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Cristãos devem guardar o sábado ou o domingo? Um estudo integral


JÁ FALAMOS SOBRE este assunto de forma breve aqui em "O Fiel Católico", com apontamento de referências bíblicas e históricas (leia), mas parece não ter sido o suficiente, na medida em que temos recebido, quase que diariamente, uma quantidade considerável de mensagens indignadas a respeito, acusando a Igreja de ter mudado o Mandamento divino sobre o dia do descanso e de adoração a Deus e outras coisas semelhantes a esta. Retomamos portanto ao problema, desta vez de maneira completa e definitiva.



Introdução

A controvérsia acerca do dia de guarda é antiga, e nasceu na própria Igreja primitiva. Ao longo da história, grupos e indivíduos que se autodenominam "cristãos" têm observado dois dias diferentes para dedicar a Deus, ao repouso, à oração e meditação. De um lado, a maioria observa com sinceridade o domingo, primeiro dia da semana, como memorial da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

De outro lado há grupos (principalmente novos protestantes e de novas seitas judaizantes) que creem, muitas vezes também com sinceridade, que devem honrar e guardar apenas o sétimo dia como o "Sábado do Senhor", assim como era nos tempos do Antigo Testamento (AT). O principal argumento deste último grupo é o seguinte: quando Deus deu ao seu povo os Dez Mandamentos, também deixou claro que eram ordens perpétuas, as quais ninguém jamais poderia mudar. Ainda que o católico argumente que a antiga ordem das coisas se passou, e que vivemos agora a nova e eterna Aliança em Cristo, na qual a Lei foi consumada, os sabatistas insistem em dizer que foram revogados apenas os antigos preceitos e costumes judaicos, mas não a Lei imutável de Deus, que não poderá nunca ser abolida por instituição humana alguma.

Para início dessa conversa, cabe ressaltar que há um lado irônico na situação: é o fato de que nós, católicos, concordamos em que a Lei de Deus não poderia ser abolida ou mudada por nenhum ser humano. Antes de abordar a questão em si – na sua essência e nos seus detalhes – importa dizer que o que nos difere fundamentalmente é que cremos na Igreja enquanto Corpo de Cristo e, portanto, continuidade histórica de Cristo no mundo (conf. 1Cor 12,12-13.27; Cl 1,18; Ef 1,22-23; Gl 3,26-28; Rm 12,4-5). Enquanto católicos, vemos e cremos na Igreja como coluna e sustentáculo da Verdade para os cristãos (conf. 1Tm 3,15) e, sendo assim, a única autoridade verdadeiramente capaz de nos apontar o verdadeiro Caminho que conduz a Cristo, ou que, antes, é o próprio Cristo.

Ironia ainda maior é saber que aqueles que nos condenam acreditam-se apoiados e confirmados pelas Sagradas Escrituras, que abundantemente confirmam a fé católica. Como disse o ex-pastor protestante Marcus Grodi, em seu artigo "Os versículos que eu nunca vi – quando era protestante":

Umas das experiências mais comuns entre protestantes que se convertem ao Catolicismo é a descoberta de versículos que para eles parecem ‘inéditos’. Mesmo depois de anos de estudo, sermões e ensino da Bíblia, algumas vezes do Gênesis ao Apocalipse, repentinamente um versículo ‘inédito’ aparece como que por mágica, mudando toda a nossa vida; (...) parece que um católico entrou sorrateiramente em nossas casas e alterou a Bíblia!

Como visto, desde os tempos apostólicos houve certa controvérsia no seio da Igreja antiga sobre quais normas dadas por Deus no AT os irmãos em Cristo deveriam continuar observando e quais não. A questão torna-se ainda mais grave pelo fato de que os novos adeptos gentios (oriundos do paganismo) eram evangelizados sem que fossem obrigados às antigas observâncias mosaicas. Logo os primeiros conflitos tornaram-se inevitáveis, obrigando os Apóstolos a se reunir em Jerusalém para tratar essa questão (conf. At 15).

Dentro desse contexto específico, qual deveria ser o dia de adoração a Deus? O sábado, conforme fora transmitido por Moisés e os Profetas, ou o domingo, o Dia da Ressurreição do Senhor e da instauração dos novos tempos, nos quais Deus fez "novas todas as coisas" (conf. Ap 3,15)?


A Instituição do Dia de Repouso e de Adoração

Sabemos que, no AT, santificou o SENHOR o sábado como seu dia de adoração. Mas à nova geração, à qual foi confiada a nova Lei, "não com tinta mas com o Espírito do Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos, e é por intermédio de Cristo que temos tamanha confiança em Deus" (2Cor 3,3-4), cabe o  privilégio e também o dever de ir além da observância mecânica e procurar compreender mais perfeitamente a Vontade de Deus para nós, seres humanos feitos à sua imagem e semelhança.

Qual será então, segundo os textos sagrados da Bíblia e conforme nos esclarece a santa Igreja – que é o Corpo de Cristo, Mãe e Mestra, Coluna e Fundamento da Verdade – o motivo do Mandamento divino? Não é difícil entender que, para encontrar esta resposta, devemos antes saber responder bem a outras duas perguntas:

1) Por que Deus instituiu um dia para o descanso e para o seu culto?

2) Por que o shabath (sábado) foi escolhido para ser este dia?


1) Por que Deus instituiu um dia para descanso e para o seu culto?

A clara resposta para a primeira pergunta encontramos no quinto capítulo do Livro do Deuteronômio, onde lemos: 

Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu SENHOR te tirou. É por isso que o SENHOR, teu Deus, te ordenou observasses o dia do sábado.
(Dt 5,15)

Vemos como a observância do dia de culto de adoração está relacionada à libertação dada por Deus ao povo hebreu quando o livrou do cativeiro no Egito. O SENHOR manifesta-se como Libertador do seu povo eleito, com Poder e Glória, sinais e maravilhas, o envio de pragas (conf. Ex 8;9; 10;11) e a abertura do Mar Vermelho (conf. Ex 14,21-31) contra o jugo do poderoso Faraó. Deus Libertador guia seu povo à Terra Prometida.

Indo além, sabemos que a libertação da escravidão do Egito é o prenúncio da Libertação que o Cristo posteriormente promoverá da escravidão maior e geral do Pecado, conduzindo-nos à Jerusalém Celeste (conf. Hb 11,16; 12,22-24. Jo 14,1-3).



2) Por que o shabath (sábado) foi escolhido para ser este dia?

A resposta à segunda pergunta encontramos no livro do Êxodo:

Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que contêm, e repousou no sétimo dia; e por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o consagrou.
(Ex 20,11; cf. Gn 2,3)

Por esta razão, no dia da libertação o homem também deveria libertar-se do trabalho secular (cf. Am 8,5; Ex 34,21; 35,3; Ez 22,8; Jr 17,19-27; Dt 5,12-14); no dia em que Deus manifestou o seu amor pelo seu povo, também o povo manifestaria seu amor para com Ele (Lv 23,3; Lv 24,8; 1Cr 9,32; Nm 28,9-10; Is 1,12s), como nos recordam as palavras de S. João: “Nós o amamos, porque Deus nos amou primeiro” (1 Jo 4,19).

Diante do que foi exposto até aqui, podemos definitivamente identificar a dupla raiz da instituição do dia de repouso e adoração:

a) Porque é o dia da libertação do povo de Deus da escravidão no Egito (conf. Dt 5,15);

b) Porque é o dia da plenitude da Criação (conf. Ex 20,11); pois o próprio SENHOR cessou o seu Trabalho (a Criação) no sétimo dia, terminado no sexto dia.

Ainda que Deus evidentemente não "se canse", caso contrário não seria Deus, o "descanso" ou "repouso" de Deus refere-se à cessação do seu divino Trabalho. A palavra "Shabath", sábado (do hebraico שבת, 'shabāt'; 'shabos' ou 'shabes') significa exatamente "cessão" ou "cessação", com o sentido de "término de um período ou de uma atividade". Por isso, o Sétimo Dia também é o dia da Plenitude da Criação, em certo sentido mais perfeitamente que "o dia do 'descanso' de Deus".


Jesus, o Sábado e o Domingo

'Rabi, por que permitis que teus discípulos trabalhem no sábado?' (Lc 6)

Com o passar do tempo, os judeus deturparam a observância do sábado santo, assim como a de outros preceitos divinos. Esqueceram-se das raízes espirituais desta divina observância, prendendo-se apenas à letra da Lei.

Na época de Jesus, os doutores da Lei dispendiam longas e elaborados debates sobre os muitos preceitos que regulavam o descanso sabático. Listam-se 39 tipos de trabalho que eram proibidos aos judeus nesse dia. Entre estes, ficaram registrados nos Evangelhos o de colher espigas (conf. Mt 12,2) e o de carregar fardos (conf. Jo 5,10), entre outros. Os doentes só podiam ser atendidos num sábado em perigo iminente de morte, motivo pelo qual se opuseram ao Cristo, que curava aos sábados (cf. Mt 12,9-13; Mc 3,1-5; Lc 6,6-10; 13,10-17; 14,1-6; Jo 5,1-16; 9,14-16).


Mais importante que a Lei

O Senhor Jesus Cristo, contra os fariseus, afirmou com total clareza: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Por isso, declarou-se "Senhor do Sábado" (Mc 2,28) e, assim como acontece hoje com a Igreja que é seu Corpo, foi incriminado pelos doutores da Lei (Jo 5,9), ao que respondeu que nada fazia além de imitar o Pai, que, mesmo tendo cessado a Criação do Universo, continuou a governá-lo, e também aos homens (Jo 5,17).

Neste momento Jesus explicitamente abolia a observância do sábado. Os sabatistas contra-argumentam dizendo que Jesus estava resgatando o espiritual e real sentido do Mandamento divino. Sim, o verdadeiro sentido precisava ser recuperado. Entretanto, os sabatistas enganam-se em pensar que a observância do dia de repouso e adoração estaria para sempre fixada no dia do sábado. Se, em razão das passagens bíblicas já citadas, o sábado em específico tivesse que ser guardado perpetuamente, significaria que toda Lei Levítica (com a circuncisão, a Páscoa judaica, o antigo sacerdócio, etc) também seria perpétua.

Um claro exemplo dessa incoerência encontramos no livro de Êxodo 12,14, onde está declarado que a Páscoa dos judeus, que celebrava igualmente a libertação do Egito, teria que ser observada “por suas gerações” e “para sempre”, exatamente do mesmo modo como é dito sobre o sábado. Também a oferta do incenso segundo as regras do AT é dita "perpétua" (Ex 29,42), assim como a lavagem ritual e específica de mãos e pés (Ex 30,21). Se aceitam que tudo isso não é parte da Nova Aliança, porque a obsessão com o dia do sábado?

Todavia, quando as Escrituras afirmam o sábado como "perpétuo", não se referem à fixação específica do sétimo dia, mas ao acordo de fidelidade de Deus para com a humanidade. E o próprio Deus, através dos Profetas do AT, anuncia que seu novo Acordo se dará de uma forma nova:

Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá, não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, esse meu pacto que eles invalidaram, apesar de Eu os haver desposado. Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: Porei a minha Lei no seu interior, e a inscreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
(Jr 31,31-34)

O pacto da Antiga Aliança seria –, como de fato foi –, substituído por um novo, sendo que o primeiro foi apenas uma figura do segundo, que é eterno (conf. Hb 9). Neste novo pacto, o SENHOR instituiu um novo dia para a sua adoração, pois em um novo dia Ele salvou o seu povo, de uma vez para sempre, conforme profetizou Oseias:

Farei em favor dela [sua nova nação, a Igreja], naquele dia, uma aliança (...). Então te desposarei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com misericórdia e amor. Desposar-te-ei com fidelidade, e tu conhecerás o SENHOR.
(Os 2,20-22)

O Senhor Jesus aboliu a observância do sábado após cumprir o anúncio dos Profetas, morrendo na Cruz e ressuscitando no primeiro dia da semana: o domingo. Tal fato é citado muitas vezes e com clareza na Bíblia, como ainda veremos, e também na documentação histórica que nos chega sobre os usos e costumes da Igreja primitiva.

Se na Antiga Aliança o sábado foi estabelecido como o dia de adoração porque foi o dia da libertação do cativeiro e o dia da plenitude da Criação, na Nova e Eterna Aliança o domingo é estabelecido como novo dia de adoração pelas mesmas razões: é o dia em que o SENHOR nos salvou do cativeiro do Pecado e o dia em que, ressurgindo da mansão dos mortos, cessou o trabalho em sua nova Criação (a natureza humana incorruptível). Desta forma, o domingo também é, porém de maneira mais perfeita, o Dia da Libertação e da plenitude da Criação.

Uma das provas bíblicas deste fato é a Carta aos Hebreus, que acentua a índole figurativa do sábado, afirmando que o repouso do sétimo dia era a imagem do verdadeiro repouso de que desfrutaremos na Presença de Deus (conf. Hb 4,3-11). No sábado estava a figura (prenúncio); no domingo está a concretização do Plano de Deus. Nesta perspectiva, o Domingo é o Sábado eterno.


O claro testemunho da Bíblia Sagrada


Jesus aparece pela primeira vez aos Apóstolos no domingo, dia da Ressurreição. Escreveu o Salmista: “A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se cabeça da esquina. Foi o Senhor que fez isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos. Este é o dia que fez o Senhor; rejubilemo-nos e alegremo-nos nele”(Sl 118,22-24). Ora, Jesus se tornou Pedra Angular no dia em que ressuscitou: o dia da Ressurreição é “o Dia que o Senhor fez para nós”.

Conforme o Profeta Jeremias, em seu novo pacto o Senhor promete escrever a sua Lei no interior e no coração dos homens. Conforme Oseias, no dia em que isto acontecer, os homens O conhecerão. Ora, isto se cumpre exatamente também no domingo, quando o Espírito Santo é dado aos Apóstolos (conf. Jo 20,19-23; At 2,1-4); pois é o Espírito Santo Quem nos convence da Vontade de Deus.

A segunda aparição do Senhor aos discípulos não é num sábado, mas no Domingo, o novo “dia que o Senhor fez para nós” (conf. Jo 20,26), dia em que Tomé adora a Jesus como Deus (conf. Jo 20,29): temos aqui, em determinado sentido, a primeira adoração cristã a Deus, e ocorre no domingo.

Ainda que os primeiros cristãos guardassem o sábado, o culto cristão por excelência aconteceu desde sempre no domingo (conf. At 20,7; 1Cor 16,2). Absurdamente, os sabatistas alegam que a “Ceia do Senhor” não era uma reunião de culto(!), quando a Primeira Carta de S. Paulo aos Coríntios mostra com nitidez que a reunião da “Ceia do Senhor” era a reunião de culto maior dos cristãos, como se verifica nos capítulos de 11 a 16.

No entanto, é verdade que desde o início muitos foram tentados a "judaizar" o cristianismo, pela observância das prescrições da Lei Mosaica. A comunidade dos gálatas é exemplo disso, e por causa disso S. Paulo dirigiu-lhes uma epístola para tratar tal questão, na qual não poderia ter sido mais claro e incisivo:

Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi apresentada a imagem de Jesus Cristo crucificado? Apenas isto quero saber de vós: recebestes o Espírito pelas práticas da Lei ou pela aceitação da fé? Sois assim tão levianos? Depois de terdes começado pelo Espírito, quereis agora acabar pela carne?
(Gl 3,1-3)

Se porém alguém ainda duvidar que S. Paulo se referisse inclusive à observância do sábado, neste trecho veja o que escreveu aos colossenses:

Que ninguém vos critique por questões de comida ou bebida, pelas festas, luas novas OU SÁBADOSTudo isso nada mais é que uma sombra do que haveria de vir, pois a realidade é Cristo
(Cl 2,16-17)

S. Paulo Apóstolo confirma, mais uma vez e de maneira totalmente objetiva, que o Antigo Testamento (e faz questão de incluir a observância do sábado) foi como "uma sombra" em vista do Novo, o qual o substituiu no cumprimento da Morte e Ressurreição do Senhor Jesus Cristo (o que inclui, na prática comum da Igreja, o domingo como Dia do Senhor).


* * *
“Jesus lhes propôs: ‘Qual de vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair em um buraco, não fará todo o esforço para retirá-la de lá?’” (Mt 12,11)

Sim, poderíamos com muita tranquilidade encerrar este estudo por aqui. Tudo já foi dito, confirmado e provado, biblicamente e teologicamente. Mas há muitas outras confirmações bíblicas – das quais tanto fazem questão os protestantes, judaizantes ou não – de que o domingo é o Dia do Senhor, e fazemos questão de apresentá-las para que esta abordagem fique completa, como sempre foi o estilo d"O Fiel Católico".

Ocorre que no Livro do Apocalipse (1,10) S. João escreve: “Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e ouvi, por trás de mim, voz forte como de trombeta”. Este trecho insuspeito, que aos olhos desavisados pode parecer secundário, é de fundamental importância para se resolver de uma vez por todas a questão, porque a expressão inicial, que comumente traduzida em português para “num domingo”, no original grego diz literalmente: “TE KURIAKÉ HÉMERÀ”, que significa “No Dia do Senhor”1.

Contamos com pelo menos três testemunhos patrísticos dos primeiros dois séculos que atestam a relação entre o primeiro dia da semana e o "Dia do Senhor" aí referido: a Didaché (14,1), documento que é anterior a alguns livros do Novo Testamento da Bíblia (leia); a referida Epístola aos Magnésios (9,1) de Sto. Inácio e o Evangelho de S. Pedro (35 e 50).

Aí está, judaizantes, a Bíblia Sagrada, simples e diretamente, afirmando com todas as letras que o Domingo é o Dia do Senhor.


Conclusão

Embora muitos não imaginem, a tendência atual das novas seitas ditas "cristãs" em voltar a guardar o sábado deriva do pensamento da fundadora do Adventismo do Sétimo Dia, a Sra. Ellen G. White, que afirmava em seus escritos que a instituição do domingo como dia do Senhor era uma "invenção do Papado", e que quem observasse este dia como Dia do Senhor receberia a marca da Besta. Por esta razão, alguns adventistas (acreditando mais na senhora White do que na Bíblia, nos Profetas, nos Apóstolos, nos cristãos dos primeiros séculos e no próprio Cristo) têm procurado fundamentar tal afirmação pesquisando desesperadamente aonde teria o Papado feito tal instituição... O melhor que fizeram até agora foi afirmar que o Papado substituiu o Dia do Senhor de sábado para domingo durante o Concílio de Laodicéia na Frígia, realizado no ano 360.

O que não querem enxergar é que o Concílio de Laodiceia apenas confirmou a doutrina apostólica da observância do domingo contra os cristãos judaizantes. Na realidade este Concílio não foi Geral, mas Local, e por essa razão não envolveu o Bispo de Roma e nem tinha o poder de alcançar a Igreja inteira espalhada pelo mundo.

Devemos lembrar, isto sim, o que é fato concreto: que os decretos contra os cristãos judaizantes foram instituídos pelos Apóstolos durante o Concílio de Jerusalém (cf. At 15). Conforme já exposto, tais decretos não favoreciam a observância do Sábado como Dia do Senhor. Os Bispos de Jerusalém sempre foram fiéis a esses decretos, conforme podemos observar no testemunho de S. Cirilo, Bispo de Jerusalém (313 - 386dC):

Não cedas de forma alguma ao partido dos samaritanos ou aos judaizantes: por Jesus Cristo de agora em diante foste resgatado. Mantenha-te afastado de toda observância de sábados, sobre o que comer ou como te purificar. Abomina especialmente todas as assembleias dos perversos heréticos.
(S. Cirilo de Jerusalém. Carta 4, 37)

Aí estão apresentados e contemplados os fatos, caríssimo leitor. Há inúmeros outros documentos historiográficos antigos atestando a celebração cristã por excelência e o dia de guarda dos cristãos no domingo; alguns deles constam do nosso primeiro estudo (leia), outros ainda podem ser encontrados mediante pesquisa. Não os acrescentaremos a este estudo para que não se torne longo por demais.

A decisão, entretanto e como sempre, ficará por sua conta: entre optar pela opinião de Ellen White e das novas comunidades protestantes ou pelo testemunho dos Profetas, dos santos Apóstolos, dos primeiros cristãos e de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só você pode decidir.
http://www.ofielcatolico.com.br/2007/03/cristaos-devem-guardar-o-sabado-ou-o.html
___________
1. Pode ser comprovado no website de estudos protestantes 'BibliaHub' (em inglês) de tradução fiel direta do original em grego, que traz 'On the Lord’s day (No dia do Senhor) I was in the Spirit...'. Vide:
biblehub.com/bsb/revelation/1.htm.
___________
Fontes e referências:
• LIMA, Alessandro. Apostolado Veritatis Splendor: Dia do SENHOR: ságado ou domingo?. Disponível em veritatis.com.br/article/3948.
Acesso 16/3/2017.
• BAUER. Johannes B. Dicionário bíblico-teológico, São Paulo: Loyola, 1994, pp.110-111.
• BOGAERT, Pierre-Maurice et al. Dicionário enciclopédico da Bíblia, São Paulo: Loyola, Paulinas, Paulus, Academia Cristã. Verbete 'Domingo'.

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