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Capítulo 2 COMO FOI PRESO EM PERUSA E DAS DUAS VISÕES QUE TEVE QUANDO QUIS SER CAVALEIRO.

1  Em certa ocasião, havendo uma guerra entre Perusa e Assis, Francisco com muitos de seus concidadãos foi preso em Perusa; mas como era nobre em costumes, foi colocado como prisioneiro entre os cavaleiros.  2  Certo dia, estando tristes seus companheiros de cativeiro, ele, brincalhão e jovial por natureza, não parecia estar triste mas, de certa forma, alegre.  3  Por isso, um dos companheiros repreendeu-o como louco, porque se alegrava estando na cadeia.  4  Francisco respondeu vivaz: “Que pensas de mim? Ainda serei venerado pelo mundo inteiro”.  5  Como um dos soldados tivesse injuriado a um companheiro e todos queriam isolá-lo por causa disso, só Francisco não lhe negou a amizade mas exortou aos outros a fazerem o mesmo.  6  Passado um ano, restabelecida a paz entre as duas cidades, Francisco voltou com seus companheiros para Assis. 5.   1  Poucos anos depois, certo cidadão nobre da cidade de Assis preparou-se com armas de guerra para ir à Apúlia, para aumentar riquezas

DA MENTE PURA E DA INTENÇÃO SIMPLES

Com duas asas se levanta o homem acima das coisas terrenas: simplicidade e pureza. A simplicidade há de estar na intenção e a pureza no afeto. A simplicidade procura a Deus, a pureza o abraça e frui. Em nenhuma boa obra acharás estorvo, se estiveres interiormente livre de todo afeto desordenado. Se só queres e buscas o agrado de Deus e o proveito do próximo, gozarás de liberdade interior. Se teu coração for reto, toda criatura te será um espelho de vida e um livro de santas doutrinas. Não há criatura tão pequena e vil, que não represente a bondade de Deus. Se fosses interiormente bom e puro, logo verias tudo sem dificuldade e compreenderias bem. O coração puro penetra o céu e o inferno. Cada um julga segundo seu interior. Se há alegria neste mundo, é o coração puro que a goza; se há, em alguma parte, tribulação e angústia, é a má consciência que as experimenta. Como o ferro metido no fogo perde a ferrugem e se faz todo incandescente, assim o homem que se entrega inteiramente a Deus

DANO QUE CAUSA AOS RELIGIOSOS A TIBIEZA

Qui spernit modica, paulatim decidet  – “Quem despreza as coisas pequenas, pouco a pouco cairá” (Ecclus. 19, 1). Sumário.  São infelizes os religiosos que, sendo chamados à perfeição, fazem as pazes com as suas faltas. Nunca se santificarão e correm mesmo grande risco de se condenarem; porquanto o Senhor ameaça vomitá-los de sua boca e abandoná-los, permitindo que das faltas leves passem às faltas graves e à perda da graça divina e da vocação. Oh! Quantos destes infelizes estão agora queimando no inferno! Meu irmão, põe a mão na tua consciência. És tu porventura uma dessas almas tíbias e imperfeitas? ***************************** Considera a miséria do religioso que, depois de ter deixado a pátria, os parentes e o mundo com todos os seus prazeres, e depois de se ter dado a Jesus Cristo, consagrando-lhe a sua vontade, a sua liberdade e a si próprio, se expõe em seguida ao perigo de condenação, por ter caído numa vida tíbia e negligente. Não, não está longe de se perder o relig

Naufrágios na história da Igreja: de São Paulo ao Catolicismo que vivemos hoje

A barca de Pedro, do Missal antigo (edição não identificada):  clique sobre a imagem para vê-la ampliada O LECIONÁRIO PARA A MISSA pós-Vaticano II se caracteriza por uma série de interessantes detalhes. Um deles é a leitura contínua dos Atos dos Apóstolos durante as Missas feriais do Tempo Pascal. Enquanto celebra a Ressurreição ao longo de cinquenta dias, a Igreja também reflete sobre a primeira evangelização: a comunidade cristã primitiva, com o poder do Espírito Santo, espalha pelo mundo mediterrâneo a Boa Nova (do grego ευαγγέλιο:  evangelion ), na histórica notícia de que Jesus de Nazaré, tendo ressuscitado dentre os mortos, constituiu-se Senhor e Salvador para o perdão dos pecados. Essa leitura em série dos Atos dos Apóstolos termina com S. Paulo estabelecido em Roma, provavelmente no atual bairro do Trastevere, falando com a comunidade judaica romana sobre suas antigas esperanças na Aliança com Deus, que chegara à plenitude em Cristo ressuscitado. Há, no enta

Capítulo 1 - Legenda dos 3 companheiros SOBRE O SEU NASCIMENTO E SOBRE SUA VAIDADE, CURIOSIDADE E PRODIGALIDADE, E COMO DESSAS COISAS CHEGOU À GENEROSIDADE E CARIDADE PARA COM OS POBRES.

2.   1  Oriundo da cidade de Assis, situada nos confins do vale de Espoleto, Francisco foi chamado primeiro de João, pela mãe; mas depois foi chamado de Francisco pelo pai, que estava voltando, então, da França, e em cuja ausência ele tinha nascido.  2  Depois de adulto, tendo demonstrado uma inteligência sutil, exerceu a arte do pai, isto é, o comércio,  3  mas de maneira muito diferente porque era mais alegre e liberal, gostava de brincadeiras e cânticos, dando a volta pela cidade de Assis de dia e de noite, junto aos que eram parecidos com ele, muito generoso para gastar, a ponto de consumir tudo que podia lucrar em comilanças e outras coisas.  4  Era, por isso, muitas vezes repreendido pelos pais, pois lhe diziam que fazia tão grandes despesas por si e pelos outros que não parecia filho deles mas de algum grande príncipe.  5  Mas como os pais eram ricos e o amavam com ternura, toleravam-no nessas coisas, sem querer perturbá-lo.  6  Sua mãe, quando os vizinhos falavam a respeito

O (verdadeiro) São Francisco de Assis: o mestre da humildade e suas lições

[A charge acima, do impagável blog norte-americano "Sword of Peter" (clique sobre a imagem para ampliá-la) mostra como São Francisco de Assis é geralmente retratado por aqueles que não o conhecem, e ao seu lado o  verdadeiro  São Francisco, que diz (na Exortação aos irmãos e irmãs da penitência, cap. II): "Todos aqueles que não fazem penitência, e não recebem o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivem no vício e no pecado, no caminho da concupiscência e dos maus desejos da carne, não observam o que prometeram ao Senhor; servem ao mundo com seus corpos, cedendo aos desejos carnais, às solicitudes e aos cuidados deste mundo: são escravos do demônio, de quem são filhos e cujas obras praticam".] Por Felipe Marques – Fraternidade São Próspero INFELIZMENTE, OS DONS espirituais e as virtudes são negligenciadas por nós, que preferimos viver de acordo com aquilo que é mais prazeroso em detração daquilo que é mais difícil, porém, correto. Como ensina a

FRANCISCO, UMA ARTE DE VIVER *

Por Éloi Leclerc  * As circunstâncias de minha vida, principalmente a prova dos campos nazistas de Buchenwald e de Dachau, durante a última Guerra Mundial, levaram-me à pergunta sobre as possibilidades de uma verdadeira fraternidade entre as pessoas. Será que somos votados a dilacerar-nos sem fim, da maneira mais trágica? Será que é possível uma comunidade humana sem exclusão, sem tirania e sem desprezo? Não seria isto apenas um sonho? Nas minhas dúvidas, voltei-me para Francisco de Assis que me parecia o protótipo do ser humano fraternal, e cujo carisma foi em seu tempo “converter toda hostilidade em tensão fraterna, dentro de uma unidade de criação” (P. Ricoeur). Mesmo correndo o risco de repetir-me, gostaria de resumir, da maneira mais límpida, o que me pareceu ser o essencial da sabedoria de Francisco de Assis. Trata-se na verdade de uma sabedoria e de uma grande sabedoria. Francisco não é antes de tudo uma nova Ordem, nem uma nova doutrina, e muito menos um conjunto de