AUTOR: JOSÉ LUÍS DE MELO AQUINO
Como falar
de um mistério, daquilo que a nossa razão não consegue penetrar? Somente
fazendo curvar a razão e dandovazão à Fé. Assim, podemos destilar da doutrina
Católica o princípio de que, para estudar teologia, devemossempre partir da Fé,
para depois aplicar o nosso intelecto e concluir sempre com um novo ato de Fé,
pois, melhor parece ser amar aquilo que nos excede e compreender o que nos é
inferior.
Sendo o
mistério algo insondável para o nosso intelecto devemos crer, celebrá-lo, e
dele viver considerando-o com os olhos da fé; fazendo dela e da razão, uma
unidade. Ao longo do estudo, a Fé auxiliar-nos-á naquilo que a razão não
alcança, no entanto, sem excluí-la.
Entre os
mistérios que a Igreja Católica prega, um dos mais augustos e admiráveis é o da
Transubstanciação, pois nele “está contido o Cristo inteiro sob cada espécie e
sob cada parte de cada espécie”.[1] Mas como? Somente é explicável por um milagre:
toda a substância do pão se converte na substância do Corpo de Nosso Senhor e
toda a substância do vinho na substância do Seu Preciosíssimo Sangue.
Pronunciadas
as palavras da consagração – Isto é o meu Corpo; Este é o cálice do meu sangue
– Nosso Senhor Jesus Cristo passa a estar presente instantaneamente[2] em
Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sob as espécies do pão e do vinho. O que quer
dizer “sob as espécies”? Nada mais, nada menos, opera-se o milagre da
transubstanciação, a substância do pão e do vinho deixam de estar presentes
dando lugar à substância do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, mas mantendo os
acidentes do pão e do vinho, o que naturalmente é impossível, pois o que
sustenta os acidentes é a substância. Uma vez que a substância do pão ou do
vinho deixam de estar presentes os acidentes também deveriam desaparecer, mas
na Eucaristia não se dá isso; os acidentes permanecem (cor, odor, etc.) e a
substância muda,[3] “porque a Deus tudo é possível” (Mt 19,26).
Na
Eucaristia, essa presença se dá de duas formas. Em primeiro lugar por força do
sacramento, por outras palavras, na consagração da espécie do pão é dito: “Isto
é o meu Corpo;” por virtude do sacramento ali está exclusivamente presente a
substância do Corpo de Cristo. Da mesma forma em relação à espécie do vinho, é
dito: “Este é o cálice do meu sangue…” sob essa espécie está presente
exclusivamente a substância do Sangue de Cristo. Por outro lado, por razão de
concomitância, ou seja, onde está presente um, está presente o outro, sob a espécie
do pão está presente a substância do Corpo, como foi mostrado, mas também o
Sangue a Alma e a Divindade, uma vez que não é possível separá-los.[4]
Portanto,
quando recebemos a Eucaristia, é a Ele próprio que recebemos. Aquele mesmo que
nas ruas da Galiléia curava os doentes, os coxos, os paralíticos… Aquele mesmo
que Se deixou crucificar, “o Justo pelos injustos” (1Pedro 3, 18) a fim de
salvar-nos; “Só” isso? Não! O próprio Deus Uno e Trino vem habitar-nos, mas
este, será tema para um nova artigo.[5]
Tão
grandioso mistério, não podemos compreender, mas nossa Fé nos assegura. “Quod
non cápis, quod non vídes, animósa fírmat fídes, praetes rérum órdinem”.[6]
Notas:
[1] DS 1653.
[2]
Cf. S.Th. III q.75, a.7.
[3] Cf. S. Th. III q.77, a.1.
[4]
Cf. Contra Gentiles, 4, 64; III, q. 76, a. 1.
[5]
Cf. VVAA. Lexicon dicionário teológico enciclopédico. Trad. João Paixão Netto;
Alda da Anunciação Machado. São Paulo: Edições Loyola, 2003. Pág. 108-110.
[6]
Cf. Missal Romano: I lecionário dominical. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
Pág. 985.
http://www.arautos.org/secoes/artigos/doutrina/eucaristia/cristo-esta-realmente-presente-na-eucaristia-2-140765
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