CARTA ENCÍCLICA ACERBO NIMIS
Sobre o Ensino do Catecismo.
aos Veneráveis Irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos
e Mais Ordinários em Paz e Comunhão com a Santa Sé Apostólica:
Sobre o Ensino do Catecismo.
e Mais Ordinários em Paz e Comunhão com a Santa Sé Apostólica:
Sobre o Ensino do Catecismo.
PAPA PIO X
Veneráveis Irmãos:
Saúde e Bênção Apostólica.
1. Pelos inescrutáveis desígnios de Deus fomos elevados de nossa pequenez ao cargo de Supremo Pastor do Rebanho de Cristo, em dias bem críticos e amargos, pois o antigo inimigo anda em redor deste Rebanho e lhe arma laços em tão pérfida astúcia, que hoje,principalmente, parece haver-se cumprido aquela profecia do Apóstolo aos anciãos da Igreja de Éfeso: “Sei que… vos hão de assaltar lobos vorazes, que não pouparão o Rebanho” (At 20,29).
Dos males que afligem a Religião não há quem, animado de zelo pela Glória divina, deixe de investigar as causas e razões,acontecendo que, como as encontra cada qual diversas,proponha diferentes meios, de acordo com a sua opinião pessoal,para defender e restaurar o Reino de Deus na Terra.
Não proscrevemos, Veneráveis Irmãos, os pareceres alheios, mas estamos com os que pensam que esta depressão e debilidade das almas, de que derivam os maiores males, provêm, principalmente, da ignorância das Coisas Divinas.
Esta opinião concorda inteiramente com o que o Deus mesmo declarou pelo Profeta Oséias: “Não há conhecimento de Deus na Terra. A maldição e a mentira, e o homicídio e o roubo e o adultério tudo inundaram; o sangue junta-se ao sangue e por causa disto a Terra se cobrirá de luto e todos os seus moradores desfalecerão” (Os 4,1-3).
NECESSIDADE DA INSTRUÇÃO
2. Quão fundadas são, desgraçadamente, estas lamentações,hoje, que existe tão crescido número de pessoas, entre o Povo Cristão, que ignoram totalmente as coisas que é mister conhecer para conseguir a Salvação Eterna!
Ao dizer – Povo Cristão – não nos referimos somente à plebe, ou às classes inferiores – às quais servem de escusa o acharem-se com frequência submetidas a homens tão duros que lhes não deixam tempo nem para cuidar de si mesmas, nem das coisas que se referem à sua alma – mas e principalmente falamos daqueles aos quais não falta entendimento nem cultura e até se mostram dotados de profana erudição, apesar de que em coisas de Religião vivem da maneira mais temerária e imprudente que imaginar se possa.
Dificílimo seria ponderar a espessura das trevas que os envolvem e – o que mais triste é – a tranquilidade com que nelas permanecem!
De Deus, Soberano Autor e Moderador de todas as coisas, e da Sabedoria da Fé Cristã não se preocupam, de forma que verdadeiramente nada sabem da Encarnação do Verbo de Deus, nem da Perfeita Restauração do Gênero Humano, por Ele consumada; nada sabem acerca da Graça, principal auxílio para alcançar os Bens Eternos; nada, acerca do Augusto Sacrifícionem dos Sacramentos, mediante os quais conseguimos e conservamos a Graça.
Quanto ao pecado, não conhecem sua malícia nem o opróbrio que consigo traz, de sorte que não põem o menor cuidado em evitá-lo ou expiá-lo, e chegam ao Dia Extremo em disposição tal que, para não os deixar sem qualquer Esperança de Salvação, o Sacerdote se vê constrangido a aproveitar os derradeiros instantes de vida para sumariamente lhes ensinar Religião, ao invés de empregá-los principalmente, conforme conviria, em movê-los a afetos de Caridade; isto quando não sucede que o moribundo sofra de tão culpável ignorância que tenha por inútil o auxílio do Sacerdote e resolva tranquilamente franquear os Umbrais da Eternidade sem haver prestado a Deus conta dos seus pecados.
Por isso, o Nosso Predecessor Bento XIV justamente escreveu:“Afirmamos que a maior parte dos condenados às penas eternas padece sua perpétua desgraça por ignorar os Mistérios da Fé,que necessariamente se devem conhecer e crer, para ser contado no número dos eleitos” (Instit. XXVII, 18).
3. Sendo assim, Veneráveis Irmãos, que há de surpreendente,pergunto, em que a corrupção dos costumes e sua depravação sejam tão grandes e cresçam diariamente, não digo nas nações bárbaras, mas até nos próprios Povos que ostentam o nome de Cristãos?
Com razão dizia o Apóstolo São Paulo, escrevendo aos Efésios:“A fornicação e toda espécie de impureza ou avareza nem sequer se nomeie entre vós, como convém a Santos; nem palavras torpes, nem chocarrices” (Ef 5,3-4).
Como fundamento deste Pudor e Santidade, com os quais se moderam as paixões, determinou a Ciência das Coisas Divinas:“E assim, cuidai, irmãos, em andar com Prudência; não como insensatos, mas como circunspectos… Portanto, não sejais imprudentes, mas considerai qual é a Vontade de Deus” (Ef 5,15.17).
Sentença justa; porque a vontade humana apenas conserva algum resto daquele amor à honestidade e à retidão, inspirados ao homem por Deus, seu Criador, amor que o impelia para um bem, não velado por sombras, mas claramente visto. Mas,depravada pela corrupção do pecado original e esquecida de Deus, seu Gerador, a vontade humana inclina-se a amar a vaidade e a procurar a mentira.
Extraviada e cega pelas más paixões, necessita de um guia que lhe mostre o caminho para que retome as Veredas da Justiça, que desgraçadamente abandonou.
Este guia, que não é preciso buscar fora do homem, e de que a natureza o proveu, é a própria razão; mas se à razão falta aquela luz, irmã sua, que é a Ciência das Coisas Divinas, sucederá que um cego guiará outro cego e ambos cairão no abismo.
O Santo Rei Davi, glorificando a Deus por esta Luz da Verdade que havia infundido na razão humana, dizia: “A luz do Vosso rosto, Senhor, está impressa em nós”. E indicava o efeito desta comunicação da Luz, acrescentando: “Infundistes a alegria em meu coração” (Sl 4, 6-7).
Excerto da Carta Encíclica Acerbo Nimis
São Pio X
http://pilulasdesaopiox.blogspot.com.br/2017/01/comecando-do-comeco.html
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