Frei Alberto Beckhäuser, OFM
O que significa participação da Liturgia? Participar, como sabemos, é
tomar parte. Participar da Liturgia significa tomar parte, ter parte da Obra de
Deus da Salvação.
O Concílio Vaticano II, no Documento sobre a Sagrada Liturgia,
chamado Sacrosanctum Concilium, diz que o povo de
Deus, todo ele povo sacerdotal, real e profético tem o dever e o direito de
participar de maneira consciente, ativa e plena da Sagrada Liturgia (Cf. SC
14).
O objetivo dessa participação é a participação eficaz ou frutuosa. Esta
participação frutuosa ou eficaz consiste na realização da comunicação com Deus,
na vivência do mistério celebrado.
Então, para que possa haver participação frutuosa é necessário, em
primeiro lugar, que ela seja consciente. O povo, os fiéis saibam o que
celebram. Isso é função da Catequese, da formação cristã e da iniciação à vida
litúrgica.
Depois, esta participação deverá ser ativa. A assembleia e cada membro
da assembleia participam ativamente não só falando e cantando. Participação
ativa não é apenas participação oral ou através da palavra, mas através de
todas as faculdades e sentidos. Assim, a participação pode ser também através
da escuta, ouvindo a palavra de Deus ou acompanhando, em silêncio, as orações.
Entra-se em comunhão com o mistério celebrando através da vista, contemplando
os gestos, os movimentos, os objetos e o próprio espaço de celebração. Reza-se
também pelo olfato e pelo paladar. O rito litúrgico faz uso também do sentido
do tato. Acolhe-se o mistério no silêncio profundo da mente e do coração.
Claro que o meio ou a linguagem mais usada na Liturgia é a palavra, seja
ela a Palavra de Deus ou a palavra da Igreja. A palavra da Igreja se dá através
das orações, dos diálogos, das aclamações, das fórmulas sacramentais, das
bênçãos, das ladainhas, das preces. Os textos podem ser recitados, proclamados
ou cantados.
Importa, porém, cantar os textos litúrgicos, pelos quais se
comemoram os mistérios celebrados e não qualquer coisa em qualquer lugar. O
grupo de cantores faz parte da assembleia, toda ela celebrante. Ele ajuda toda
a assembléia a cantar. Canta com a assembleia e não para a assembleia.
Sendo a participação ativa tão ampla, é totalmente contra o espírito da
Sagrada Liturgia transformar a assembleia celebrante em plateia de show ou de
espetáculo.
Convém que na Liturgia da Missa, sobretudo, nos domingos e festas
solenes, haja canto. Mas, é preciso cantar a Missa e não na Missa. Pode-se
cantar maior ou menor número de textos.
Pode, pois, haver três níveis ou graus de Missa com canto.
O primeiro nível de Missa cantada é o diálogo cantado entre o Sacerdote
presidente ou os ministros e a assembleia. O segundo grau ou nível de Missa
cantada é o primeiro, mais as partes que são cantadas por todos, chamadas
partes Comuns da Missa, como o Senhor, o Glória, o Creio, o Santo e o Cordeiro
de Deus. Só depois vem o terceiro grau de Missa cantada: o primeiro, o segundo
e as partes próprias de cada Missa, dos Domingos e dos Tempos litúrgicos, como
o Canto da Entrada, das Oferendas e da Comunhão.
Muita coisa terá que ser feito ainda para que isso aconteça e haja uma
participação consciente, ativa e plena da Sagrada Liturgia, para que haja uma
participação frutuosa ou eficaz. Eis a função da Catequese, de toda a Pastoral
litúrgica, incluindo a formação musical dos seminaristas, dos sacerdotes e de
todo o povo fiel.
Frei Alberto Beckhäuser, OFM, é
natural de Forquilhinha (SC). Doutorado em Teologia com especialização em
Liturgia, desde 1967 acompanha de perto a grande caminhada pós-conciliar da
reforma e da renovação litúrgica no Brasil, da qual se tornou um dos
protagonistas. Frei Alberto continua a escrever, a dar cursos e palestras e a
lecionar Liturgia em várias Escolas Teológicas, particularmente no Instituto
Teológico Franciscano, em Petrópolis (RJ).
http://www.franciscanos.org.br/?p=106892
Comentários
Postar um comentário