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Mostrando postagens de junho, 2017

FRANCISCO, UMA ARTE DE VIVER *

Por Éloi Leclerc  * As circunstâncias de minha vida, principalmente a prova dos campos nazistas de Buchenwald e de Dachau, durante a última Guerra Mundial, levaram-me à pergunta sobre as possibilidades de uma verdadeira fraternidade entre as pessoas. Será que somos votados a dilacerar-nos sem fim, da maneira mais trágica? Será que é possível uma comunidade humana sem exclusão, sem tirania e sem desprezo? Não seria isto apenas um sonho? Nas minhas dúvidas, voltei-me para Francisco de Assis que me parecia o protótipo do ser humano fraternal, e cujo carisma foi em seu tempo “converter toda hostilidade em tensão fraterna, dentro de uma unidade de criação” (P. Ricoeur). Mesmo correndo o risco de repetir-me, gostaria de resumir, da maneira mais límpida, o que me pareceu ser o essencial da sabedoria de Francisco de Assis. Trata-se na verdade de uma sabedoria e de uma grande sabedoria. Francisco não é antes de tudo uma nova Ordem, nem uma nova doutrina, e muito menos um conjunto de

A Eucaristia como partilha e solidariedade

A Solenidade de Corpus Christi ajuda-nos a refletir sobre uma das dimensões da Eucaristia, que é a da partilha. A partir desta dimensão, podemos inferir a dimensão social deste Santíssimo Sacramento, por vezes esquecida na espiritualidade cristã. Na Carta Apostólica  Mane Nobiscum Domine , São João Paulo II afirma que gostaria de chamar a atenção dos fiéis para esta dimensão, porque sobre ela “recai em grande medida a autenticidade da participação na Eucaristia celebrada em comunidade” (n. 28). Note-se que o Pontífice não destaca aqui a exatidão do cumprimento das rubricas litúrgicas, a confissão sacramental ou o jejum eucarístico, mas “o impulso que ela traz em si por um empenho eficaz na edificação de uma sociedade mais equânime e fraterna” (idem). Infelizmente ainda persistem em muitos cristãos uma compreensão intimista e individualista deste Santíssimo Sacramento. Combater as causas geradoras da fome No que tange à fome, não bastam somente soluções assistenciais emerg

Os Salmos: a anatomia da alma humana

Os salmos constituem uma  das formas mais altas de oração que a humanidade produziu. Milhões e milhões de pessoas, judeus, cristãos e religiosos de todas as tradições, dia a dia, recitam e cantam salmos, especialmente os religiosos e religiosas e os padres no assim chamado “ofício das horas”diário. Não sabemos exatamente quem seus autores, pois eles recolhem as orações que circulavam no  meio do povo. Seguramente muitos são de Davi (século X a.C). É considerado, por excelência, o protótipo do salmista. Foi pastor, guerreiro, profeta, poeta, músico, rei e profundamente religioso. Conquistou o Monte Sion dentro de Jerusalém e lá, ao redor da Arca da Aliança, organizou o culto e introduziu os salmos. Quando se diz “salmo de Davi” na maioria das vezes significa: “salmo feito no estilo de Davi”. Os salmos surgiram no arco de quase mil anos, nos lugares de culto e recitados pelo povo até serem recopilados na época dos Macabeus no século II.a.C. O saltério é um microcosmo histór

Veneração à Virgem Maria

Católicos realmente adoram Maria como se fosse uma "deusa"? Qual o significado da Teologia Mariana? Tire definitivamente as suas dúvidas... - SE CREMOS que Deus é Pai; se cremos que Jesus é o Cristo, o Ungido, o Filho de Deus, também precisamos respeitar, honrar e amar a mãe de Jesus, a Virgem Maria. Se cremos que todos os que amaram verdadeiramente a Deus nesta vida estão no Céu, e que aqueles que seguiram Jesus e morreram acreditando n'Ele estão ao seu lado, seria o cúmulo do absurdo supor que a mãe do Cristo aqui na Terra não estivesse junto a Ele no Céu. Maria, ela que, segundo a Bíblia Sagrada, era cheia do Espírito Santo, declarou de si mesma: “ De hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada!”  (Lc 1, 48) Nosso Salvador não salvaria sua própria mãe? Nós, cristãos, cremos que recebemos por Graça o direito e o poder de pedir e interceder junto a Deus. Podemos pedir ao Pai em nome de Jesus, ou falar diretamente a Jesus e pedir que nos

O Sacrifício da Santa Missa tem por Sacerdote o Próprio Jesus Cristo (Excelências da Santa Missa – II)

Por S. Leonardo de Porto-Maurício, da Ordem dos Frades Menores S. Leonardo de Porto-Maurício DEPOIS DE DIZER que o Sacrifico da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz, e não uma cópia, era de imaginar que não se poderia encontrar prerrogativa melhor. O que o torna, entretanto, mais sublime é o fato de ter como Sacerdote o próprio Deus feito homem(!). Três coisas, certamente, são para considerar no santo Sacrifício: o Sacerdote que oferece; a Vítima oferecida; a Majestade divina, a Quem se oferece. Ora, três considerações: o Sacerdote, que oferece, é um Homem-DEUS, JESUS CRISTO: a vítima é a Vida de um DEUS; e não se oferece a outrem senão a DEUS. Reanimai, portanto, a vossa fé, e reconhecei, no padre que celebra, a Pessoa adorável de Nosso Senhor JESUS CRISTO. É Ele o principal oferente, não só porque instituiu este santo Sacrifício, e lhe dá, por seus méritos, a eficácia, mas porque se digna, em cada Santa Missa e para nosso benefício, mudar o pão e o vinho em seu sant

Introdução às Admoestações de São Francisco

A+   A- Vamos entrar no maravilhoso mundo da espiritualidade franciscana. Quando lemos ou assistimos a um filme sobre a vida de Francisco de Assis, sentimos interiormente uma admiração, talvez um desejo profundo de experimentar o que viveu. Mesmo estando mais de oito séculos distantes da Assis da época do pobrezinho, somos afetados por seu comportamento. Nesse deixar ser ‘tocado’, ‘mexido’ já é um respingar da espiritualidade, pois este é o modo que começamos a encarar a nós mesmo e ao mundo a nossa volta, gerando comportamentos diferentes do usual. Desponta em nós uma sensibilidade para ver as coisas mais importantes da vida. Francisco é esse homem que foi instrumento de misericórdia de Deus para com o mundo. Conhecê-lo é uma oportunidade de deixar-nos contagiar pelo seu carisma. Estes textos buscam entrar no ‘rio’, no ‘canal’ da espiritualidade franciscana. Pensemos com simplicidade. Não se trata de um desafio intransponível. A proposta é buscar ser ‘pobre’, ‘abe

Ser encontrado por Cristo

Por Felipe Marques – Fraternidade São Próspero ANTES DE INICIAR esta reflexão, deixemos o papa Bento XVI auxiliar-nos com um trecho da introdução de sua carta encíclica “ Deus caritas est ”: “ Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. ” Pois bem, ser católico é – entre tantas coisas – ter-se encontrado com Cristo e, a partir desse encontro, lutar para mudar de vida, visto que a própria existência ganha um sentido. Ou melhor, muito mais do que um simples sentido, a vida ganha  O Sentido  único de todas as coisas. Diversas vezes somos levados a crer que encontramos a Deus devido aos nossos próprios esforços. Esse modo de pensar é perigoso, pois podemos cair no erro narrado no capítulo 11 do Livro do Gênesis (episódio da Torre de Babel) que narra como os cidadãos do mundo quiseram construir um caminho para o céu – onde imaginavam