Francisco vive e se move em Deus. Isto quer dizer que vive da oração.
A oração pertencia tão plenamente à natureza do santo que se poderia dizer: a oração era sua essência. Celano se atreve a dizer: “Quando Francisco orava, todo o seu ser era oração” (2Celano 95).
Sua oração era muito mais louvor do que pedido, tanto assim que Celano pôde resumir todo o processo de sua conversão em forma de oração: “Deus colocou na boca do pródigo Francisco o freio do louvor” (1Celano,2).
Este clamor de adoração a Deus foi a sua salvação. Também ele cai, como mais tarde Lutero, em angústias e terror. Seu “refúgio” se torna então a oração que o faz triunfar sobre os assaltos do inimigo: ele se ajoelhava em adoração. Ao final da Regra não-bulada encontra-se uma oração. A ideia central está na quarta frase: “Todos nós somos pobres pecadores”. E assim mesmo, a forma de oração de Francisco é sobretudo de ação de graças, seja diretamente ou por intermédio de Maria ou dos santos. Nesta atitude, amplamente aberta, para acima e para fora, se rompe a estreiteza do individual e se supera o perigo de uma concentração subjetivista: louvor, ação de graças e adoração no amor.
A isso corresponde a forma fundamental de sua oração: não era o desenrolar de uma série ordenada e lógica de pensamentos. Era antes feita de breves invocações, de balbuciante louvor ao Altíssimo num crescendo de superlativos justapostos: louvor, admiração, glorificação…
Encontramos esta forma precisamente nas passagens que jorram mais espontaneamente na alma do santo: no Cântico do Irmão Sol, no Te Deum para Frei Leão, ou nos Louvores ou Sanctus que Francisco cantou com Frei Leão. Aí se encontra esta oração típica: “Onipotente, Santíssimo, Altíssimo e Sumo Deus. Tu és o Sumo Bem, todo o Bem. Bem universal. Tu és o único Bem! A ti todo o louvor e toda glória, toda ação de graças, toda honra, toda bênção, todo bem. Sim, tudo! Amém”.
Francisco de Assis, O santo incomparável, Vozes/CEFEPAL, p. 45-46
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