Jeffrey Tucker explica:
Há dois equívocos freqüentes a respeito da música religiosa popular:
1) a crença em que ela seja algo revolucionário e novo nos tempos modernos;
2) a ideia de que ela represente ameaça ao culto litúrgico.
Nenhuma delas é verdadeira. A música devocional é tão antiga quanto a própria Fé. E não representa nenhum problema, desde que as pessoas não a confundam com música litúrgica, que é sempre vinculada ao texto litúrgico. O grande problema do nosso tempo é essa terrível confusão. De algum modo precisamos reencontrar o caminho de volta ao texto litúrgico, de modo a podermos colocar a música devocional no seu lugar adequado.
Parece-me que na maioria das celebrações da Santa Missa, no Brasil, ocorre o uso de música devocional substituindo a música litúrgica (e tudo indica que não é só no Brasil). Não fiz nenhuma pesquisa baseada em métodos estatísticos para dizer que é a maioria (mais de 50%, portanto), mas os relatos e a experiência sugerem isso. Mesmo assim, ainda que isso ocorra em dez por cento das igrejas, deveríamos trabalhar para que nelas a situação mudasse.
Se fossem só dez por cento, não poderíamos abandoná-las, só por ser minoria. E, sendo a maioria, não podemos considerar que seja certo só porque a maioria está fazendo.
Também não se pode justificar o uso incorreto da música devocional na Liturgia dizendo que isso acontece há "muito tempo" (uns quarenta anos). Isto equivale a dizer que um erro, cometido durante bastante tempo, torna-se um acerto.
Jeffrey Tucker é um otimista, e escreve a explicação que traduzimos ali acima sob o ponto de vista pelo qual a música devocional não ameaça o culto litúrgico. De fato, a situação ideal é essa: o cultivo da autêntica música litúrgica não exige que se abandone todo o resto da cultura musical; pelo contrário.
Entretanto, é importante lembrar que essa ameaça existe, sim, se não tivermos clara a diferença entre música devocional e música litúrgica. Se soubermos o que é cada uma, ótimo; se as confundimos, temos a situação atual: a música pop de letras religiosas entra na Liturgia.
Seria o equivalente a pegarmos livros de sucesso do momento atual e introduzirmos seus textos na Liturgia, substituindo as leituras da Sagrada Escritura. É verdade que o pop religioso tem letra religiosa, e tirar uma Carta de São Paulo para colocar Harry Potter não produz uma comparação exata, já que os livros deste personagem não são religiosos; mas nossa analogia pode fazer mais sentido se o leitor imaginar um livro de auto-ajuda, ou então certos livros escritos por católicos, às vezes sacerdotes, cujo conteúdo (e também o aspecto visual) é do mesmo naipe.
Bem, não importa: ainda que se tratasse de um piíssimo poema do Beato Anchieta, ou o mais místico escrito de Santa Teresa, não os tomaríamos para substituir as leituras bíblicas da Liturgia da Missa. Do mesmo modo não podemos colocar música devocional no lugar do Introito, do Gradual (ou do Salmo Responsorial), do Alleluia (ou Trato), do Ofertório e da Comunhão. Todos eles, com raríssimas exceções, são tirados da Escritura, prescritos pela Igreja do mesmo modo que são prescritas as leituras. E estamos substituindo essas palavras por música devocional ruim, quando o certo é não substituir nem mesmo por música devocional boa.
O caso das Missas Baixas da Forma Extraordinária do Rito Romano é diferente. Tais Missas, não tendo o seu texto cantado, mas recitado pelo sacerdote, admitem o canto de música devocional pela assembleia; canto, entretanto, sujeito a certas regulações que impedem o uso de música inadequada. O ideal é a Missa Alta, com o Próprio efetivamente cantado.
As rubricas da Forma Ordinária, o rito aprovado pelo papa Paulo VI e que entrou em vigor em 1969-1970, além da compilação do Graduale Simplex, entre outras iniciativas, buscam possibilitar maior uso da música litúrgica autêntica. Entretanto, isto em grande parte ficou no papel: a desobediência, a insubordinação, o desejo de ruptura e a ignorância das coisas sagradas transformaram a Liturgia, em muitos lugares, num palco de mau gosto onde tudo é permitido, menos o tradicional, o genuíno e o sacro.
Se às vezes se chama, pejorativamente, de "rubricismo" ao desejo de seguir com fidelidade o que a Igreja prescreve para a Liturgia, é de se lamentar que às vezes pareça haver um desejo de fazer tudo exatamente ao contrário do que as rubricas dizem, indo contra qualquer bom senso, numa tentativa de contrariar todo o passado e definindo, se fosse possível, a fundação da Igreja e a instituição da Liturgia para o dia de hoje.
Não se deseja que um texto assim termine de modo negativo; antes, é importante ter em mente que a música autêntica é possível, e que sua reintrodução, na maioria dos casos, acontece "tijolo a tijolo" - gradualmente. Ou "devagar e sempre", para usar outra expressão popular. O essencial é tomarmos a consciência das necessidades e peculiaridades musicais da Liturgia, e do enorme bem espiritual que representa o respeito às suas tradições e prescrições. Fariseus? Não há problema: é Cristo, e só Ele, quem sabe o que há na mente de cada um.
Se fossem só dez por cento, não poderíamos abandoná-las, só por ser minoria. E, sendo a maioria, não podemos considerar que seja certo só porque a maioria está fazendo.
Também não se pode justificar o uso incorreto da música devocional na Liturgia dizendo que isso acontece há "muito tempo" (uns quarenta anos). Isto equivale a dizer que um erro, cometido durante bastante tempo, torna-se um acerto.
Jeffrey Tucker é um otimista, e escreve a explicação que traduzimos ali acima sob o ponto de vista pelo qual a música devocional não ameaça o culto litúrgico. De fato, a situação ideal é essa: o cultivo da autêntica música litúrgica não exige que se abandone todo o resto da cultura musical; pelo contrário.
Entretanto, é importante lembrar que essa ameaça existe, sim, se não tivermos clara a diferença entre música devocional e música litúrgica. Se soubermos o que é cada uma, ótimo; se as confundimos, temos a situação atual: a música pop de letras religiosas entra na Liturgia.
Seria o equivalente a pegarmos livros de sucesso do momento atual e introduzirmos seus textos na Liturgia, substituindo as leituras da Sagrada Escritura. É verdade que o pop religioso tem letra religiosa, e tirar uma Carta de São Paulo para colocar Harry Potter não produz uma comparação exata, já que os livros deste personagem não são religiosos; mas nossa analogia pode fazer mais sentido se o leitor imaginar um livro de auto-ajuda, ou então certos livros escritos por católicos, às vezes sacerdotes, cujo conteúdo (e também o aspecto visual) é do mesmo naipe.
Bem, não importa: ainda que se tratasse de um piíssimo poema do Beato Anchieta, ou o mais místico escrito de Santa Teresa, não os tomaríamos para substituir as leituras bíblicas da Liturgia da Missa. Do mesmo modo não podemos colocar música devocional no lugar do Introito, do Gradual (ou do Salmo Responsorial), do Alleluia (ou Trato), do Ofertório e da Comunhão. Todos eles, com raríssimas exceções, são tirados da Escritura, prescritos pela Igreja do mesmo modo que são prescritas as leituras. E estamos substituindo essas palavras por música devocional ruim, quando o certo é não substituir nem mesmo por música devocional boa.
O caso das Missas Baixas da Forma Extraordinária do Rito Romano é diferente. Tais Missas, não tendo o seu texto cantado, mas recitado pelo sacerdote, admitem o canto de música devocional pela assembleia; canto, entretanto, sujeito a certas regulações que impedem o uso de música inadequada. O ideal é a Missa Alta, com o Próprio efetivamente cantado.
As rubricas da Forma Ordinária, o rito aprovado pelo papa Paulo VI e que entrou em vigor em 1969-1970, além da compilação do Graduale Simplex, entre outras iniciativas, buscam possibilitar maior uso da música litúrgica autêntica. Entretanto, isto em grande parte ficou no papel: a desobediência, a insubordinação, o desejo de ruptura e a ignorância das coisas sagradas transformaram a Liturgia, em muitos lugares, num palco de mau gosto onde tudo é permitido, menos o tradicional, o genuíno e o sacro.
Se às vezes se chama, pejorativamente, de "rubricismo" ao desejo de seguir com fidelidade o que a Igreja prescreve para a Liturgia, é de se lamentar que às vezes pareça haver um desejo de fazer tudo exatamente ao contrário do que as rubricas dizem, indo contra qualquer bom senso, numa tentativa de contrariar todo o passado e definindo, se fosse possível, a fundação da Igreja e a instituição da Liturgia para o dia de hoje.
Não se deseja que um texto assim termine de modo negativo; antes, é importante ter em mente que a música autêntica é possível, e que sua reintrodução, na maioria dos casos, acontece "tijolo a tijolo" - gradualmente. Ou "devagar e sempre", para usar outra expressão popular. O essencial é tomarmos a consciência das necessidades e peculiaridades musicais da Liturgia, e do enorme bem espiritual que representa o respeito às suas tradições e prescrições. Fariseus? Não há problema: é Cristo, e só Ele, quem sabe o que há na mente de cada um.
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