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A psicologia da conversão, por Fulton Sheen



NUNCA HOUVE UM convertido que carecesse de desejo – desejo de Deus e também o desejo de tornar-se um homem diferente de qualquer que tenha sido antes. Quando Ernesto Psichari, o neto de Renan, largou seus antros de pecado na França para seguir para o deserto, a fim de descobrir Deus, disse: "Não tenho desejo mais forte nem propósito mais firme, do que ir através do mundo para conquistar a mim mesmo à força. Não atravessarei a terra de todas as virtudes como um mero turista... Deus entrará sob nosso teto quando quiser". A graça - a 'entrada' - é a parte de Deus; cultivar e resguardar o desejo da graça é a parte nossa dada por Deus: "Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á" (Mt 7,7).

Deus nunca recusa graça àqueles que honestamente a pedem. Tudo quanto Ele pede é que a vaga sede do Infinito, que excitou a alma a procurar seu bem em uma sucessão de prazeres, seja agora transformada em uma sede do próprio Deus. Tudo quanto necessitamos fazer é exprimir estas duas petições: "Querido Senhor, iluminai meu intelecto para que eu veja a Verdade e dai-me a força de segui-la".

Assim como todos os homens são tocados pelo ardente amor de Deus, da mesma maneira todos são também tocados pelo desejo da intimidade com Ele. Ninguém escapa a este anseio. Somos todos reis exilados, miseráveis sem o Infinito. Aqueles que rejeitam a graça de Deus têm um desejo de evitar Deus, [assim] como aqueles que a aceitam tem um desejo de Deus. O ateu moderno não descrê por causa de seu intelecto, mas por causa da sua vontade. Não é o conhecimento que o torna um ateu, mas a perversidade. A negação de Deus brota de um desejo do homem que não tem um Deus - da sua vontade de que não haja Justiça por trás do universo, de modo que suas injustiças não receiem retribuição; do seu desejo de que não haja Lei, de modo que não possa ser julgado por ela; do seu querer que não haja Bondade Absoluta, para que ele possa continuar pecando com impunidade. É por isso que o ateu moderno se mostra sempre encolerizado quando ouve alguma coisa a respeito de Deus e de religião. Seria incapaz de tal ressentimento, se Deus fosse apenas um mito. Seu sentimento para com Deus é o mesmo que um homem mau tem para com alguém a quem ele fez um mal. Desejaria que estivesse morto de modo que nada pudesse fazer para vingar o mal. Aquele que atraiçoa a amizade sabe que seu amigo existe, mas deseja que ele não existisse. O ateu "pós-cristão" sabe que Deus existe, mas deseja que Ele não existisse.

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Trechos do livro 'A Paz da Alma', do Bem-aventurado Fulton Sheen.
SHEEN, Fulton. A paz da alma, São Paulo: Molokai, 2015, pp. 231-253.
www.ofielcatolico.com.br

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