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Reflexões da Sagrada Escritura: Legitimidade do Culto ao Santíssimo Coração de Jesus Segundo a Doutrina do Novo Testamento e a Tradição.

O amor de Deus no mistério da Encarnação redentora segundo o Evangelho. “Habite Cristo, pela fé, nos vossos corações, vós que estais arraigados e cimentados em caridade, para que possais compreender com todos os santos qual é a largura e comprimento, a altura e profundidade deste mistério, e conhecer também o amor de Cristo a nós, o qual sobrepuja todo conhecimento, para que sejais plenamente cumulados de todos os dons de Deus” (Ef. 3, 17-19).

Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com
  1. Mas somente pelo Evangelho chegamos a conhecer com perfeita clareza que a Nova Aliança estipulada entre Deus e a humanidade – aliança da qual a pactuada por Moisés entre o povo e Deus foi tão somente uma prefiguração simbólica, e o vaticínio de Jeremias uma mera predição  –  é aquela mesma que o Verbo Encarnado estabeleceu e levou à prática, merecendo-nos a graça divina. Esta aliança é incomparavelmente mais nobre e mais sólida, porque, à diferença da precedente, não foi sancionada com sangue de cabritos e novilhos, mas com o sangue sacrossanto d’Aquele que esses animais pacíficos e privados de razão prefiguravam: “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Cf. Jo 1, 29; Heb. 9, 18-28; 10, 1-17). Porque a Aliança cristã, ainda mais do que a antiga, manifesta-se claramente como um pacto, não inspirado em sentimentos de servidão, não fundado no temor, mas apoiado na amizade que deve reinar nas relações entre pai e filhos, sendo ela alimentada e consolidada por uma mais generosa distribuição da graça divina e da verdade, conforme a sentença do
    Evangelho de João: “Da sua plenitude todos nós participamos, e recebemos uma graça por outra graça. Porque a lei foi dada por Moisés, mas a graça foi trazida por Jesus Cristo” (Jo 1, 16-17).
  2. Introduzidos, por estas palavras do “Discípulo amado que durante a Ceia reclinara a cabeça sobre o peito de Jesus” (Jo 21, 20), no próprio mistério da infinita caridade do Verbo Encarnado, é coisa digna, justa, reta e salutar nos detenhamos um pouco, veneráveis irmãos, na contemplação de tão suave mistério, a fim de, iluminados pela luz que sobre ele projetam as páginas do Evangelho, podermos também nós experimentar o feliz cumprimento do voto que o Apóstolo formulava escrevendo aos fiéis de Éfeso: “Habite Cristo, pela fé, nos vossos corações, vós que estais arraigados e cimentados em caridade, para que possais compreender com todos os santos qual é a largura e comprimento, a altura e profundidade deste mistério, e conhecer também o amor de Cristo a nós, o qual sobrepuja todo conhecimento, para que
    sejais plenamente cumulados de todos os dons de Deus” (Ef 3, 17-19).
  3. Com efeito, o Mistério da Divina Redenção é, antes de tudo e pela sua própria natureza, um mistério de amor: isto é, um mistério de amor justo da parte de Cristo para com seu Pai celeste, a quem o sacrifício da cruz, oferecido com coração amante e obediente, apresenta uma satisfação superabundante e infinita pelos pecados do gênero humano; Cristo, sofrendo por caridade e obediência, ofereceu a Deus alguma coisa de valor maior do que o exigia a compensação por todas as ofensas feitas a Deus pelo gênero humano (“Summa Theol.”, III, q. 48. a.2; ed. Leon. t. 11. 1903, p. 464). Além disto, o mistério da Redenção é um mistério de amor misericordioso da Augusta Trindade e do Divino Redentor para com a humanidade inteira, visto que, sendo esta totalmente incapaz de oferecer a Deus uma satisfação condigna pelos seus próprios delitos (cf. Enc “Miserentissimus Redentor: A. A. S. 20, 1928,p. 170), mediante a imperscrutável riqueza de méritos que nos ganhou com a efusão do seu preciosíssimo sangue Cristo pôde restabelecer e aperfeiçoar aquele pacto de amizade entre Deus e os homens violado pela primeira vez no Paraíso terrestre por culpa de Adão e depois, inúmeras vezes, pela infidelidade do povo escolhido.
  4. Portanto, havendo, na sua qualidade de nosso legítimo e perfeito Mediador, e sob o estímulo de uma caridade ardentíssima para conosco, conciliado as obrigações e compromissos do gênero humano com os direitos de Deus, o divino Redentor foi, sem dúvida, o autor daquela maravilhosa reconciliação entre a divina justiça e a divina misericórdia, a qual justamente constitui a absoluta transcendência do mistério da nossa salvação, tão sabiamente expresso pelo Doutor Angélico com estas palavras: “Convém observar que a libertação do homem mediante a paixão de Cristo foi conveniente tanto para a justiça como para a misericórdia do mesmo Cristo. Antes de tudo para a justiça, porque com a sua paixão Cristo satisfez pela culpa do gênero humano, e, por conseguinte, pela justiça de Cristo foi o homem libertado. E, em segundo lugar, para a misericórdia, porque, não sendo possível ao homem satisfazer pelo pecado, que manchava toda a natureza humana, deu-lhe Deus um reparador na pessoa de seu Filho. Ora, isto foi, da parte de Deus um gesto de mais generosa misericórdia do que se Ele houvesse perdoado os pecados sem exigir qualquer satisfação. Por isso está escrito: “Deus, que é rico em misericórdia, movido pelo excessivo amor com que nos amou quando estávamos mortos pelos pecados, deu-nos vida juntamente em Cristo” (Ef 2, 4; “Summa Theol. III, q. 46, a. 1 ad 3; ed. Leon., t. 11, 1903, p. 436).”[Encíclica “HAURIETIS AQUAS” de Pio XII]. Caríssimos, hodiernamente, aturdidos e confusos pelas ambiguidades e mesmo imprecisões na exposição da doutrina, por causa do afastamento do pensamento e expressão tradicionais, como nos sentimos reconfortados e seguros ao ouvirmos Sumos Pontífices, que primaram como era de se esperar mais do que de ninguém, pela clareza e propriedade de expressão na pregação da verdade, oferecendo aos pastores e ovelhas, alimento sólido e verdadeiramente nutriente capaz de levar as almas às fontes do Salvador e ao Seu Éden Eterno!

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