At
illi, tenentes Iesum, duxerunt ad Caiphan principem sacerdotum — Eles, prendendo a Jesus, O levaram a
Caifás, príncipe dos sacerdotes (Matth. 26, 57).
Sumário. Imaginemos ver a Jesus Cristo perante o
tribunal de Caifás. Ali é esbofeteado, tratado de blasfemador, declarado réu de
morte, e como tal, maltratado de mil modos. Jesus, porém, no meio de tantos
opróbrio
s, nada perde de sua serenidade e doçura, e parece que com o seu
silêncio nos diz: Se quiserdes desagravar-me das injúrias que me fazem,
suportai por meu amor os desprezos, assim como eu os suporto por vosso amor.
Eis que o Redentor é levado como em
triunfo à presença de Caifás, que já O estava esperando, e vendo-O diante de
si, só e desamparado de seus discípulos, ficou cheio de contentamento. Minha
alma, contempla o teu Senhor, que ali está todo humilde e manso. Contempla o
seu belo rosto, que, no meio de tantas injúrias e desprezos, não perdeu a sua
serenidade e doçura. O ímpio pontífice interroga Jesus sobre seus discípulos e
sobre sua doutrina para achar algum pretexto de condenação. Jesus responde-lhe
com humildade: “Eu não falei em segredo, mas em público; todos estes que aqui
estão podem dar testemunho do que eu falei”. Senão, quando depois de uma
resposta tão justa e tão branda, um algoz mais insolente avança do meio da
chusma e, tratando Jesus de atrevido, lhe dá uma forte bofetada dizendo: “É
assim que respondes ao sumo sacerdote?” Ó Deus, como pôde uma resposta tão
humilde e tão modesta merecer tão grave insulto?
Entretanto, o Conselho procurava
testemunhas para o condenar à morte; mas não encontravam; pelo que o pontífice
vai novamente buscar matéria de condenação nas palavras de nosso Salvador mesmo,
e lhe diz: Adiuro
te per Deum vivum, ut dicas nobis, si tu es Christus Filius Dei (1) — “Eu te conjuro, pelo Deus vivo, que nos digas, se tu
és o Cristo, o Filho de Deus”. O
Senhor, ouvindo que O conjuravam em nome de Deus, confessa a verdade e responde:
“Sim, eu o sou: e um dia me verás, não tão desprezível como estou agora diante
de ti, mas assentado num trono de majestade como juiz de todos os homens, acima
das nuvens do céu”. Ouvindo estas palavras, o pontífice, em vez de prostrar-se
com o rosto em terra para adorar a seu Deus, rasga seus vestidos e diz: “Para
que mais precisamos de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfêmia. Quid vobis videtur? (2) — “Que vos parece?” E
todos os outros sacerdotes responderam que sem dúvida alguma Ele era réu de
morte. — Ah, meu Jesus, o mesmo disse também vosso Eterno Pai, quando Vos
oferecestes a expiar os nossos pecados. Meu Filho, disse, já que queres
satisfazer pelos homens, és réu de morte, e por isso é necessário que morras.
Tunc
expuerunt in faciem eius, et colaphis eum ceciderunt(3) — “Então cuspiram-Lhe no rosto e deram-Lhe bofetadas”. Sendo Jesus Cristo declarado réu de morte,
puseram-se todos a maltratá-Lo como a um malfeitor. Um cospe-Lhe no rosto,
outro dá-Lhe empuxões, mais outro Lhe dá bofetadas. Vendando-Lhe os olhos com
um pano, escarnecem d’Ele, chamando-O falso profeta, e dizendo: “Já que és profeta, profetiza agora quem
Te bateu”. Escreve São Jerônimo que foram
tantos os insultos e injúrias que naquela noite foram feitos ao Senhor, que só
no dia do juízo final serão conhecidos todos.
O sofrimento de Jesus foi ainda
aumentado pelo pecado de Pedro, que O renega e jura que nunca O conheceu.
Vai, minha alma, vai ter naquela prisão
com o teu Senhor aflito, escarnecido e abandonado; agradece-Lhe e consola-O com
o teu arrependimento, visto que tu também algum tempo O desprezaste e
renegaste. Dize-Lhe que quiseras morrer de dor, lembrando-te que no passado Lhe
amarguraste tanto o doce Coração, que tanto te amou. Dize-Lhe que agora O amas
e não queres senão padecer e morrer por seu amor.
Ah! Meu Jesus, esquecei os desgostos
que Vos dei, e lançai sobre mim um olhar de amor, assim como lançastes sobre
Pedro, depois que Vos renegou. Ó grande Filho de Deus, ó amor infinito, que
padeceis por aqueles mesmos homens que Vos odeiam e maltratam! Vós sois a
glória do paraíso: honra demasiada tereis feito aos homens, se os houvéreis
admitido somente a beijar-Vos os pés. Mas, ó Deus, quem Vos reduziu a esse
extremo de ignomínia, de servirdes de ludibrio à gente mais vil do mundo?
Dizei-me, meu Jesus, que posso fazer para Vos desagravar da desonra que vossos
algozes vos infligem com os seus insultos? Ouço-Vos responder-me: Suporta por
meu amor os desprezos, assim como eu os suportei por teu amor. Sim, Redentor
meu, quero obedecer-Vos. Ó Jesus, desprezado por minha causa, aceito e desejo
ser desprezado por vossa causa, quanto Vos agradar. Dai-me, porém, a graça para
Vos ser fiel. Fazei-o pelas dores da vossa e minha querida Mãe Maria. (I 608.)
1.
Mat. 26, 63
2. Mat. 26, 65
3. Mat. 26, 67
Meditações:
Para todos os Dias e Festas do Ano:
Tomo I – Santo Afonso
http://catolicosribeiraopreto.com/jesus-e-apresentado-aos-pontifices-e-por-eles-condenado-a-morte/
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