui
a sede dos prazeres infames, pela doçura do relacionamento com Deus; ela substitui o
amor próprio doentio, pelo desejo nobre de praticar o bem.
Entretanto, qualquer tipo de crescimento e aperfeiçoamento requer também esforço
pessoal. Deus nos conduz, ajuda-nos e nos dá todas as ferramentas para o sucesso, porém,
constância e luta são ingredientes necessários para se tornar virtuoso. Todas as
dificuldades externas ou internas são denominadas pessoalmente de “cruz.” Todo cristão
é chamado a seguir o Senhor, carregando a cruz de sua vida. Cada cristão tem que levar
sua cruz pessoal, se ele quiser participar da vitória contra o mal. A salvação consiste de
duas partes: a parte objetiva já concluída por Jesus Cristo na cruz e a parte subjetiva que
se baseia no esforço pessoal para se tornar um verdadeiro cristão. O próprio Senhor falou
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sobre esse segundo aspecto da salvação: “O que não toma a sua cruz e (não) Me segue,
não é digno de Mim” (Mt 10:38).
Não há nada desolador para o cristão levar a sua cruz pessoal. Os apóstolos consolam
a si próprios e aos demais, quando falam sobre o sacrifício do cristão, afirmando: “E, se
(somos) filhos, também (somos) herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo;
mas isto, se sofremos com Ele, para ser com Ele glorificados” (Rom 8:17).
Quanto mais um cristão compartilha nos sofrimentos de Cristo, tanto mais ele
compartilhará na Sua glória. Os apóstolos lembrando o infinito amor de Cristo ainda
ensinavam: “Nisto conhecemos o amor de Deus: em ter dado a Sua vida por nós;
igualmente nós devemos também dar a vida pelos nossos irmãos” (1João 3:16).
Algumas palavras sobre o sinal da cruz.
Antes de Cristo, a cruz era um instrumento da mais cruel punição e um símbolo de
horror. Depois de Seus sofrimentos, ela tornou-se o sinal da vitória do bem sobre o mal,
da vida sobre a morte, da lembrança do amor infinito de Deus e da fonte de alegria. O
Filho de Deus encarnado santificou a cruz com Seu sangue, tornou-a condutora de suas
bênçãos e santidade e a transformou em fonte de inspiração dos fiéis. Isso nos convence a
experiência milenar da Igreja. Por causa desses bens, o sinal da cruz tornou-se um
componente essencial na vida do cristão desde os tempos apostólicos, sendo usado em
todos os ofícios religiosos e em orações particulares. Por exemplo, a água é abençoada
com o sinal da cruz e torna-se água benta, o pão e o vinho são abençoados com o sinal da
cruz durante a liturgia e se transformam no Corpo e Sangue de Cristo. Em resumo, todos
os sacramentos adquirem suas forças espirituais através do sinal da cruz e com o poder do
sinal da cruz expulsa-se a força do mal. Assim como as moscas não podem suportar a
chama, assim os demônios não podem suportar a presença da cruz. O sinal da cruz
protege o cristão de acidentes e infortúnios e atrai a ajuda de Deus para si. Esse é o
porquê, dos cristãos ortodoxos venerarem tanto a Santa Cruz, de se abençoarem com o
sinal da cruz, de usarem a cruz em seu peito e de adornarem seus lares e templos com
cruzes.
http://docs.wixstatic.com/ugd/c05de7_b6e47068af724773af51301c9acd9ca4.pdf
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