Chama-se
Ortodoxia ao grupo de Igrejas Cristãs orientais que professam a
mesma fé e, com algumas variantes culturais, praticam basicamente os
mesmos ritos. Sua origem está no próprio berço do
Cristianismo, uma vez que a Igreja de Cristo teve início no Oriente
e de lá se expandiu para todo o mundo. Essas Igrejas não têm um
“fundador” humano, como acontece com vários grupos religiosos,
uma vez que elas se organizaram a partir das primeiras comunidades
cristãs.
Tudo
começou em Jerusalém, com a pregação e ministério de Jesus, o
Cristo de Deus, seu Filho Unigênito e Salvador do mundo. Após
a morte, ressurreição e subida aos Céus (Ascensão) do Senhor,
foi-se fortalecendo a Igreja de Jerusalém, sob a direção dos
próprios Apóstolos de Jesus, continuadores de sua obra.
Ao
iniciar-se, porém, a perseguição judaica contra os cristãos, como
lemos no livro dos Atos dos Apóstolos (Atos dos Apóstolos 7,
54-8,4) e o derramamento do sangue do primeiro mártir por Cristo, o
diácono Santo Estevão, aproximadamente pelo ano 32 d.C., muitos
cristãos deixaram Jerusalém e se dispersaram por toda a Judéia,
Samaria, Antioquia e outras regiões, anunciando o Evangelho, e assim
foram se formando as primeiras Comunidades, promovidas,
posteriormente, a sedes episcopais e, por sua importância,
patriarcais.
Sabe-se
que os cristãos foram perseguidos tanto pelas autoridades judaicas,
quanto pelo Império Romano que os via como praticantes de uma
religião “não-autorizada”, ilegal, razão pela qual os mesmos
não tinham liberdade de culto, realizando suas reuniões nas casas e
junto aos túmulos dos mártires (catacumbas).
Entrementes,
a fé no Filho de Deus já havia chegado à Acaia, hoje Grécia, e à
capital do império, Roma. Tal situação, com maior ou menor rigor,
perdurou até o ano 313, quando o Imperador Constantino, o Grande,
pelo Edito de Milão, concedeu liberdade religiosa a todos.
O
mesmo imperador Constantino fundou a cidade de Constantinopla (cidade
de Constantino), onde antes existia o sítio de Bizâncio, na Ásia,
onde hoje está a cidade de Istambul, na Turquia, cidade para a qual
transferiu a sede do império, razão pela qual passou-se a falar em
Império Bizantino, o Império Romano do Oriente, sob franca
influência da culturahelênica. Constantinopla foi chamada “a nova
Roma”.
Já
então a administração da Igreja estava estruturada, tendo à
frente os Bispos, Presbíteros (Padres) e Diáconos, como atestou
Santo Inácio de Antioquia pelo ano 107 d.C. A partir
de então, com a liberdade e posterior oficialização concedidas
pelo Império, a Igreja passou a se fortalecer e definir
liturgicamente, passando, ainda, a enviar missionários aos
não-cristãos.
A
Igreja Cristã oriental foi profundamente marcada, de forma geral,
pela época em que era a Igreja oficial do império.Em 381 foi
conferido ao Arcebispo da sede imperial, Constantinopla, o primado de
honra e o título de Patriarca, colocando-o, em honra, logo depois do
Bispo de Roma, e em 451 recebeu a igualdade em honra e primazia em
relação ao mesmo. Finalmente, em 587 recebeu o título de Patriarca
Ecumênico.
A
par a Igreja de Constantinopla, as Comunidades Cristãs mais antigas,
ou seja, as Igrejas de Jerusalém, Alexandria e Antioquia estavam
igualmente organizadas quanto à hierarquia e corpo doutrinário, em
comunhão com as igrejas irmãs.
Os
Concílios Ecumênicos
Desde
cedo a autoridade na Igreja foi exercida de forma colegiada, a
exemplo do que fizeram os própriosapóstolos que convocaram o
primeiro Concílio da história da Igreja (Atos dos Apóstolos 15,
5-21), na cidade de Jerusalém, no ano 49, para resolver a polêmica
judaizante, na qual se decidiu desobrigar os cristãos das práticas
judaicas.
E
foi assim que a Igreja passou a dirimir dúvidas doutrinárias
suscitadas pelo surgimento de ensinos errôneos, chamados heresias,
com a convocação de Concílios Ecumênicos, assim chamados por
contarem com a participação de representantes da Igreja em todo o
mundo cristão e terem autoridade sobre todos os cristãos.
Foram
em número de sete os Concílios Ecumênicos, pois após o sétimo a
Igreja já havia sofrido a triste divisão Oriente-Ocidente e as
assembléias eclesiásticas não mais teriam caráter e autoridade
universais, pois o termo “ecumêne” se refere a “toda a terra
habitada”, aplicando-se o termo, à época, a “todo o território
do império”.
Em
325, na cidade de Nicéia,
se reuniu o Primeiro Concílio Ecumênico, para analisar as idéias
de Ário (arianismo), sacerdote líbio radicado em Alexandria, que
punha em questão a identificação plena de Deus em Cristo,
afirmando que Jesus não era Deus “de forma perfeita”. O Concílio
proclamou, contra Ário, que Jesus Cristo era “da mesma natureza”
que Deus Pai.
Em
381, na cidade de Constantinopla,
realizou-se o Segundo Concílio Ecumênico para esclarecer a fé na
Santíssima Trindade, estabelecendo os artigos do Credo (Profissão
de Fé) que se havia preparado em Nicéia, dando-lhes formulação
mais ampla e definitiva (este é o Credo Niceno-Constantinopolitano,
recitado nas liturgias ortodoxas até nossos dias). Pronunciou-se
este Concílio contra Macedônio, Arcebispo de Constantinopla, que
dizia ser o Espírito Santo uma criatura de Deus, como os anjos.
Destacou-se nesse Concílio a participação de três grandes Santos
Padres: Basílio Magno, Gregório de Nissa e Gregório Teólogo
(Nazianzeno).
O
Terceiro Concílio Ecumênico realizou-se
na cidade de Éfeso, no ano 431 e condenou o nestorianismo, doutrina
errônea ensinada por Nestório, sacerdote e monge sírio que chegou
à sé arquiepiscopal de Constantinopla e que ensinava haver duas
pessoas em Jesus, uma humana e outra divina, razão pela qual a
Virgem Maria não poderia ser chamada “Mãe de Deus” (Theotokos)
e sim “mãe de Cristo” (Christotokos). Os Santos Padres ali
reunidos definiram claramente a única pessoa de Jesus, o Cristo, com
duas naturezas perfeitamente unidas: a divina e a humana, daí
falar-se do Deus-Homem Jesus Cristo, e ser Nossa Senhora a Mãe de
Deus.
Em
451 se realizou o Quarto Concílio Ecumênico em
Calcedônia, que se pronunciou contra Êutiques, um monge pouco
instruído, porém influente, superior de um mosteiro próximo de
Constantinopla, que pregava que em Cristo existia apenas uma
natureza, a divina, e que Jesus, portanto, não era uma pessoa humana
e não tinha uma alma como os outros. Ele cria que após a
Encarnação, a natureza divina tinha absorvido a natureza humana em
Jesus. Essa heresia da “natureza única” ficou conhecida como
monofisismo. O Concílio afirmou a existência de duas naturezas
(divina e humana) na pessoa única de Jesus, unidas sem confusão,
mutação, divisão ou separação.
O
Quinto Concílio Ecumênico se
reuniu novamente em Constantinopla, no ano 553 e reafirmou a
condenação do monofisismo.
O
Sexto Concílio Ecumênico,
realizado nos anos 680-681, novamente em Constantinopla, repeliu a
heresia monotelita, o “monotelismo” (do grego “monos”=uma,
“thelema”=vontade), proposição de que em Jesus havia apenas uma
vontade, a divina, segundo o Patriarca Sérgio e o imperador de
origem monofisita Heráclio.
O
Sétimo Concílio Ecumênico (último),
reunido em Nicéia no ano 787, teve a incumbência de explicar e
legitimar o uso e veneração dos santos ícones (imagens) contra os
“iconoclastas”(“destruidores de imagens”). Tal vitória é
lembrada e comemorada a cada primeiro domingo da Quaresma em todas as
Igrejas Ortodoxas, chamado “Dia da Ortodoxia” ou “Dia da
Vitória”.
A
forma colegiada de governo permanece nas Igrejas Ortodoxas, tendo
cada qual seu Santo Sínodo que se reúne periodicamente sob a
presidência do Patriarca ou Arcebispo Primaz, com a participação
de todos os Bispos.
O
“Cisma” e a Reconciliação
A
triste separação entre os cristãos do Oriente e do Ocidente, que
passou à história sob o título de “Grande Cisma” (não “Grande
Cisma do Oriente”, pois não se tratou de atitude unilateral) e que
se concretizou no ano de 1.054, trouxe a perda de comunhão daquela
que, até então, era a Igreja indivisa de Cristo. Os fatores que,
num lento processo, levaram à separação do Oriente e Ocidente
cristãos são vários: políticos, culturais, eclesiásticos e
doutrinários.
Posteriormente
os cristãos do Oriente passaram a ser chamados “ortodoxos”,
enquanto os cristãos do Ocidente passaram a ser chamados “católicos
romanos” por sua ligação à Sé Apostólica de Roma e pelo
primado de honra da mesma.
O
termo “ortodoxia” tem sido entendido, usualmente, como “doutrina
reta”, pois este é o sentido que se quis imprimir à postura da
Igreja do Oriente; no entanto, trata-se de uma expressão mais
profunda, pois vem do grego “orthos”, que significa “reto”,
“correto”, e “doxa” , que se traduz, segundo a etimologia,
por “louvor”, glorificação de onde nos vem a expressão
“doxologia”, palavra que, por isso mesmo se aplica,
liturgicamente, aos textos de louvor e glorificação – cantamos,
por exemplo a Grande Doxologia,que se inicia, exatamente com o
“glória a ti...” Assim, o ortodoxo é aquele que professa a fé
correta, e, desta forma, louva a Deus.
A
07 de dezembro de 1.965, o Patriarca Ecumênico Atenágoras I e o
Papa Paulo VI, em documento conjunto, sustaram oficialmente as
excomunhões mútuas entre as igrejas irmãs, com a criação
posterior de uma Comissão de Diálogo Teológico, uma vez que a
caminhada fraterna já era realidade.
http://www.catedralortodoxa.com.br/teologia
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