Ego sum pastor bonus. Bonus pastor
animam suam dat pro ovibus suis —
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas” (Io. 10,
11).
Sumário. O
ofício de um bom pastor não é outro senão guiar as suas ovelhas para bons
pastos e defendê-las contra os lobos. Mas, ó meu dulcíssimo Redentor, que
pastor levou jamais a sua bondade tão longe como Vós, que quisestes dar a vida
por nós, vossas ovelhas, e nos livrastes dos castigos merecidos? Não satisfeito
com isso, quisestes ainda, depois da morte, deixar-nos o vosso corpo na santa
Eucaristia, para sustento de nossas almas. Quem, pois, não Vos amará com todo o
afeto? Mas infelizmente muitos Vos pagam com a mais negra ingratidão.
I.
Assim diz Jesus Cristo mesmo no Evangelho deste dia: Ego sum pastor bonus — “Eu sou o bom pastor”. O ofício de um bom pastor não é outro senão
guiar as suas ovelhas para bons pastos e defendê-las contra os lobos. Mas, ó
meu dulcíssimo Redentor, que pastor levou jamais a sua bondade tão longe como
Vós, que quisestes dar o vosso sangue e a vida para salvar as vossas ovelhas,
que somos nós, e livrar-nos dos castigos merecidos? Vós mesmo, diz São Pedro,
levastes os nossos pecados em vosso corpo pregado na cruz, a fim de que, mortos
para o pecado, vivamos para a justiça: pelas vossas chagas fomos curados: Cuius livore sanati estis (1). Para nos curar de nossos males, este bom
Pastor tomou a si todas as nossas dívidas e pagou-as com o seu próprio corpo,
morrendo de dor sobre a cruz.
Este
excesso de amor de Jesus para conosco, as suas ovelhas, fazia Santo Inácio
Mártir arder do desejo de dar a vida por Jesus Cristo, dizendo, assim como se
lê numa carta sua: Amor
meus crucifixus est — “O meu amor foi crucificado.” Quis o santo dizer: Como! Meu Deus quis morrer
crucificado por meu amor, e eu poderei viver sem desejo de morrer por Ele? –
Com efeito, que grande coisa fizeram os mártires dando a vida por Jesus Cristo,
que morreu por amor deles! Ah! A morte que Jesus Cristo padeceu por eles,
suavizava-lhes todos os tormentos, os açoites, os cavaletes, as unhas de ferro,
as fogueiras e as mortes mais dolorosas.
Não
se contentou, porém, o nosso bom Pastor com dar a vida pelas suas ovelhas;
ainda depois de sua morte quis deixar-lhes na santíssima Eucaristia o seu
próprio corpo, já sacrificado uma vez na cruz, a fim de que fosse o alimento e
sustento das suas almas. O ardente amor que nos dedicava, diz São João
Crisóstomo, levou-O a unir-se a nós e fazer-se uma coisa conosco: Semetipsum nobis immiscuit, ut unum
quid simus.
II.
“O mercenário”, assim continua o Evangelho, “e o que não é pastor, vê o lobo
vindo e deixa as ovelhas e foge; e o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O
mercenário foge, porque é mercenário e não lhe importam as ovelhas.” Não é
assim que faz Jesus Cristo, o bom pastor, ou antes o melhor de todos os
pastores. Cada vez que vê as suas ovelhas assaltadas pelo lobo infernal e estas
lhe bradam por socorro, logo acode a defendê-las e a combater por elas.
Quando
vê uma ovelha tresmalhada, que não faz? Quantos meios não emprega para
reavê-las? Jesus Cristo não deixa de buscá-la enquanto não a achar. E depois de
a achar, a põe contente sobre seus ombros, chama aos seus amigos e vizinhos
(isto é, os Anjos e os Santos), e convida-os a alegrarem-se com Ele, por ter
achado a ovelha que se tinha perdido: Congratulamini mihi, quia inveni ovem meam quae
perierat (2) — Quem, pois, não amará com
todo o afeto a este bom Senhor, que se mostra tão amoroso mesmo para com os
pecadores que lhe viraram as costas e quiseram voluntariamente perder-se?
Ah,
meu amável Salvador! Eis aqui a vossos pés uma ovelha perdida: afastei-me de
Vós, mas Vós não me abandonastes; fizestes todo o empenho para me reaver. Que
seria de mim, se Vós não tivésseis pensado em me buscar? Ai de mim, que passei
tanto tempo longe de Vós! Pela vossa misericórdia espero agora estar na vossa
graça. Se outrora fugia de Vós, já não desejo outra coisa senão amar-Vos e
viver e morrer abraçado aos vossos pés. Mas enquanto vivo, estou em perigo de
Vos abandonar. Por piedade, prendei-me com os laços de vosso santo amor e não
permitais que em tempo algum eu me desprenda de Vós. — “Ó Pai Eterno, que pela
humilhação de vosso Filho levantastes o mundo prostrado, concedei-me alegria
perpétua, para que, assim como me livrastes da morte eterna, me façais gozar
dos prazeres eternos.”(3) Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo e de Maria
Santíssima, minha querida Mãe. (*II 288.)
1.
1 Petr. 2, 24.
2. Luc. 15, 6.
3. Or. Dom. curr.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II – Santo Afonso
2. http://catolicosribeiraopreto.com/jesus-o-bom-pastor/#more-8789
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