Ecce rex tuus venit tibi mansuetus,
sedens super asinam et pullum filium subiugalis — “Eis que o teu Rei aí vem a ti cheio de
mansidão, montado sobre uma jumenta e um jumentinho, filho do que está sob o
jugo” (Matth. 21, 5).
Sumário. Imaginemos
ver Jesus na sua entrada triunfal em Jerusalém. O povo em júbilo lhe vai ao
encontro, estende seus
mantos na estrada e juncam-na de ramos de árvores. Ah! Quem teria
dito então que o Senhor, acolhido agora com tão grande honra, dentro em poucos
dias teria de passar ali como réu, condenado à morte? Mas é assim: O mundo muda
num instante o Hosanna em Crucifige. E
não obstante isso somos tão insensatos, que por um aplauso, por um nada nos
expomos ao perigo de perdermos para sempre a alma, o paraíso de Deus.
I.
Estando próximo o tempo da Paixão, o nosso Redentor parte de Betânia para fazer
a sua entrada em Jerusalém. Contemplemos a humildade de Jesus Cristo, que,
sendo o Rei do céu, quer entrar naquela cidade montado numa jumenta. — Ó
Jerusalém, eis que o teu rei aí vem humilde e manso. Não temas que Ele venha
para reinar sobre ti ou apossar-se das tuas riquezas; porquanto vem a ti cheio
de amor e piedade para te salvar e dar-te a vida pela sua morte.
Entretanto
os habitantes da cidade, que, havia já tempos, O veneravam por causa de seus
milagres, foram-Lhe ao encontro. Uns estendem os seus mantos na estrada por
onde passa, outros juncam o caminho, em honra de Jesus, com ramos de árvores. —
Oh! Quem teria dito que o mesmo Senhor, acolhido agora com tanta demonstração
de veneração, havia de passar por ali dentro em poucos dias como réu condenado
à morte, com a cruz aos ombros!?
Meu
amado Jesus, quisestes fazer a vossa entrada tão gloriosa, a fim de que a vossa
paixão e morte fosse tanto mais ignominiosa, quanto maior foi a honra então
recebida. A cidade, ingrata, em poucos dias trocará os louvores que agora Vos
tributa, por injúrias e maldições. Hoje cantam: “Glória a vós, Filho de Davi; sêde
sempre bendito, porque vindes para nosso bem em nome do senhor.” E
depois levantarão a voz bradando: Tolle, tolle, crucifige eum (1) — “Tira, tira, crucifica-O”. — Hoje tiram os próprios vestidos; então tirarão
os vossos, para Vos açoitar e crucificar. Hoje cortam ramos e estendem-nos
debaixo de vossos pés; então tomarão ramos de espinheiro, para Vos ferir a
cabeça. Hoje bendizem-Vos, e depois hão de cumular-Vos de contumélias e
blasfêmias. — Eia, minha alma, chega-te a Jesus e dize-Lhe com afeto e
gratidão: Bendictus,
qui venit in nomine Domine (2) — “Bendito o que vem em nome do Senhor”.
II.
Refere depois o Evangelista, que Jesus chegando perto da infeliz cidade de
Jerusalém, ao vê-la, chorou sobre ela, pensando na sua ingratidão e próxima
ruína. — Ah, meu Senhor, chorastes então sobre Jerusalém, mas chorastes também
sobre a minha ingratidão e perdição; chorastes ao ver a ruína que eu a mim
mesmo causava, expulsando-Vos de minha alma e obrigando-Vos a condenar-me ao
inferno. Peço-Vos, deixai que eu chore, pois que a mim compete chorar ao
lembrar-me da injúria que Vos fiz ofendendo-Vos. Pai Eterno, pelas lágrimas que
vosso Filho então derramou por mim, dai-me a dor de meus pecados, já que os
detesto mais que qualquer outro mal e resolvido estou a amar-Vos para o futuro,
de todo o coração.
Depois
que Jesus entrou em Jerusalém, e se fatigou o dia todo na pregação e na cura de
enfermos, quando chegou a noite, não houve quem o convidasse a descansar em sua
casa; pelo que se viu obrigado a voltar para Betânia. — Santa Teresa
considerando certa vez num Domingo de Ramos, naquela descortesia para com o seu
divino Esposo, convidou-O humildemente a vir hospedar-se no seu pobre peito.
Agradou-se o Senhor tanto do convite de sua esposa predileta, que, ao receber a
sagrada Hóstia, afigurava-se à Santa que tinha a boca cheia de sangue vivo e ao
mesmo tempo gozava uma doçura paradisíaca.
Também
tu, meu irmão, dirige a Jesus, especialmente quando te aproximas da santa
comunhão, o convite que venha hospedar-se em tua alma, a fim de não sofrer
mais. — E agora roga a Deus que, “tendo Ele feito Nosso Senhor tomar carne e
sofrer a morte de cruz, para dar ao gênero humano um exemplo de humildade para
imitar, te conceda a graça de aproveitar os documentos de sua paciência e de
alcançar a glória da ressurreição” (3). — Recomenda-te também à intercessão da
Virgem Maria. (*I 601)
1.
Io. 19, 5.
2. Math. 21, 9.
3. Or. Dom.
curr.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Santo Afonso
http://catolicosribeiraopreto.com/domingo-de-ramos-jesus-faz-a-sua-entrada-triunfal-em-jerusalem/
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