Em 2014, Bento XVI apoiou publicamente aqueles a quem chamou de “grandes cardeais”, em mensagem lida publicamente em Missa no Rito Tradicional celebrada na Basílica de São Pedro pelo Cardeal Burke, que, à época, perdia todos os postos que ocupava. Agora, sai novamente em defesa de outro Cardeal que perdeu completamente seu prestígio em Roma e viu sua Congregação ser sitiada por membros de orientação progressista, após algumas mínimas tentativas de restaurar certa dignidade na liturgia.
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Por Riccardo Cascioli, La Nuova Bussola Quotidiana, 18 de maio de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com – “Com o Cardeal Sarah a liturgia está em boas mãos.” Assinado: Bento XVI. O que à primeira vista pode parecer um simples gesto de respeito, é, na realidade, uma verdadeira bomba. Isso significa, de fato, que o Papa Emérito – apesar de seu estilo discreto – saiu diretamente em campo na defesa do Cardeal Robert Sarah, como prefeito da Congregação para o Culto Divino, que agora se encontra isolado e marginalizado pelos novos nomeados pelo Papa Francisco, e publicamente desautorizado em seu discurso pelo próprio Papa.
O gesto dramático de Bento XVI chegou sob a forma de um prefácio de um livro do Cardeal Sarah, “La Force du silence” (O Poder do Silêncio), ainda não traduzido em italiano. O texto de Bento XVI deverá ser publicado nas próximas edições do livro, mas já foi divulgado ontem pelo site americano First Things.
Nele, Bento XVI elogiou muito o livro do Cardeal Sarah e o próprio Sarah, definindo-o como “mestre espiritual, que fala das profundezas do silêncio com o Senhor, expressão de sua união íntima com Ele, e que por isso tem algo a dizer para cada um de nós” .
E no final da mensagem ele se diz grato ao Papa Francisco por “ter nomeado um tal mestre espiritual à frente da Congregação para a celebração da liturgia na Igreja”. É uma nota que seria mais uma armadura do que gratidão real. Não é segredo o fato de que ao longo do último ano, o Cardeal Sarah foi gradualmente deposto de fato, primeiramente com a nomeação dos membros da congregação que tiveram o êxito de cercar Sarah com elementos progressistas abertamente hostis à “reforma da reforma” pedida por Bento XVI e que o cardeal guineense tentava colocar em ação. Em seguida, a desautorização aberta da parte do papa a respeito da posição do altar; e depois, a nova tradução dos textos litúrgicos que seria resultado de estudos de uma comissão criada sem o conhecimento e contra o Cardeal Sarah. Finalmente, os movimentos para estudar a criação de uma missa “ecumênica” ignorando a própria Congregação.
Trata-se de uma deriva que atinge o coração do pontificado de Bento XVI, o qual colocava a liturgia no centro da vida da Igreja. E no documento agora publicado, o Papa Emérito relança um aviso sério: “Assim como para a interpretação da Sagrada Escritura, também para a liturgia é verdade que se faz necessário um conhecimento específico. Mas também é verdade para a liturgia que na especialização pode faltar o essencial se esta não estiver enraizada em uma profunda união interior com o Igreja orante, que sempre está aprendendo novamente com o Senhor o que vem a ser a verdadeira adoração”. Daí a declaração final que soa como um aviso: “Com o Cardeal Sarah, mestre do silêncio e da oração interior, a liturgia está em boas mãos.”
Esta intervenção de Bento XVI, que tenta blindar o Cardeal Sarah e legitimá-lo efetivamente como chefe da Congregação para a Liturgia, não tem precedentes. E embora a forma é a de um comentário “inofensivo” em um livro, ninguém pode fugir do significado eclesial deste movimento, que indica a preocupação do Papa Emérito pelo que está acontecendo no coração da Igreja.
Bento XVI intervém agora sobre algo que talvez melhor tenha caracterizado o seu pontificado: “A crise da Igreja é uma crise da liturgia”, ele foi capaz de falar, e tal julgamento foi relançado pelo Cardeal Sarah. Mas não devemos esquecer o que Monsenhor Georg Geinswein disse em uma entrevista recente, de modo aparentemente inocente, ao responder a uma pergunta sobre a confusão que existe na Igreja e as divisões que surgiram. Ele disse que Bento XVI acompanha atentamente a tudo o que acontece na Igreja. E agora vemos que, no silêncio, começa a dar alguns passos.
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