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Por que a Igreja guarda o domingo e não o sábado?


'As Três Marias e o Túmulo', Peter von Cornelius (1815/1822)

O leitor Ednardo Barbosa enviou-nos a pergunta que reproduzimos abaixo:

Mais porque mudarão (sic) o santo sábado do senhor para o domingo dos pagão (sic), deus  (sic) santificou e abençoou o sabado pará (sic) guardamos (sic).

AGRADEÇO PELA PERGUNTA, caríssimo Ednardo, porque me dá a oportunidade de esclarecer uma questão que de tempos em tempos acaba retornando, em diversas oportunidades, inclusive em outras publicações que se prestam ao esclarecimento da Sã Doutrina cristã católica.

Respondendo de pronto, o simples, santo e justíssimo motivo de a Igreja guardar o Domingo em lugar do Sábado judaico é o fato de que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou no Domingo, – o primeiro dia da semana, – inaugurando assim a “Nova Criação” liberta do pecado, a nova e eterna Aliança entre Deus e a humanidade. Assim é que o Domingo, o Dia do Senhor, é a plenitude do Sábado dos judeus, da mesma forma como o Novo Testamento é a plenitude e o cumprimento do Antigo, e Cristo é a consumação de toda a história da salvação, desde Adão até o fim dos tempos e o Juízo final.

De modo semelhante, o Antigo Testamento é um figura do Novo; o Sábado judaico é uma figura do Domingo cristão. O Catecismo da Igreja assim explica:

O Domingo distingue-se expressamente do sábado, ao qual sucede cronologicamente, a cada semana, e cuja prescrição ritual substitui, para os cristãos. Leva à plenitude, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do Sábado judaico e anuncia o repouso eterno do homem em Deus. Com efeito, o culto da Lei preparava o Mistério de Cristo, e o que nele se praticava prefigurava, de alguma forma, algum aspecto de Cristo (1Cor 10,11).
(CIC§2175)

O que a esmagadora maioria desses supostos "cristãos" judaizantes que persistem em guardar o sábado não sabem é que os Apóstolos já celebravam a Missa “no primeiro dia da semana”, isto é, no domingo, como ficou registrado na Bíblia Sagrada, em mais de uma passagem:

 Nos Atos dos Apóstolos (20,7): “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para a fração do Pão (isto é, a Eucaristia)…”.

 Em Apocalipse (1,10), S. João diz: “No dia do Senhor (domingo), fui movido pelo Espírito…”.

 Em 1Cor 16,2, S. Paulo Apóstolo confirma que a coleta cultual era feita “no primeiro dia da semana” (domingo).

Trata-se de uma questão de tal maneira elementar que também a igreja ortodoxa e as protestantes históricas (mais antigas) guardam igualmente o Dia do Senhor, – o Domingo santificado, – e não mais o Sábado judaico.

Além do testemunho bíblico, o livro apócrifo Epístola de Barnabás (datado do ano 74), que é um dos documentos mais antigos da Igreja, – tendo sido redigido antes ainda do Livro do Apocalipse, atesta: “Guardamos o oitavo dia (domingo) com alegria, o dia em que Jesus levantou-se dos mortos” (15,6-8).

Sto. Inácio de Antioquia (107), mártir no Coliseu de Roma e bispo da Igreja primitiva, testemunhou de modo claríssimo: 

Aqueles que viviam segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança, não mais observando o sábado, mas sim o Dia do Senhor, no qual a nossa vida foi abençoada, por Ele e por sua morte.”(Aos Magnésios 9,1)

Devido à Tradição Apostólica, que tem origem no próprio dia da ressurreição do Cristo Salvador, a Igreja celebra o Mistério Pascal no dia que desde o início foi chamado "Dia do Senhor" ou "Domingo” (da mesma raiz semântica de 'Senhor'/Dominus). O dia da ressurreição de Cristo é, ao mesmo tempo, “o primeiro dia da semana”, memorial do primeiro dia da Criação, e o “oitavo dia”, em que Cristo, depois de sua Morte Sacrificial e “repouso” no grande Sábado, inaugura o "Dia que o Senhor fez para nós”, o “Dia que não conhece ocaso” (CIC §1166).

S. Justino (165) Mártir legou-nos também o seu testemunho:

Reunimo-nos todos no 'Dia do Sol', porque é o primeiro dia após o Sábado dos judeus, mas também o primeiro dia em que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, neste mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos.(Apologia 1,67)
Também S. Jerônimo (420), Confessor e Doutor da Igreja, atestou a praxis sempiterna da Igreja:

O Dia do Senhor, o Dia da Ressurreição, o Dia dos Cristãos, é o nosso dia. Por isso se chama Dia do Senhor: foi nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o denominam Dia do Sol, também nós o confessamos de bom grado: pois hoje levantou-se a Luz do Mundo, hoje apareceu o Sol de Justiça cujos raios trazem a salvação.
(CCL, 78,550,52)

Desta forma, tanto as Sagradas Escrituras quanto o testemunho de toda a documentação histórica, juntamente com a sagrada Tradição apostólica nos mostram porque, desde a Ressurreição do Senhor, a Igreja sempre guardou e continua guardando não mais o Sábado judaico, mas o Domingo cristão da Ressurreição e do estabelecimento da Nova e Eterna Aliança como Dia do Senhor.

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Ref:
• AQUINO, Felipe, Por que a Igreja guarda o Domingo e não o Sábado?, artigo disp. em
http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2013/01/21/por-que-a-igreja-guarda-o-domingo-e-nao-o-sabado/
Acesso 6/10/015
• Introdução Ao Culto Cristão, WHITE, James F. 2ª ed. São Leopoldo: Sinodal/IEPG, 2005, pp.40-45.

www.ofielcatolico.com.br

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